Uma conversa de um grupo de Facebook na qual duas estudantes de Odontologia falam sobre procedimentos clínicos aplicados em crianças gerou revolta e discussões nas redes sociais nos últimos dias. Trechos do diálogo foram compartilhados por muitas pessoas e, em um deles, uma das jovens diz que, orientada pela professora a “ter uma postura forte e não dar abertura para criança fazer birra”, já chegou a furar a gengiva de um menino para que ele ficasse quieto durante um procedimento.
Uma das estudantes seria da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) no Campus de Santo Amaro, em São Paulo. O EXTRA conversou com o Dr. André Passarelli Neto, docente e ex-coordenador do curso na instituição.
— Eu soube do caso pelo Facebook e fico enojado em ver uma aluna fazer isso dentro de uma instituição de ensino. Se ela tivesse alguma dúvida sobre o procedimento, deveria ter acionado a professora para ter a orientação correta.
De acordo com André, os atendimentos em crianças são feitos em clínicas dentro da própria faculdade, sob supervisão. No total, seis profissionais acompanham os alunos nos procedimentos, mas ele garante que nenhum dos professores orienta os alunos a fazer ameaças aos pacientes.
— Na disciplina de Odontopediatria existem algumas manobras que ensinamos porque as crianças são mais difíceis de serem tratadas, elas ficam com medo. Além disso, as mães são obrigadas a acompanhar tudo que é feito nos filhos.
Na conversa postada na internet, a estudante disse que estava fazendo uma profilaxia e a professora a mandou intervir, então, ela pegou a carpule (seringa com agulha) e furou a gengiva da criança. “Eu falei: você quer com dor ou sem dor? Aí ele: sem dor. Eu falei: então abre a boca e fica quieto!”.
— A profilaxia é um processo de limpeza e conservação dos dentes e não é necessária anestesia, por isso, a carpule nem deveria estar lá — afirma.
Em outro trecho, a estudante também diz que até “tenta ser legal”, mas não tem paciência com crianças e fala que altera o tom de voz pedindo para que as mães saiam da sala.
André Passarelli Neto explica que existem técnicas de contenção para tratar crianças e que algumas incluem dois profissionais para que a criança seja segurada, caso necessário. Em sua opinião, o procedimento é errado.
— É uma forma de agressão e não deve ser ensinado. Eu garanto pra você, nós não ensinamos isso.
Sobre as consequências do relato para a aluna, André afirma que está deixando a coordenação da FMU, mas que, caso estivesse presente, ela seria advertida.
— Pra mim, uma aluna dessas não tinha nem que se formar — finaliza.
Em nota, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, repudiou o ato e informou que está está averiguando o caso. Leia na íntegra:
“Os cursos de graduação em Odontologia, por meio de seus professores, buscam capacitar o acadêmico às práticas de prevenção, ao tratamento e à cura dos problemas relacionados à saúde bucal, em todas as áreas, inclusive a Odontopediatria.
Sendo certo que não há qualquer recomendação técnica no sentido de ‘furar a gengiva do paciente’, por exemplo, para estabelecer um vínculo de respeito, confiança e colaboração, o CROSP repudia toda e qualquer conduta que visa estigmatizar os procedimentos odontológicos e a figura do cirurgião-dentista como um profissional que provoca dor ou que se relaciona com seus pacientes de forma desumana ou antiética.
O CROSP está adotando medidas pertinentes para averiguar a veracidade dos fatos e a identificação dos citados, em prol da ética, da proteção da população e da valorização da Odontologia.”
Procurada pelo EXTRA, a FMU ainda não se posicionou sobre o caso e informou que o Dr. André Passarelli Neto não é mais coordenador da instituição, embora seu nome ainda coste no site da universidade com tal título.
Extra