A palavra epitáfio vem do grego e significa, literalmente, “sobre o túmulo”. A literatura reserva grandes espaços para os epitáfios dos homens célebres, sugeridos por eles ou determinados pelos que ficaram. Como os túmulos, por vezes, os epitáfios se constituem no último sinal de vaidade dos mortais.
O chileno Pablo Neruda, Prêmio Nobel de Literatura de 1971, recomendou: digam que fui combatente da liberdade. No túmulo de Karl Marx foi colocada uma frase síntese de sua cruzada: Proletários e de todo o mundo, uni-vos! O norte-americano Groucho Marx, continuou fazendo humor na sepultura: Perdoem-me se eu não me levanto! Frank Sinatra determinou sua legenda mortuária: O melhor está para vir. Miguel de Unamuno mandou colocar uma prece: Que Deus tenha piedade deste ateu.
Uma frase realista figurou, muitas vezes, nos cemitérios latinos: Hodie mihi, cras tibi – ou seja – “hoje sou eu, amanhã você”. É de supor que foi á beira da primeira sepultura – sem epitáfio – que o homem tentou as primeiras respostas no campo da filosofia e da religião. Quem sou, de onde venho, para onde vou? Na realidade, o silêncio da morte questiona a vida. Existe dentro de nós a ânsia de viver para sempre, que a filosofia não consegue responder. Em face disso, o homem sente a necessidade de firmar-se na segurança da fé.
É a fé que determina uma moral, ou seja um jeito de viver. E a fé não é apenas uma solução para as encruzilhadas da vida. Ela precisa envolver o cotidiano. A fé não é para depois, mas para aqui e agora. Mário Sérgio Cortella, que foi assessor de Paulo Freire, faz uma provocação filosófica: “Não espere pelo epitáfio”.
Uma das piores tentações de todo o homem é deixar para amanhã, para depois, para algum dia destes. A vida não pára, o tempo desliza veloz e termina, muitas vezes, sem aviso prévio. Beethoven situava a marcha do tempo: o futuro se aproxima hesitante, o agora voa como uma seta arremessada, o passado fica eternamente imóvel.
A mais valiosa moeda que Deus colocou na mão do homem se chama tempo. É com ele que estamos construindo a eternidade. O túmulo e o epitáfio são detalhes sem valor. Só uma coisa levamos desta vida: o bem que fazemos. O tempo de Deus se chama hoje. No túmulo do roqueiro Cazuza, morto em 1990, está escrito o alerta: o tempo não pára.
+ Itamar Vian