A Bahia atingiu no terceiro trimestre do ano (julho a setembro) a marca de 15,9% de desempregados. Com isto, passou a liderar (mais uma vez) o ranking de desocupação entre os estados brasileiros. Só que desta vez atingindo um percentual inédito na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), metodologia iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O órgão divulgou ontem os dados mais recentes do estudo. O recorde anterior, 15,8%, foi registrado pelo Amapá. De acordo com o levantamento, a Bahia possui 1,151 milhão de desempregados – 22 mil a mais do que valor registrado no trimestre anterior, entre os meses de abril a junho.
A Pnad Contínua também coloca a Bahia como o estado que possui a maior taxa de subutilização da força de trabalho do país, 34,1% da sua população. O indicador é composto pelo conjunto de pessoas desempregadas, subocupadas ou inativas, mas com potencial para trabalhar (a chamada força de trabalho potencial).
Segundo o supervisor de Disseminação de Informações do IBGE, André Urpia, o conceito de subocupação é um detalhamento das pessoas que estão ocupadas com um viés relacionado à carga horária.
“Diz respeito às pessoas que trabalham menos de 40 horas, gostariam de trabalhar mais horas e estão disponíveis para isso. Ou seja, significa que daquele trabalhador não está sendo aproveitada toda a capacidade de horas que ele poderia ofertar”. Urpia esclarece que o indicador de força de trabalho em potencial diz respeito às pessoas que não buscaram trabalho no período em questão, mas gostariam de encontrar emprego e estavam disponíveis para trabalhar.
Luz no fim do túnel
Na Bahia, os setores da construção civil e de alojamento e alimentação foram os únicos que registraram crescimento no número de postos de trabalho em relação ao trimestre anterior, com o aumento de 12 mil e 36 mil empregados respectivamente. Mesmo com o aumento, o número de trabalhadores da construção ainda é 4,9% menor do que no mesmo período do ano passado.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Carlos Henrique Passos, o setor já se acostumou com o momento ruim. “Há mais de um ano que a cada mês perdemos duas a três mil vagas formais de emprego. Já não nos surpreende. As empresas vão encerrando suas obras e muito poucas são iniciadas”, afirma.
Passos atribui o momento ruim à situação econômica do país. “Construção civil vem de investimento, seja público ou privado, e sentimos falta disso. Os governos estão em desequilíbrio fiscal, e com essa taxa de juros tão alta, o setor privado não investe”, diz.
Para ajudar a reverter o quadro negativo, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) afirma estar atuando em setores prioritários para a geração de empregos, como o segmento de energias renováveis. “Na construção e operação dos parques, assim como na fabricação das peças para o setor eólico, serão gerados em torno de 86 mil empregos diretos”, aponta o superintendente de Promoção do Investimento da SDE, Paulo Guimarães. Segundo ele, o setor de energia solar deve gerar outras 45 mil vagas diretas, impactando principalmente as cidades do interior do estado.
12 milhões sem empregos
No Brasil, o percentual de desocupação de 11,8% também é o maior da série histórica da Pnad Contínua. O número equivale a mais de 12 milhões de desempregados em todo o país, 436 mil pessoas a mais do que o que foi calculado no trimestre de abril a junho. Na região Nordeste, o total de desempregados chega a quase 3,5 milhões. Já a taxa de subutilização da força de trabalho nacional no terceiro trimestre é de 21,2%. O índice teve um aumento expressivo no comparativo com o mesmo período do ano passado, quando a taxa registrada era consideravelmente mais baixa: 18,0%.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), Carlos Andrade, acredita que falta interesse do poder público em resolver a situação. “Fica uma situação caótica para o estado. Esse número (de desemprego) é assustador. O pior é que estamos vendo um quadro de pouco empenho por parte dos governos em se preocupar com o emprego”. Para ele, não há incentivo ao consumo, que é o que move o comércio. “O dinheiro tá difícil. A carga tributária sobe, aluguel, câmbio, juros do cartão de crédito, tudo sobe”, lamenta.
Já o presidente da seção baiana da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Cedro Silva, atribui à Operação Lava Jato parte da culpa pelo aumento do desemprego. “Começou a investigar a corrupção, o que não somos contra, mas parou as maiores empresas do Brasil. Somente a Petrobras tinha 350 mil empregados terceirizados, caíram pela metade”, exemplifica. “É preciso que as empresas voltem a assumir contratos e gerar mais empregos”, sugere.
Correio