Desde o final das eleições 2014 que muitos cidadãos, grupos organizados e partidos políticos pedem o afastamento da presidente Dilma mediante processo de impeachment. Eu fico extasiada toda vez que vejo um líder partidário escrever frases de efeito nas redes sociais ou gravar vídeos bradando “Fora, Dilma!”. Não que não tenham esse direito. Tem! (bendita liberdade de expressão) Mas falta responsabilidade, né? E falta, acima de tudo, esclarecer às pessoas que curtem e compartilham esse tipo de informação quais as verdadeiras motivações que levam esse ou aquele grupo político a chancelar essas ideias. (mas, anotem a regra: dificilmente os motivos que levam um político a se manifestar contraria ou favoravelmente a algo serão os mesmos motivos que levam VC a ter a mesma opinião)
Alguns partidos políticos vêm manifestando apoio explícito ao impeachment de Dilma. Outros, caso do PSDB, iniciaram trabalham nos bastidores: incitando a população que adere a esse tipo de ideia, mas se escondendo quando se trata de declarar o apoio publicamente. Vão jogando! Na medida em que a população ganha cada vez mais as ruas, eles vão financiando grupos da sociedade civil (tipo o PT faz, sabe?), vão plantando notícias, e colaborando com o sangramento ininterrupto de Dilma. Assim fica fácil, ao se posicionar – posteriormente – colocar sua decisão sob a responsabilidade dos “anseios populares”. (anseios esses conduzidos previamente e manipulados próprio partido)
Não estou criticando quem corrobora a tese do impeachment.
Estou apenas levantando duas questões iniciais: 1. não se deixar conduzir por qualquer que seja o grupo partidário, sempre priorizando ouvir os dois lados e formar sua própria opinião; 2. a irresponsabilidade de grupos políticos que possuem extremo conhecimento jurídico e administrativo e que, por conveniência, apoiam medidas incapazes de solucionar os problemas – e, no caso do impeachment, de caráter jurídico duvidoso.
No PSDB, o presidente nacional da legenda vinha se posicionando favoravelmente ao impeachment e alguns parlamentares o apoiavam (acreditando muito mais na força das urnas e no levante de uma parcela da população, do que em tratados de Direito Público). Após o racha público – com as manifestações de José Serra e Fernando Henrique Cardoso dando conta de que o pedido não tinha cabimento jurídico e que não comungariam ao desatino aecista – o ex-presidenciável voltou atrás.
Inicialmente, Aécio postergou a decisão sobre pedir o impeachment de Dilma Rousseff para o início de maio. O tucano foi pressionado por correligionários que queriam a imediata apresentação do pedido de impeachment da presidente. Alguns veículos de comunicação creditam a Aécio os super poderes de ter convencido a bancada a “pensar melhor” e aguardar a articulação com outros partidos. Por essa versão (divulgada, inclusive, pela Folha de São Paulo), Aécio é o “sensato” que espera os melhores momentos e “convence” os demais a aguardar o momento certo. Mas não é bem assim. Aécio viu que seu posicionamento radical e panfletário não encontrava guarida entre os mais experientes do partido, como FHC, Aloysio Nunes e José Serra. Assim, deu uma recuada estratégica e, argumentando aos demais parlamentares que faziam coro às suas ideias, conseguiu ganhar mais tempo (até hoje, prazo para o partido formular um posicionamento em consenso).
Na última quarta-feira, com a clara divisão no PSDB, ele adiou a decisão para o final de maio, dia 20. A falta de consenso no PSDB é um sintoma claro de que não há indícios legais suficientes para formular o pedido de impeachment. Mas, assim como a população que toma as ruas, uma parcela do partido acredita que conseguirá articular forças políticas para a medida. O que, em nosso entendimento, é uma gravíssima afronta à Democracia.
Não se pede o afastamento de uma presidente por indícios de envolvimento, sem provas ou por mero capricho político.
Notem que nem falo em “afastar a presidente”, mas em “pedir o afastamento”. O simples pedido ou manifestação pública de apoio a uma tese que não coaduna com os valores de uma Democracia já é um grave ato de um partido político. É preciso respeitar as regras do jogo.
Para adiar a decisão, Aécio usou como argumento as novas investigações e documentos sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas – que coloca Dilma como personagem fundamental das investigações.
Aécio vai se reunir com Miguel Reale Júnior – ex-ministro – para discutir o parecer jurídico que está sendo elaborado para dar base ao pedido de impeachment. Insistente, e decidido a convencer a parcela da cúpula do partido (mais racional, experiente, democrática e sensata), Aécio acredita que o parecer dará substrato para o pedido de perda do cargo de Dilma. Ele também conta com convencer outros partidos – já simpáticos à ideia – a se unir na sua empreitada.
Se tivesse despendido tanta força, empenho e energia (que está despendendo para fazer Dilma sangrar), articulando no Senado, realizando militância de verdade, percorrendo o Brasil nos últimos 10 anos, não compondo com o PT em seu estado, fortalecendo as bases do partido, organizando a juventude partidária, ouvindo os movimentos sociais, não silenciando diante do cenário político, se colocando diante da agenda nacional… ou seja, fazendo política de verdade e trabalhando, não estaria (porque não precisaria), em pleno 2015, tentando ganhar no “tapetão”.
Daniele Barreto é advogada, consultora política e escreve no blog www.danielebarreto.com.br