Os irmãos Herlane de Souza Honorato, 37, e Herlean de Souza Honorato, 35 anos, portadores de distrofia muscular, uma das doenças genéticas nas quais os músculos que controlam o movimento enfraquecem progressivamente e no caso deles, tipo cintura (Erb), que é caracterizada por fraqueza predominantemente na cintura pélvica e escapular, é o verdadeiro exemplo de superação. Eles são sócios de uma indústria de sofá na cidade de Capim Grosso, na Bahia.
Eles começaram a trabalhar, no caso de Herlean, ainda menor e Herlane, sempre se posicionou na condução dos negócios. A primeira atividade empresarial foi na linha de crediário e, sem a distrofia muscular aflorar, viajavam pelo interior do estado vendendo de porta em porta produtos relacionados a cama, mesa e banho.
Visando ampliar os negócios, em 2011, continuaram com os crediários, porém mudaram os produtos e começaram a vender estantes, guarda-roupas, cama box e resolveram produzir sofá. “Começamos a produzir, pois queríamos desenvolver um produto de melhor qualidade”, falou Leo, como é conhecido Herlean de Souza.
Eles vendem os seus produtos em até dez vezes e os créditos são aprovados por eles sem consulta a Serasa ou outro tipo de consulta. “Nossa liberação de crédito é baseado na informação do vizinho. Vizinho sabe de tudo”, brincou Leo.
A indústria L&V gera diretamente na produção 11 empregos e mais 40 no crediário, motorista, vendedores, cobradores, chefe de equipe e utiliza quatro caminhões para distribuir os produtos. A empresa atua em mais da metade dos municípios do estado.
Leo disse que toca a empresa com facilidade, mesmo se locomovendo em uma cadeira de roda elétrica e conta com a presença de um amigo durante todo o dia que lhe ajuda nos serviços essenciais, desde das necessidades básicas as empresariais, ou seja, algo parecido com o filme “os intocáveis” que conta a história e um aristocrata que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico e precisa de um assistente que se afeiçoa cada vez mais e não o trata como um pobre coitado. Ele contou que a distrofia muscular começou em 2000 e 2008 passou a usar a cadeira de roda, já que antes, usava um “andador”.
Segundo Herlane de Souza, conhecido por Lano, seu espírito empreendedor começou em 1997 e foram muitos os desafios e as dificuldades. Lembrou que em 1996 foi a São Paulo tentar a sorte, não deu certo, voltou e começaram viajar em um veículo tipo Marajó cedido pelo pai Antonio Honorato para vender crediário.
Depois compraram outra Marajó e trinta dias depois o dono apareceu, pois existia um problema entre a pessoa que vendeu e o dono cujo nome estava no documento do carro, mas tudo foi resolvido, pois já estava com DUT do veículo assinado. Comparam em seguida uma caminhonete D10 e 15 depois foi roubada, isso em 1999. Um tio vendeu a eles uma F-1000 que um primo capotou e depois de reformada foi roubada. Uma moto foi roubada por um vendedor, “enfim, tudo isso em menos de dois anos”, contou Lano.
Sua visão empresarial tem feito com que aconteça cursos de capacitação da equipe, a exemplo deste, cujo funcionários aparecem na foto ao lado de Lano e da esposa Viviane. Este curso foi proferido pelo consultor e economista Fabrício Andrade.
Fabrício, que também presta serviço ao SEBRAE, disse ao CN que não conhece nenhum exemplo de superação. “São verdadeiras histórias de vidas”, falou Fabrício.
“Também quando começou dar certo, as coisas andaram”, comemorou. Lano, como forma de aumentar os negócios, cursou faculdade de administração e contratou um curso de gestão financeira para aprimorar os trabalhos, fazer estudo de rota e diminuir a inadimplência, criando um sistema próprio de aprovação de crédito. “Minha dificuldade é apenas de locomoção” falou Lano.
Outros casos na família – Além dos irmãos, a mãe deles, Marinalva de Souza, 62 anos, também sofre do problema e tudo começou quando teve a última filha, hoje com 33 anos. “Tenho duas irmãs no Ceará e uma no Rio de Janeiro que sofre o mesmo problema” contou Marivalda.
Helide de Souza Honorato, 34 anos, irmã de Leo e Lano, contou que vem perdendo as forças e sabe que vai para cadeira de roda. Ele disse que vem tendo dificuldade com os movimentos, mas tem esperança, pois está inscrita no Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade Federal de São Paulo e deve ser cobaia para o teste da célula tronco. Ela disse ao CN que existem em todo Brasil um mil pessoas sofrendo desse mal. Embora apareça na foto de pé, ela garante que não sai do local se não tiver duas pessoas para lhe ajudar.
Este problema é causado pela ausência de uma proteína essencial para os músculos. Sem essa proteína, o músculo vai degenerando progressivamente. A ausência dessa proteína é causada por um gene defeituoso, embora o problema também possa surgir a partir de uma mutação genética – sem necessidade, portanto, da hereditariedade.
Assista os depoimentos de Leo e Lano aqui na TV Calila