Se todos os países estivessem em uma sala de aula, não seria difícil identificar o Brasil. Como um retrato daquele aluno até esforçado, mas pouco produtivo, o país gasta mais do Produto Interno Bruto (PIB) com educação do que os países mais ricos, mas, ao contrário deles, não consegue atingir bons resultados, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na liderança dos países que possuem melhor relação entre gastos públicos e bons resultados nos rankings de educação, estão os países asiáticos, como Coreia do Sul, China, Japão, Cingapura e Taiwan. Esses seriam os nerds, estariam sentados na frente da sala de aula e obteriam as notas mais altas.
O Brasil investe 5,7% do PIB em educação, acima da média de 5% dos países mais desenvolvidos do mundo. Porém, segundo especialistas apesar do alto investimento quando considerados todos os gastos públicos do país, o Brasil não consegue distribuir o dinheiro de forma eficiente para garantir uma boa educação aos brasileiros, nem para tornar a economia mais eficiente.
Segundo relatório da OCDE, o PIB do país poderia crescer até 7 vezes o valor atual se garantisse educação básica para todas os adolescentes até 15 anos. Em 2030, PIB anual do Brasil seria 16,1% superior ao atual, que é de R$ 5,521 trilhões. No acumulado até 2095, o estudo apontou que haveria um crescimento de US$ 23 trilhões, o que representa um aumento de 751% em relação ao PIB 2014.
Para projetar o salto na economia, a OCDE, que reúne as economias mais desenvolvidas do planeta, avaliou o desempenho dos estudantes brasileiros através dos testes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o raciocínio lógico em matemática e ciências. O resultado foi catastrófico. O Brasil ficou em 60º lugar entre os 76 países pesquisados.
A relação entre o investimento do PIB em educação, a qualidade dos gastos e o resultado no crescimento do PIB pode ser medida através da competitividade de cada país. O mau desempenho em administrar os gastos públicos e na pouca eficiência da gestão de negócios e no desenvolvimento da inovação deixa o país na rabeira dos países mais competitivos.
“Quanto melhor a educação, maior será a produtividade, maior será o domínio da técnica, melhor será a performance na empresa, pois esse profissional poderá transformar problemas em soluções. Isso está atrelado ao conhecimento que ele tem, que ele construiu desde a educação básica, no ensino médio até sua formação”, defende o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Luís Breda Mascarenhas.
O modelo voltado mais para a priorização do ensino superior e menos para a educação básica garante as baixas notas nesses índices. “O nosso desafio é qualitativo e distributivo. Uma boa parte dos recursos é investido no ensino superior, o que produz um modelo histórico colonial, onde uma minoria tem acesso a educação de qualidade e a minoria da educação básica recebe poucos recursos”, afirma Arruda.
Quando considerados todos os gastos públicos do Brasil, a educação recebe 19% dos investimentos do país, segundo relatório com dados analisados de 2011, enquanto a média dos países da OCDE é de 13%. Porém, o gasto por aluno foi de US$ 2.985, o equivalente a um terço da média dos 34 países integrantes da OCDE, que é de US$ 8.952. O valor está bem atrás do custo por aluno na Noruega (US$ 14.099), Suíça (US$ 13.799), Dinamarca (US$ 12.903), Estados Unidos (US$ 11.760) e Coreia do Sul (US$ 8.686).
Segundo o gerente de competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, o Brasil se esforça para garantir uma distribuição mais equilibrada dos investimentos em educação e garantir uma atenção maior para o ensino básico. “O ensino superior é mais caro. A razão era de 10 pra 1 entre gastos no ensino superior e básico por aluno. Isso caiu para mais ou menos em torno de quatro. Ainda é muito alto, ainda se gasta muito mais no ensino superior. Em países da Europa, por exemplo, a proporção é em torno de dois”, diz .
A diferença de investimento na educação reflete no tempo dedicado aos estudos e, segundo o diretor do Senai, na qualidade do profissional e na competitividade do país. “O trabalhador americano tem, em média, 13 anos de estudo, na Alemanha, em torno de 12 anos, já no Brasil, apenas 7. Nossa produtividade é um quinto da de um americano”, explica Breda, que exemplifica.
“Imagine competir dois profissionais numa empresa. Aquele que teve educação melhor vai ser mais beneficiado, vai ter maior domínio de técnica, maior capacidade de planejamento. As empresas terão de pagar mais por ele, é um profissional mais qualificado, mas o poder de interferência no processo é maior”.
Correio24H