No dia primeiro de abril brincamos com a família e os amigos passando trotes e contando mentiras. É o Dia da Mentira ou Dia dos Bobos. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos revela que 61% da população admite que mente pelo menos uma vez por dia.
Na verdade, o que se vê são mentiras, elaboradas todos os dias do ano: de filhos para pais, de políticos para eleitores, de governantes para governados, de empregadores para empregados e vive-versa. Mentiras de meios de comunicação apresentando falsos valores, e de grupos religiosos com promessas de cura e prosperidade. Há pessoas que mentem tanto, que acabam enganando a si mesmas.
A gravidade da mentira se mede segundo a natureza da verdade que ela deforma, de acordo com as circunstâncias, as intenções daquele que a comete, os prejuízos sofridos por aqueles que são suas vítimas. A mentira é condenável em sua natureza. É uma profanação da palavra que tem por finalidade comunicar a outros a verdade. O propósito deliberado de induzir o próximo em erro, por palavras contrárias à verdade, constitui uma falta à justiça e à caridade.
Toda falta cometida contra a verdade impõe o dever de reparação. Quando se torna impossível reparar um erro publicamente, deve-se fazê-lo secretamente. Se aquele que sofreu o prejuízo não pode ser diretamente indenizado, deve-se dar-lhe satisfação moralmente, em nome da verdade. Esse dever de reparação se refere também às mentiras, às calúnias e difamações cometidas contra o bom nome e a honra do próximo.
Morte e vida estão à disposição de nossa língua. Se semeamos o mal, colheremos frutos maus. Se semeamos vida, colheremos vida. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá” (Gal 6,7). “Se queres possuir a verdadeira vida, afasta a tua língua da maldade e teus lábios de palavras mentirosas. Evita o mal e faze o bem, procura a paz e vai com ela em seu caminho” (Salmo 33,14-15).
Portanto, a mentira consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar. A Bíblia denuncia na mentira uma obra diabólica: “Vós sois do diabo, nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44). “Feliz de quem caminha na justiça, diz a verdade e não engana o semelhante” (Is 33,15).
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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