O município de Valente, localizado no território do sisal, parou nesta segunda-feira, 21 de abril, feriado nacional de Tiradentes, para celebrar uma data histórica: o centenário de vida de João José de Oliveira, carinhosamente conhecido como “Nenenzinho”, figura marcante na história política, econômica e social da cidade.

As comemorações começaram pela manhã com uma missa em ação de graças na Igreja Matriz, reunindo familiares, amigos, autoridades e membros da comunidade local. A cerimônia religiosa foi marcada por emoção, gratidão pela vida de Nenenzinho e pesar pela morte do líder maior da Igreja Católica, o Papa Francisco.

A celebração foi presidida pelo padre Gugu e a igreja ficou completamente lotada por familiares e amigos de Valente e de cidades vizinhas. Nenenzinho permaneceu em local de destaque ao lado de sua inseparável esposa, Dona Mariá Cedraz de Oliveira, com quem compartilha uma longa história de amor e companheirismo. Na primeira fila estavam seus filhos: Aroldo Cedraz de Oliveira, Zenóbio, Gildo, Eduardo, Maria José e Zélia.

Aroldo, filho mais velho do casal, é Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e bastante conhecido por sua trajetória como deputado federal por vários mandatos, além de ex-secretário da Indústria e Comércio do Estado da Bahia. Em seu discurso, Aroldo expressou a alegria pela celebração dos 100 anos de seu pai, mas também lamentou, em nome da comunidade católica valentense, a perda do Papa Francisco.

“Lembramos do trabalho realizado pelo pontífice em favor dos cristãos de todo o mundo. Em um mundo cheio de guerras, ele deixa um legado de humildade e compromisso com a paz. Deus saberá cuidar de forma muito especial da sua alma e do seu legado”, afirmou Cedraz.

Emocionado, Aroldo também falou sobre a trajetória de seu pai, nascido em Valente, onde viveu de forma simples, enfrentando momentos de fome, desnutrição e falta de assistência. Mesmo assim, nunca se deixou abater. “A cada receita manipulada, a cada gesto solidário, ele refletia o amor de Cristo pelos doentes. Sua capacidade de sonhar foi decisiva para abrir novos horizontes que impulsionaram o desenvolvimento de Valente. Fundou a primeira farmácia, implantou postos de combustíveis, comércio de peças e eletrodomésticos, investiu na agricultura do sisal, na gestão de recursos hídricos e na criação de animais de elite, sendo reconhecido nacionalmente”, completou.
Zenóbio Cedraz também usou o microfone para agradecer a presença de todos na celebração. Destacou que seu pai é um homem diferenciado, “enviado por Deus há um século”. Com visão estratégica nos negócios, sempre manteve padrão de qualidade em tudo o que fez. Fez questão de ler uma longa lista com realizações de Nenenzinho: cantor, escritor, poeta, seresteiro e oficial de farmácia. Embora tenha exercido dois mandatos como prefeito de Valente e atuado como vereador no então distrito representado na Câmara de Conceição do Coité, Zenóbio pontuou que a carreira política foi apenas uma entre as diversas funções exercidas com excelência.

Sobre as inúmeras conquistas e reconhecimentos de Nenenzinho, Zenóbio reconheceu que seria impossível listar todas sem cansar o leitor.
Ver essa foto no Instagram

O vice-prefeito Dica do Posto participou da missa representando o prefeito Ubaldino Amaral, que está em viagem. “É um prazer imenso participar desse momento marcante. Seu Nenenzinho é um homem íntegro, trabalhador, honesto e deixa um grande legado para Valente. Trabalhou muito por nossa terra e merece todas as homenagens”, disse Dica.

Sobre o extenso currículo lido por Zenóbio, Dica comentou: “Foi tudo aquilo, e é muito possível que ainda tenha esquecido de algo mais.”
Parte festiva aconteceu em restaurante
Após a missa, os convidados seguiram para um restaurante localizado às margens da BA-120, na saída para Retirolândia. Em um ambiente decorado com carinho e memórias, foi servido um almoço especial. Durante o evento, Nenenzinho recebeu felicitações de familiares, amigos e lideranças locais, sempre ao lado de sua esposa Mariá Cedraz.

O centenário de João José de Oliveira celebra mais que longevidade — exalta o legado de um homem cuja história se entrelaça com a de Valente. Um exemplo de dignidade, sabedoria e amor à terra natal.

Depoimentos
O médico Luiz Delfino, diretor da Clínica Sagrada Família (CLISF) em Valente, também esteve presente. Emocionado, disse que todas as homenagens são merecidas. “Há 64 anos, ele fez o meu parto. Vim ao mundo pelas mãos de Seu Nenenzinho e com Dona Mariá ao lado como enfermeira. É só gratidão que sinto nesse momento.”

Dr. Luiz lembrou ainda que sua mãe, Joanita Mota Araújo Lopes, falecida aos 99 anos, foi colega de escola de Nenenzinho. “Sinto a presença dela aqui hoje”, disse.

O ex-prefeito de Conceição do Coité, Éwerton Rios d’Araújo Filho, o popular Vertinho, afirmou que Nenenzinho é uma verdadeira enciclopédia viva. “Preparado, dinâmico, organizado e sério.” Vertinho compartilhou uma história curiosa: “Um dia ele me convidou para conversar, mas eu estava ocupado e recusei. Dois dias depois, ele me mandou uma moldura com a frase: ‘Ainda não encontrei a maneira difícil de acertar, mas encontrei a maneira fácil de fracassar: tentar agradar a todos.’

Lembrou também que Nenenzinho perdeu as três primeiras disputas para prefeito de Valente e costumava dizer que não morreria sem ser prefeito. Quando finalmente venceu, um repórter perguntou se agora ele poderia morrer feliz. Ele respondeu: “Não, ainda preciso derrotar Reinaldo.” E conseguiu, vencendo seu histórico adversário político em 2000.
Gicélio Almeida Santos, o popular Fio, de 56 anos, teve apenas um patrão em toda a vida: Nenenzinho. Começou aos 10 anos, acompanhando-o nas viagens para as fazendas. Com o tempo, aprendeu a dirigir com ele e tornou-se motorista particular e do gabinete, quando foi prefeito.

Fio disse que tudo o que aprendeu com Nenenzinho foi positivo. “Não sei dizer nada de ruim. Um homem sincero com todos, e sua maior virtude é a honestidade.” Lembrou ainda do vigor físico do patrão, que viajava com frequência ao Maranhão até os 95 anos, e percorria as fazendas montado em burro.
Embora diagnosticado com Alzheimer, Nenenzinho ainda tem momentos de lucidez. “À tarde, ele costuma chamar os filhos pelos nomes e nunca esquece de mim. Me chama de Fio, sempre”, contou o motorista.
📚 Legado registrado
O Calila Notícias, em seus quase 19 anos de existência, já publicou diversas reportagens sobre a trajetória de Nenenzinho. Leitor assíduo do portal, especialmente quando ainda viajava ao Maranhão, dominava bem o computador e acessava frequentemente as notícias.

A equipe do site teve a oportunidade de cobrir o lançamento de seu primeiro livro, em uma solenidade no extinto Clube Espanhol, em Salvador — mais um marco na rica história desse valente cidadão chamado João José de Oliveira.