Cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, fizeram um maior estudo já registrado sobre a relação entre as diferentes intensidades das atividades e a melhora do condicionamento físico, com mais de 2 mil participantes. Os resultados foram publicados no periódico científico European Heart Journal.
Uma das principais revelações é a de que os exercícios intensos, como corridas, podem trazer benefícios até 3 vezes maiores para o condicionamento físico de uma pessoa, quando comparados com atividades leves, como caminhadas. Se forem comparadas atividades mais intensas com pequenas reduções no sedentarismo do dia-a-dia, como levantar para mudar o canal da TV ou pegar escadas em vez de elevador, o benefício chega a ser 14 vezes maior.
Os participantes da pesquisa foram submetidos ao teste cardiopulmonar de exercício, o TCPE, considerado o padrão ouro para avaliações de atividades físicas. O exame mede índices como o consumo de oxigênio pelo organismo, a produção de gás carbônico e algumas outras variáveis de um teste de exercício físico convencional.
Baseado em estudos anteriores, a pesquisa adotou o consumo de oxigênio durante atividade física ou descanso como principal parâmetro para avaliar o condicionamento dos participantes. Quanto maior o consumo durante o pico de esforço, mais condicionada é a pessoa.
A análise dos dados do TCPE permite avaliar o funcionamento dos sistemas cardiovascular, respiratório, muscular e metabólico. O teste consiste em monitorar uma pessoa em situações de repouso, exercício leve, pico de esforço e recuperação. Na semana anterior à realização do teste, os participantes tiveram de prender na cintura um equipamento chamado acelerômetro para medir a frequência e a intensidade dos movimentos naquele período.
Eles só puderam tirar o aparelho para dormir ou tomar banho. Os 2.070 participantes foram testados duas vezes em um intervalo médio de 8 anos.
Depois de analisarem os dados, os pesquisadores observaram que aumentar em 17 minutos o tempo diário de exercícios intensos, acrescentar 4.312 passos na rotina diária ou ainda reduzir em 249 minutos o tempo diário de sedentarismo resultou numa melhora de 5% no consumo de oxigênio durante o pico de esforço na média dos participantes.
Os resultados variaram um pouco de acordo com o sexo, idade, índice de massa corporal e doenças cardiovasculares dos participantes – essas recomendações valem para a maior parte das pessoas.
A média de idade dos participantes foi de 54 anos, sendo que 51% eram mulheres. O grupo pesquisado teve uma média diária de quase 8.000 passos, 13 horas e meia de sedentarismo e 22 minutos de atividade física intensa. O estudo adotou definições de outros trabalhos científicos para estabelecer o que seria uma atividade física intensa.
O critério adotado por esses trabalhos foi o número de passos dados por minuto. Caminhar ou correr em uma taxa de pelo menos 130 passos por minuto foi considerado um exercício intenso. Um ritmo entre 100 e 129 passos por minuto representaria uma atividade moderada e quem andasse de 60 a 99 passos por minuto estaria praticando uma atividade leve.
Seguindo essa lógica, atingir aqueles 10.000 passos distribuídos ao longo do dia recomendados por aqueles aplicativos de vida saudável ainda seria considerado uma atividade leve. Vale lembrar que a pesquisa só analisou o impacto dos exercícios no condicionamento físico e não na saúde em geral, ou seja, não foram levados em conta os benefícios da atividade física na prevenção e controle de doenças cardiovasculares ou diabetes, por exemplo. Mas não dá para deixar de mencionar que o condicionamento físico tem uma grande influência na saúde e está associado a um risco menor de doenças cardiovasculares.
A segunda descoberta do estudo é que as pessoas que mantiveram um número de passos maior do que a média ou praticaram exercícios intensos em curtos períodos do dia alcançaram o condicionamento físico também acima da média – independentemente de quanto tempo ficaram sentados no dia e em todos os gêneros, faixas etárias e condições de saúde.
O professor de cardiologia, Matthew Mayer, que liderou a pesquisa, diz que as atividades físicas leves são importantes especialmente para pessoas mais velhas ou que tenham condições médicas que impeçam a realização de atividades mais intensas. Não é porque as caminhadas leves não produzem o mesmo resultado que os exercícios intensos que elas devem ser deixadas de lado.
Outro dado interessante do estudo é que o consumo de oxigênio no pico de esforço das pessoas que apresentaram altos índices de atividade intensa no primeiro teste e baixos índices no segundo não apresentaram diferenças significativas. O mesmo ocorreu em casos inversos. Isso sugere, segundo os cientistas, que a exposição cumulativa a exercícios pode estar relacionada a benefícios de longo prazo no preparo físico.
Por: Carmen Comunicação