O atacante Osvaldo, do Vitória, deu um susto na torcida na última segunda-feira, 16, ao ser internado em um hospital de Salvador com o diagnóstico de tromboembolismo pulmonar. Horas depois, ele usou as redes sociais para dizer que está bem, mas o período de recuperação deve deixar o atleta fora de campo pelos próximos meses.
Diante da situação, o ge entrou em contato com um médico especializado em embolia pulmonar e com o Departamento Médico do Vitória para entender o que aconteceu com o atacante rubro-negro.
Início do problema
Tudo começou quando Osvaldo sofreu uma pancada na perna em um dos treinos do Vitória. Sem maiores complicações, ele viajou com o grupo para Goiânia, onde o time enfrentou o Atlético-GO, pelo Campeonato Brasileiro, no último sábado. Em razão do incômodo no tornozelo, o atacante não chegou a entrar em campo.
Contudo, Osvaldo sentiu um desconforto no tórax na viagem de retorno do Vitória, após jogo contra o Atlético-GO. Sem melhora nas horas seguintes, o jogador foi levado para um hospital e passou por exames de imagem que mostraram um pequeno coágulo no pulmão.
“Ele não se queixava de nada que indicava que tinha um coágulo de trombose na perna antes do evento. A gente acredita que, como o trombo foi agudo, que aconteceu na viagem, no retorno dele para Salvador” explica Marcelo Cortes, médico do Vitória.
O que é tromboembolismo pulmonar
Após exames, Osvaldo foi diagnosticado com tromboembolismo pulmonar. Neste caso, “trombo” significa coágulo, sangue coagulado. Já “embolia” é uma espécie de corpo estranho que se movimenta pelo sangue. A junção dos conceitos, o tromboembolismo, significa que um coágulo se deslocou para um lugar indesejado; no caso do atacante, o pulmão.
“Geralmente, a tromboembolia pulmonar acontece em decorrência do deslocamento de um trombo, um coágulo, oriundo dos membros inferiores. Muitas vezes por trauma, cirurgia, imobilização, esse trombo, coágulo, viaja pelos vasos dos membros inferiores até encontrar o pulmão. E ali ele dá os sintomas mais intensos e perigosos – relata Almério Machado, médico especialista.
O que desencadeou
Os médicos ouvidos pelo ge relatam que a viagem de avião do Vitória para Salvador deve ter desencadeado o estado de Osvaldo, que já se recuperava de uma pancada na perna.
“Um dos fatores de risco para a tromboembolia pulmonar é viagem de avião, sobretudo as que duram mais de quatro horas. Outro fator de risco é o trauma e imobilização do membro. Acho que estávamos diante de dois fatores de risco simultâneos. O trauma recente no membro inferior e a viagem de avião. Não sei o tempo de viagem. De qualquer maneira, se já existe um risco e você sobrepõe outro, você aumenta muito as chances de fazer um evento trombótico no membro inferior, seguido posteriormente de um embolismo pulmonar”, explica Almério Machado.
Marcelo Cortez, médico do Vitória, afirma que não é possível determinar se o trombo foi formado antes ou depois da partida contra o Atlético-GO. Ele conta que, se a situação tivesse acontecido antes do jogo e o atacante entrasse em campo, ele poderia ter um “desfecho desfavorável”.
“Não temos como dizer quando o trombo foi formado, se foi antes, durante ou depois do jogo. A queixa dele foi no retorno, na hora que entrou no ônibus. Se ele tivesse trombo formado antes da partida, se tivesse entrado em campo, teria sim algum desfecho mais desfavorável. Mas não temos como garantir. Conversei com o angiologista que fez o exame, que disse que o trombo foi agudo. Se for agudo, tem pouco tempo. Quando avaliei o atleta, ainda na emergência, ele não tinha edema no membro inferior, que é o quadro característico com dor. Ele não tinha quadro muito sugestivo de trombose”, finalizou.
Durante a recuperação, Osvaldo vai tomar uma medicação anticoagulante, o que impossibilita a prática de atividades físicas de alto impacto durante o período.
“O anticoagulante diminui a coagulação. Torna o sangue, usando uma palavra que o leigo conhece mais, como mais ralo, mais fino. Então, se você sofrer um corte, vai sangrar mais e por mais tempo. Imagine um trauma em um membro no tórax, no crânio. O sangramento vai ser prolongado. Todo mundo que se corta, faz um cascão e para o sangramento. Isso vai demorar muito de acorrer em um indivíduo coagulado”, explica Almério Machado.
Almério Machado esclarece que a chance de plena recuperação é muito alta. Por outro lado, a tendência é que o atacante perca o restante temporada, já que ele vai precisar de, pelo menos, três meses para voltar a praticar atividades físicas mais intensas.
“Hoje em dia o tratamento é muito efetivo. A chance de um indivíduo se recuperar é altíssima, de mais de 95%. A chance dele ficar com sequela é extremamente baixa”.
Marcelo Cortes, médico do Vitória, evitou cravar o tempo de retorno do jogador aos gramados, mas projeta que o período não deve ser curto nestes casos.
“Essa conversa com os médicos que estão acompanhando vamos ter agora de tarde para saber de todos os prazos. Mas, em tese, o tratamento exige uma medicação que afina o sangue, digamos assim, a grosso modo. É o anticoagulante. E como o futebol é um esporte de alto impacto, que pode causar sangramento e hematoma grande… Enquanto o hematoma for no músculo, a gente pode lidar. Mas se for na cabeça pode causar alterações mais perigosas. Em tese, durante anticoagulação plena o atleta não pode executar nenhum treinamento, nem esporte de impacto como futebol”.
Cuidados necessários
A pedido do ge, Almério Machado elencou os fatores de risco e os cuidados necessários que as pessoas podem ter para evitar um quadro semelhante ao do atacante do Vitória.
“As pessoas comuns, que não têm fatores de risco, como trauma, uso de hormônio, história de trombose anterior, câncer, têm baixa chance de fazer trombose. Na maioria das vezes, não precisa de maiores cuidados”.
“De qualquer maneira, a gente recomenda que os indivíduos mais velhos ou que tenham sobrepeso ou que tenham varizes que façam algum exercício durante esses voos prolongados. É andar, mobilizar as panturrilhas para lá e para cá. Isso, pelo menos a cada duas, três horas, é o suficiente. Indivíduos que já tiveram várias trombose devem ser anticoagulados por tempo prolongado. Para as pessoas “normais” não existem recomendações especiais para voos”, finalizou.