O Ministério Público Estadual (MP-BA) entregou à Federação Bahiana de Futebol (FBF) recomendação para que seja adotada a torcida única nos quatro Ba-Vis que acontecerão num intervalo de dez dias em Salvador – o primeiro deles quinta-feira (27), no Barradão, pelas semifinais da Copa do Nordeste.
No ofício – que foi divulgado em comunicado no site da FBF na tarde desta segunda-feira (24) -, o promotor Olímpio Campinho usou como argumento principal o assassinato do adolescente Carlos Henrique Santos de Deus, de 17 anos, logo após o Ba-Vi pelo Campeonato Baiano no dia 9 de abril, na Avenida Vasco da Gama, nas proximidades da Arena Fonte Nova.
O promotor ainda citou os conflitos entre as torcidas rivais que aconteceram pouco antes do início do clássico, na área do Dique do Tororó e do Vale de Nazaré.
E para justificar a sua recomendação, lembrou o exemplo adotado no estado de São Paulo, em que a torcida única contribuiu para a queda dos conflitos nos arredores dos estádios e para o aumento do público, segundo o documento, em 38%.
A recomendação, no entendimento da FBF, não é determinante para que a torcida única seja adotada, mesmo que o MP-BA tenha pedido, através do documento, para que FBF e CBF imponham a torcida única e comuniquem o fato aos clubes para que não sejam vendidos ingressos de visitantes. Segundo a entidade que gerencia o futebol no estado, a palavra final será da dupla Ba-Vi.
“O posicionamento da FBF é no sentido de não concordar [com torcida única em clássicos]. A Federação entende que o futebol não pode ser eleito como bode expiatório para remediar a questão da violência que assola o país como um todo. Respeitamos a recomendação, cumprimos a determinação de dar conhecimento e publicidade, divulgamos no site da Federação. Mas não temos o poder de obrigar os clubes a cumprir”, declarou o diretor jurídico da federação, Manfredo Lessa, em entrevista ao site GloboEsporte.com.
Clubes contra
A dupla Ba-Vi, no entanto, já havia se posicionado contra a adoção da torcida única. “O Esporte Clube Bahia, respeitosamente, vem a público lamentar as declarações do promotor Olímpio Campinho que vê em torcida única uma solução para o futebol baiano. (…) O problema não está no esporte, mas nas crises de segurança pública, educação e desemprego. O poder público, historicamente, tem dificuldades para cumprir seu papel. De fato não é fácil. (…) Ninguém tem o direito de trancafiar milhões de apaixonados em casa. Que julguem e prendam os criminosos”, publicou o tricolor no início do mês.
” O Esporte Clube Vitória vem a público declarar que não acredita que a torcida única seja a melhor solução para combater a violência. O clube vem caminhando em direção oposta ao concentrar esforços em promover a paz nos estádios para, justamente, resgatar a cultura de uma torcida mista. (…) A torcida única priva o torcedor de bem de comparecer ao estádio pra ver o seu time do coração. Acreditamos que isto depõe contra o processo de popularização e democratização do futebol enquanto modalidade esportiva e opção de lazer. O esporte, como um todo, deve ser sempre agregador, e toda e qualquer campanha deve ser neste sentido”, publicou o Leão na mesma semana.