O coração até bombeia o sangue, mas é o rim quem dá as ordens quando o assunto é pressão arterial. E, se ele falha, o resto do corpo sente. A hipertensão arterial, quando negligenciada, pode causar danos irreversíveis aos rins e levar à necessidade de diálise.
Segundo a nefrologista Ana Flávia Moura, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia Regional da Bahia (SBN-BA), o problema é que essa conexão ainda é pouco conhecida. “A hipertensão arterial é uma das doenças mais prevalentes no mundo e é a principal causa de doença renal crônica. E, nesses casos, quando o rim para de funcionar, não há cura — só tratamento para o resto da vida”, aponta.
Ana Flávia explica que, ao contrário do que muita gente imagina, é o rim quem regula a pressão arterial. “O coração bombeia, mas quem regula a pressão arterial, controlando sua elevação ou redução, são os rins. Ele faz isso por meio do controle do sódio e do volume de líquidos no corpo. Se o rim não está funcionando bem, esse sistema entra em colapso. O fato é que a hipertensão arterial pode ser causa ou consequência da doença renal crônica”, ressalta.
Os rins contam com sensores que detectam se a pressão precisa ser aumentada ou reduzida, de acordo com o que está acontecendo no organismo. Com base nesses sinais, o rim aciona mecanismos que ajudam a manter a pressão dentro de um padrão saudável. Quando há perda da função renal, esse sistema de compensação deixa de funcionar — e a pressão arterial tende a permanecer alta de forma constante.
“O paciente com DRC acaba tendo maior dificuldade em controlar a pressão arterial, porque ele perde esse mecanismo de controle feito pelos rins. A gente acaba, normalmente, tendo que usar mais medicamentos e intensificar as estratégias para controlar a pressão”, destaca Ana Flávia.
O cenário da Doença Renal Crônica na Bahia acende um alerta. Os dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) mostram que 3.826 novos pacientes iniciaram diálise pelo SUS em 2024. Atualmente, 9.841 pessoas no estado estão em hemodiálise, e 215, em diálise peritoneal.
“A hipertensão é silenciosa, mas destrutiva. Quando associada à perda da função renal, ela fica ainda mais difícil de controlar. É uma das principais causas de morte no país, porque eleva o risco de infarto, AVC, insuficiência cardíaca e, claro, falência renal avançada”, reforça Ana Flávia.
Combate à hipertensão
Em 26 de abril, é celebrado o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, que serve como um chamado de atenção para os perigos da doença e seus impactos em todo o organismo — especialmente, nos rins.
Os sinais de que a hipertensão está afetando os rins são, na maioria das vezes, discretos. Entre eles, destacam-se a urina espumosa ou com alteração no volume, Inchaço nos pés, tornozelos ou rosto pela manhã, cansaço exagerado e sem explicação, Dificuldade de concentração e sonolência, e oscilações frequentes na pressão arterial.
“É por isso que muita gente só descobre o problema quando já precisa fazer hemodiálise. Nesse ponto, já houve uma perda significativa da função renal”, alerta a especialista, que recomenda que todos os adultos hipertensos façam ao menos uma avaliação da função renal por ano.
Além disso, é fundamental adotar medidas preventivas no dia a dia, como diminuir o consumo de sal, praticar exercícios regularmente, evitar o uso de anti-inflamatórios sem prescrição, controlar o peso corporal, monitorar a pressão arterial e manter acompanhamento médico constante.
Fonte: Correio