Suspeito de participar de um esquema de fraudes no pagamento de prêmios de loterias da Caixa Econômica Federal, o ex-jogador Edílson da Silva Ferreira, o Edílson Capetinha, 44 anos, foi fotografado e filmado pela Polícia Federal (PF) durante um encontro com membros da organização criminosa no aeroporto de Salvador, há cerca de nove meses. Quem garante é o procurador da República Hélio Telho Corrêa Filho, do Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO), que pediu a prisão do empresário e ex-jogador da Seleção Brasileira.
Segundo as investigações da Polícia Federal, que na quinta-feira deflagrou a Operação Desventura na Bahia e em mais cinco estados, o ex-atleta teria tentado cooptar pelo menos dois gerentes da Caixa. Ainda segundo Telho, o pedido de prisão foi feito com base em escutas telefônicas e nas imagens que comprovam a ligação de Edílson com os outros integrantes do esquema. “Ele (Capetinha) tentou aliciar gerentes. Existem ligações telefônicas dele com integrantes da quadrilha que foram gravadas com autorização da Justiça. A PF também acompanhou e fez fotos e filmagens de uma reunião que aconteceu entre o final do ano passado e o início deste ano no aeroporto de Salvador em que ele conversava com membros da organização criminosa”, comentou Telho, em entrevista ao CORREIO, ontem. Segundo ele, esses indícios levaram a promotoria a acreditar que Edílson teria uma participação no esquema, ainda que “em menor importância”.
Negado
Apesar do pedido de prisão, o titular da 11ª Vara Criminal da Justiça Federal de Goiás, juiz Leão Aparecido Alves, negou a prisão temporária para Capetinha. De acordo com a decisão do magistrado, a solicitação do MPF-GO foi indeferida porque “o suposto gerente”, citado por Telho, “não foi identificado nem vinculado a um dos gerentes referidos na presente representação (do MPF-GO)”. “Assim, não existem elementos para a prisão temporária, mas, sim por ora, para a condução coercitiva”, diz a decisão. Ou seja, Edílson só poderia ser conduzido para prestar esclarecimentos sobre as suspeitas de participação no golpe, que teria desviado, durante cerca de um ano, R$ 60 milhões, e depois liberado. Na representação, o MPF-GO apontou que o ex-atleta teria tentado cooptar o gerente da sua conta bancária a participar do esquema fraudulento.
defesa
A reportagem tentou contato com o ex-jogador, que também atuou pelos times do Bahia e do Vitória, durante todo o dia de ontem, mas não obteve êxito. A defesa de Edílson também não respondeu às ligações. Em entrevista ao programa Bahia Meio Dia, da TV Bahia, o ex-craque da Seleção voltou a negar as acusações.
“As ligações que eu tenho para o meu gerente são normais, como qualquer correntista liga para um gerente de banco para saber como está a conta. Minhas contas estão aí. Está tudo liberado, pode observar. Meu gerente está aí, à disposição, para mostrar também como está a minha conta”, declarou.
Edílson se mostrou preocupado com a repercussão das denúncias. “Eu quero ajudar a resolver isso aí porque, para mim, é ruim, é prejudicial. Eu perco muita coisa com esse tipo de noticiário, perco patrocinador, perco evento e acaba com um desgaste familiar. As pessoas que me conhecem sabem que eu não sou de fazer nada errado”, declarou o hoje empresário.
Três poderes
Ainda de acordo com Hélio Telho, a quadrilha era dividida em três escalões e também atuava em outros esquemas de fraude. “O grupo possuía dois líderes que atuavam em Brasília. Eles faziam parte do primeiro escalão. O outro era o escalão superior, composto por gerentes. Já o último era o escalão inferior, pessoas que tinham menor relevância no grupo”, afirmou o procurador, citando o caso de Edílson. “Eram os que cooptavam”, pontuou.
Ainda conforme Telho, o grupo também “fraudava registros de gravames de veículos e desviava cartões bancários antes que chegassem nas casas dos donos”. Ele diz que a PF ainda investiga se o ex-jogador tinha participação nesses outros esquemas.
Em Salvador, três pessoas foram presas durante a operação da Polícia Federal. Saulo Santos de Oliveira, Leonardo Rego Santos e Eduardo Pereira dos Santos (ver ao lado), que se apresentou como primo do ex-jogador. Eles foram levados para a Cadeia Pública, no Complexo da Mata Escura, onde permanecem à disposição da Justiça Federal.
Ainda em entrevista ao Bahia Meio Dia, Edílson negou que Eduardo seja seu primo. “Meu primo, não. Eduardo fazia assessoria para mim há dois anos. Tem muito tempo que não nos falamos, não temos contato”, disse. Para Edílson, ligações telefônicas feitas com o ex-assessor podem ser o motivo de estar na mira da PF. Ele prometeu colaborar com as investigações. “Estou tranquilo, consciente. Quero colaborar com tudo. Pode vir aqui conferir a casa, carro, o que quiser”, disse. “Eu sou um pentacampeão mundial. O dinheiro que eu ganhei foi o dinheiro com futebol. Nunca bebi, nunca usei drogas, nunca fiz nada, nunca mexi com coisa errada e não é agora que eu vou fazer isso”, concluiu.
Fonte: Correio24horas