Está difícil, este ano, comprar presente decente para as mamães que ainda me restaram (pois é, já tive muitas, mas elas decidiram ir embora aos poucos), mas ainda me restam algumas mães emprestadas, outras roubadas dos outros e tantas que se fazem de mãe, me protegendo, brigando e cuidando de mim, como se eu fosse ainda pequeno e sem saber amar. Agradar a todas a mães, seja a de quem for – as minhas, as suas, as dele es e delas – não vai ser fácil, mesmo com a garantia de que o governo vai baixar a Taxa Selic e que os cartões de crédito irão baixar os juros e os bancos ofereçam empréstimos – consignados ou não – com juros menores, simpáticos e com mais atrativos que Angelina Jolie. Que a economia esteja em ascendência, com mais curvas que as irmãs Kardashian.
A situação está tão surrealista no Brasil que bastou acabar o Natal do ano passado e o comércio começou a chamar para as compras do Carnaval e as agências de viagens iniciaram um processo de desconto em passagens para o verão e ele estava apenas começando. Daí se vislumbrou a chegada do Carnaval e o que se viu foram bloco e camarotes – aqueles que não fecharam ou deixaram de sair na avenida – dando quase que de graça abadás e pulseirinhas com camisetas. Foi um Carnaval tão pobre que teve cantor se apresentando com voz e violão e alguém com dó, não a nota musical, mas o sentimento de pena em si (também não a nota), ajudou com um Carrón, um pandeiro, um triângulo para não ficar tão desanimado.
E já na quarta-feira de cinzas podia-se ver, até mesmo na Feira de São Joaquim, ofertas de quiabo pela metade do preço, camarão seco de tamanho diminuto e peixe em promoção. Parei e pensei quem iria comprar peixe com semanas de antecedência para aproveitar o desconto e saquei que minha vizinha comprou três quilos de arraia e disse que ia tratar, temperar e colocar no freezer. Ela estava defendendo seu lado enquanto o feirante defendia o seu também, já saindo na frente por saber que o dinheiro do freguês podia acabar mais lá na frente e foi o que aconteceu e quem esperou para vender durante os dias que antecederam a Sexta da Paixão quebrou a cara e a banca.
Mas, mal se chegou ao meio do mês de março e os supermercados já haviam arrumado suas gôndolas, colocando os ovos de Páscoa, que de tão caro, eles ficaram com vergonha de colocar os maiores e mais caros e optaram por ofertar os pequenos, mesmo assim ainda caros, com quase o dobro de preço do ano passado, e os gerentes olhavam para nós, como se pedissem desculpas, tanto que custava, já custando os olhos da cara e os pompons que servem de rabo para os coelhinhos.
No Domingo de Páscoa, pasme, as lojas começaram a mudar suas vitrines e o que se viu nelas e nas TVs foram as propagandas para o Dia das Mães e este dia estava tão longe, e de repente parecia que ficou tão perto, que já corri para ver se tinha o FGTS adormecido na Caixa, e então lembrei que agora é assim, vez que a indústria e o comércio não esperam nem acabar o Dia da Criança, que é em outubro e logo no início deste mês já tem decoração natalina nos shoppings e anúncios na televisão. Até o caminhão do Papai Noel da Coca Cola acelera o passo, e talvez por isso tenha passado e eu não tenha visto e nem ganhado presente (devo ter esquecido a janela fechada pois não estou acostumado a colocar o sapatinho na janela que não seja no dia 25 de dezembro). Mas, desde semanas atrás que tudo gira em tono do dia em homenagens às mamães, que realmente merecem seu presente. O que me chama a atenção é que nem bem chegou perto do dia delas e já estão fazendo liquidação. Eu pensei “hem! ”. Fui ver uma dessas e fiquei pasmo: estão liquidando, mas os preços não mudam. Os preços são brutos.
Agora aposto que faltando dois dias para o Dia das Mães entrarão no ar e nas decorações das lojas os motivos dos Festejos Juninos. O consumo é bruto.
Jolivaldo Freitas – Jornalista e Escritor