“Nos tempos de eu menino” (obrigado Manuel Bandeira) aprendi as medidas de grandeza: hora, quilo, metro, etc. As grandezas, no caso, são tempo, peso e distância.
Pois pois, dias desses, não é que um Senador, que não é Cícero, deu um novo emprego para as medidas de grandeza. Disse o ilustre Congressista que a sua tolerância mede dois palmos.
Conceitualmente, a tolerância é a capacidade de aceitar e conviver com algo. Logo, é possível sua mensuração. Mas, medi-la logo com o palmo! Afinal o palmo é a distância entre os dedos polegar e mindinho de uma mão aberta.
De forma consciente ou não, o Senador nos ofereceu duas interessantes imagens . Primeiro: uma mão aberta. “A mão que toca um violão, se for preciso, faz a guerra” (obrigado Marcos e Paulo Sérgio Vale. A segunda: a tolerância, que é uma atitude, contida em uma mão.
De antanho (não confundir com os tempos de Antônio), vem a lição de que uma mão lava a outra e que duas juntas, lavam um rosto. Na trilha do que disse o Senador, então, o tamanho de sua tolerância e onde ela é guardada, dá apenas para uma lavagem, no máximo de um rosto, ou cara.
Ao longo de nossa história, a tolerância sempre coube em palmos. Só que ela já fora contida em sete palmos de terra, coisa de quem não tinha o riso frouxo, como dizia o Cel. Ramiro Bastos (valeu Jorge Amado).
Riso frouxo não é o que falta a essa gente de que ora falamos. Eles riem as pampas. Seu problema não está nas arcadas, mas em suas mãos, pois sequer se dão ao trabalho de ir ao terceiro palmo para esgotar sua tolerância. E pensar que tal revelação foi feita em um parlamento, que por natureza deve ser o palco do diálogo!
Logo, na Casa da soberania popular há pouco espaço para o exercício do contraditório, que é a essência da democracia. Nesse quadro, ela jaz moribunda, condenada a ser uma alma penada, vigiando um cadáver quase insepulto.
Como perguntar não ofende: que diferença há dos tempos de Antônio? Apenas um verniz. E aí então, diante desta sua grandeza, Senador, por certo lhe perguntaria Cícero: Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia \nostra?
MARIO LIMA
ADVOGADO E PROCURADOR DO ESTADO DA BAHIA