Aprendemos desde sempre que a ordem cronológica da vida é nascer, crescer, reproduzir e morrer. Nesses moldes somos orientados a acreditar. Porém, nos sentimos impotentes sempre que alguém a nossa volta morre. Aquele fagulha se apaga sorrateiramente, e ficamos envolto a questionamentos sobre tal acontecimento.
Nos perguntamos por que Deus agiu assim? Ou por que fizeram isso? Sempre após a obra fúnebre, sentimos apreço e empatia por aqueles que se foram. Somos hipócritas em demasia para perceber nossa indiferença com aqueles que sentam no banco ao lado. Acabo de vivenciar algo quase surreal, o meu companheiro de trabalho que sentava no banco ao lado, suicidou. De forma crua ele arquitetou sua morte.
A casa estava totalmente limpa, organizada e nenhum vestígio de sujeira foi encontrado, além do seu corpo suportado por um cinto, um dia após o ato fatídico. Acredito que houve outra tentativa, porém as escamas do nosso egoísmo cegou nossos olhos. Não o ajudamos, não nos interessamos com o que acontece ao nosso lado. Assim continuamos vendo filhos, mães, país, irmãos e outros se suicidarem a milímetros de distância de nós, e fingimos não perceber, pois o nosso umbigo é sempre mais importante. Nossa indiferença tem matado não o corpo, mas muitas almas, criando inúmeros zumbis. Perdemos a alegria de viver, sorrir e se divertir com as singeleza da vida.
Estamos cercados de atenção mórbida, sem vigor e energia. Cecília Meireles tem razão ao dizer: “Já não se morre de velhice nem de acidente nem de doença, mas, Senhor, só de indiferença”.
Wallace Reis * jogador profissional
O texto se refere ao seu colega do Gaziantepspor que cometeu suicídio no mês passado (abril) Veja