Ruas do centro de Santaluz, na região sisaleira da Bahia, foram palco de uma cena que mistura tradição, fé e resiliência. Um grupo de fiéis da Paróquia Santa Luzia transformou a esperança em ação, saindo em caminhada devocional para pedir a intercessão de São José, o santo reconhecido por trazer alívio em tempos difíceis. O ato penitente aconteceu na última terça-feira, 23.
A seca, que não é novidade, tem mostrado sua força novamente. Há meses, a estiagem castiga a região, comprometendo a agricultura, a criação de animais e tornando o acesso dos moradores à água um desafio diário. No último dia 18 de outubro, a prefeitura decretou mais uma vez situação de emergência válida por 180 dias. Mas, para quem participou da caminhada, o maior recurso não está nos decretos ou nas previsões do tempo, mas na fé.
Com cânticos e orações, os fiéis seguiram pelas ruas até um barreiro de água. Lá, o padre Gildvan de Oliveira conduziu um ato litúrgico, que foi mais que um ritual; foi um chamado à reflexão. “Eu acredito que a fé tudo pode. Deus tudo pode. Mas o que assistimos no mundo – a seca, as guerras, a miséria – são muitas vezes fruto da nossa própria intervenção, do nosso mal agir. Tiramos Deus do centro da nossa existência para nos colocarmos em Seu lugar. Ainda assim, acredito que Deus tem a última palavra. A fé pode fortalecer a comunidade diante dos desafios causados pela própria humanidade”, disse o padre ao Notícias de Santaluz.
O tom de voz do religioso é de quem fala com o coração aberto, mas também com os pés no chão da realidade. Entre suas reflexões, ele relembrou momentos que comprovaram, segundo ele, o poder da devoção a São José. “Ano passado, em Salgadália, em um tempo de seca como esse, fizemos uma procissão com a imagem de São José até um tanque. Foi um momento muito bonito de oração, semelhante ao que vivemos aqui em Santaluz. Colocamos a imagem na água, rezamos. Para muitos, aquilo parecia ridículo. Mas não demorou dois dias e a chuva caiu. Não pela nossa força, mas pela intervenção de Deus. São José está próximo de Deus e pode interceder, sim, pela chuva na terra.”
A mensagem final do padre é um convite à esperança, especialmente para agricultores e moradores de Santaluz. “Não percamos a fé, não percamos a esperança, porque nós temos um porto seguro, nós temos um direcionamento, nós temos alguém para nos lançar. E esse alguém é o próprio Deus, que tudo pode.”
Enquanto a seca persiste, o povo de Santaluz segue caminhando, movido por uma fé que resiste até ao solo rachado. No espírito do Natal, tempo de esperança e renovação, eles continuam acreditando que a chuva, mesmo tardando, chegará. É essa força silenciosa e poderosa que os mantém firmes. Afinal, como dizem, a água sustenta a vida, mas é a fé que verdadeiramente alimenta a alma.
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CN | Fonte: Notícias de Santaluz