Um assunto que se arrasta há décadas na região sisaleira e todo semiárido baiano sem nenhuma solução concreta voltou a ser debatido durante um seminário no auditório do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da Agricultura Familiar – SINTRAF numa parceria como o Sindicato Rural Patronal, os constantes prejuízos sofridos por criadores de caprinos e ovinos, tendo os animais mortos por ataques de cães que quase sempre não são identificados os donos.

O evento iniciou com a formação de mesa que contou com a presença de Cláudio Resedá (presidente do Sindicato Rural), Maria Eliana (presidente do SINTRAF), Urbano do Sindicato (vereador), Ronaldo Mascarenhas (delegado do Sindicato dos Agentes de Endemias), Roneria de Oliveira (Sindicato dos Agentes de Saúde), Rafael Mota (Câmara Setorial do Sisal), Renato Souza (Secretário da Agricultura de Coité), Silvio Pinto (representando o Banco do Nordeste), Guene do Contador (prefeito de Retirolândia), Evanilson (APRES), Lans Almeida (Superintendente da BahiaTer/Governo do Estado), Jussara Matos (médica veterinária).

Foi concedido um tempo para cada componente da mesa para explanação sobre a atual realidade que vive os produtores rurais, de modo especial, os criadores de caprinos e ovinos e foi dito tudo que já se sabe, porém, aguardam uma posição dos poderes públicos que nunca demonstraram o interesse direto pela causa, seja o Governo municipal ou estadual. Enquanto isso, frequentemente surgem imagens em fotos e vídeos de criadores lamentando perdas de 7, 8, 12, 15 cabeças de uma só vez, em consequência de ataques de cães, cujos donos nunca são identificados.

O semblante de cada participante era de muita tristeza, muitos lamentaram o fato de se dirigirem até a Delegacia para prestarem queixa e não conseguirem registrar o Boletim de Ocorrência pelo fato do queixoso não saber a quem pertence o cachorro.
Várias sugestões foram apresentadas para tentar encontrar uma solução, tipo castração dos animais, mas os especialistas disseram que é uma medida importante, mas é de longo prazo. Adauto Mota que é um dos mais tradicionais criadores de Coité e região disse que participa de todas as audiências e seminários sobre o tema, mas não passa de conversa, “o que o criador quer, é a solução, e a gente não ver assim tão fácil porque depende de toda uma burocracia, tem que atender uma legislação, o governo deve fazer sua parte e não vejo fazer”, disse Mota.

Ele afirmou também que outro gargalho está na questão dos defensores dos animais, “eles defendem os cachorros, mas não defendem os rebanhos, então para o produtor hoje, eu só vejo uma solução; criar o pastor maremano que é um cão de guarda, ele é criado junto ao rebanho e protege realmente as criações. Tenho um casal há três anos e não tive mais nenhum caso de ataque, antes do casal de pastor maremano perdi muitos animais”, relatou Adauto.
O vereador Professor Robenilton (PSB) disse que se aprofundou sobre o pastor maremano e entende que é a melhor solução. Segundo ele, muitos produtores já adquiriram essa raça que convive em harmonia dentro do rebanho.

Na condição de professor de história, trouxe a tona uma informação de que desde a primeira emancipação de Conceição do Coité no fim do século 18, há cerca de 140 anos, que foi criada uma lei com punição para os donos de cachorros e até mesmo sacrificar o animal, caso o mesmo ‘comesse as ovelhas’, Ele ressaltou que hoje existe uma lei de proteção animal que vem sendo respeita e que se deve encontrar uma solução para que os criadores vivam sem prejuízos.

Gildevan Muniz de Oliveira é produtor rural no vizinho município de Teofilândia, disse que tinha 50 cabeças de ovinos e caprinos, está atualmente com 11, ou seja, perdeu 39, as últimas 8 no mês de dezembro. Ele alertou que, da maneira que está, se não for encontrada uma solução, os criadores vão desistir e os que resistirem, quando uniformizarem os animais, o valor da carne vai ficar muito alto.

Silvio Andrade agente de Desenvolvimento do Banco do Nordeste alertou para outro gravíssimo problema, a falta de animais para o abate que já está sendo sentido no Frigbahia no município de Pintadas, no território da Bacia do Jacuípe, tendo uma grande estrutura, um dos maiores da Bahia, vive a escassez para o abate por falta de animais na região. Disse que vai levar as discussões para o Banco do Nordeste para começar a financiar a estruturação das propriedades que criam caprinos e ovinos, “e uma das formas de evitar o ataque é você ter uma estrutura que evitem que os animais que estão do lado de fora entrem para atacar a criação, podendo ser uma cerca elétrica, um curral bem feito, então uma das soluções que o Banco do Nordeste pode atuar é justamente no investimento do agricultor para que ele tenha uma infraestrutura que impossibilite o acesso ao rebanho”, finalizou Andrade.

O vereador Urbano do Sindicato (PT) avaliou como bastante positivo este seminário, com participação expressiva dos criadores, sociedade civil organizada, poderes públicos e sociedade em geral. “Um debate propositivo e muito rico, e principalmente, com a responsabilidade e seriedade que merece o tema. Os criadores de caprinos e ovinos pedem socorro e hoje, neste seminário, deixaram seu recado: não suportam mais a situação e exigem soluções efetivas para o problema na região. Nosso mandato vai continuar firme com o compromisso de defender essa pauta”, disse o vereador sindicalista.
Veja o video sobre o Pastor Maremano