Há uma crise de participação e uma pretensão dos que participam, no sentido de achar que existe uma forma única, uma etiqueta própria para quem quer participar.
Não é difícil perceber que os lugares mais difíceis de se exercer a democracia muitas vezes são exatamente os lugares onde mais se prega democracia. Isto não deve servir para dar vez ao neoconservadorismo, muito menos à oposição golpista, mas se o movimento social e os grupos mais à esquerda não fizerem uma autocrítica urgente, a tendência é serem aos poucos substituídos por grupos e movimentos que pendem para a direita, mantendo um verniz de participação social.
Ao que tudo indica, a nova juventude desconhece a luta pela redemocratização do Brasil e parece ensaiar uma espécie de reação ou insatisfação contra o governo democrático, mas só o fazem porque realmente há um cenário político adoecido, coisa que o governo mesmo não costuma negar, nem está completamente sob seu controle, mas essa juventude atual não é informada quanto a isso. É levada pelo falso moralismo de líderes oposicionistas, de longe ou de perto.
Os poucos estudantes que se interessam em ler a realidade têm feito ainda uma leitura profundamente influenciada pelos telejornais mais conhecidos e por familiares adultos que, uma vez atingidos no bolso por dificuldades econômicas, desandam a desqualificar o governo, como se ele fosse culpado até pelo que foge à sua alçada.
Quando isso acontece, os que se acham engajados, os que adotam a etiqueta da participação social de modelo único, andando para aqui e para acolá, feito super-heróis remunerados, acostumados ao jargão típico do meio, começam também a pré-julgar, a dividir, a reagir às provocações idiotas de redes sociais e quem não o faz de maneira sistemática é visto meio assim, como se não defendesse a causa, como se não se pudesse defendê-la sem a mesma etiqueta, com outro jogo de palavras.
Aparentemente nossos militantes mais reativos desconhecem a sabedoria popular segundo a qual “quem quer pegar passarinho não diz xô!” Trata-se da arte da conquista que ainda é frágil nos ambientes mais engajados.
A ocasião é difícil e o enfrentamento há que ser criativo. Caso contrário, tende a não lograr êxito. É hora de conquistar a juventude para a consolidação do Brasil como país democrático, em cada município onde essa juventude parece mover-se ao sabor do vento ou submeter-se às mobilizações clichês puxadas por instituições que, no fim das contas, são pouco democráticas também. São instâncias partidárias fragilizadas por disputas internas, divididas em pequenas facções onde não faltam desentendimentos, mas faltam filiados participantes que foram embora, cansados de muito vento e pouca chuva. São conselhos municipais e pastorais sociais esvaziados, limitados, desmotivados etc.
A saída para superar esta crise de participação juvenil e popular pode ser o estudo coletivo da conjuntura, sem bandeira única, sem maquiagem e sem meias palavras; o compartilhamento respeitoso de ideias, opiniões, muito além das camisas institucionais que todos vestem e que, no fim das contas, dividem, afastam.
Fora da abertura irrestrita de mente e de coração, o que temos é somente gente falando pelos cotovelos para sua própria gente, de forma passional, quase fanática, sem conquistar mais ninguém.