Enquanto o Ministério Público concentra esforços para impedir a comercialização de leite in natura, no município, crianças do Peti são expostas à falta de higiene, sem condições adequadas de atendimento, posto médico funciona de forma precária, casas populares são abandonadas, em ponto de conclusão, e abatedouro fétido segue em pleno funcionamento, em área residencial. São estas as situações encontradas pela ONG Mobilizadores Sociais, no povoado de Chapada, a 15 Km de Riachão do Jacuípe.
Os Mobilizadores Sociais e o Conselho da Saúde foram solicitados por uma moradora a acompanhar as condições da Jornada Ampliada, no povoado. Cidadãos foram atender à solicitação e aproveitaram para visitar outros órgãos públicos, onde constataram vários desmandos.
No Posto de Saúde da Família, foram encontradas cadeiras quebradas, consultório odontológico sem equipamentos e atendimento limitado, desde que uma enfermeira entrou em férias e não foi substituída. Ao questionar a ausência de dentista, conforme relato da população, os mobilizadores ouviram do senhor Pedro Carneiro, tio do prefeito, que o dentista foi aprovado em concurso público e deixou o trabalho e que, se quisessem, ele ligaria para a enfermeira, para confirmar o fato de que estava de férias. Na saída do posto, o morador Francisco Mendes, que acompanhava os cidadãos fiscalizadores, conta que foi afrontado com xingamentos a ele dirigidos pelo senhor Pedro.
Na primeira Jornada Ampliada que os Mobilizadores e membros do Conselho da Saúde visitaram, foram encontradas mesas de madeira encardida, descobertas e cheias de moscas, nas quais dezenas de crianças faziam suas refeições. Na cozinha, apertada e quente, não havia água e a monitora Gabriela Souza informou que havia mais crianças, em outro prédio, para onde ela deveria se dirigir, naquele momento, pois ampliou sua carga horária, de 20 para 40 horas, por necessidade. Ao ser questionada sobre a propriedade do imóvel que abriga a primeira jornada, disse que não é próprio, do município, mas não sabe a quem pertence. Informou que o outro imóvel, onde estudam as demais crianças, pertence ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Na segunda jornada ampliada, os cidadãos visitantes aumentaram sua preocupação, pois as más condições do imóvel incluem um disjuntor de eletricidade exposto e ao alcance das crianças, paredes e móveis sujos, banheiro precário e falta de água potável. Uma funcionária esclareceu que a água que as crianças bebem é fornecida por um carro-pipa, mas não se sabe a origem. Essa água é exposta no pátio, em panela de alumínio, de onde cada criança retira sua porção, usando canecas plásticas, sem filtro. No quintal, existe um amontoado de garrafas de vidro destampadas e outras quebradas, com cacos expostos junto à parede. Conscientes da situação, diversos alunos chamaram os Mobilizadores para fotografar detalhes das condições do imóvel onde estudam.
Acompanhados pelo morador Francisco Mendes, os cidadãos convidados a fiscalizar encontraram averiguaram a quadra poliesportiva que está prestes a ser inaugurada, porém merecendo na verdade uma reforma, pois a estrutura da obra se encontra em parte enferrujada e não há postes de iluminação. Logo adiante, encontra-se um abatedouro fétido, inadequado, sem água encanada, bem ao lado de algumas residências. De acordo com moradores, a água para o abatedouro também é fornecida por carro-pipa, mas a fedentina e o risco à saúde é o que mais chama a atenção de quem se aproxima do local.
O morador Francisco lembra ainda que a segurança no povoado é precária, tendo ocorrido alguns assaltos, nos últimos dias. Outros moradores que pedem para não serem identificados afirmaram que um dos prédios onde funciona a Jornada Ampliada pertence ao ex-vereador Teodomiro Paulo, que teria cedido o imóvel gratuitamente, mas passou a cobrar pelo aluguel, depois de um desentendimento com o gestor. “Mas não tá recebendo”, arrematou uma das entrevistadas, num sinal claro de que a administração municipal não tem conseguido cumprir compromissos nem garantir condições adequadas de atendimento às crianças do Peti e à população, em geral.
Com informações Mobilizadores Sociais de Riachão do Jacuípe.