Esta é uma matéria especial e histórica produzida pela CN. Nela contamos com a colaboração da historiadora Clari Couto e queremos a sua participação. Envie e-mail para [email protected] e conte a historia da Assembleia de Deus em seu município e como foi a comemoração do Centenário.
Segundo dados da monografia denominada Orar e Vigiar, da historiadora Clari Couto, biblioteca da UEFS, a Assembleia de Deus de Conceição do Coité teve sua gênese em 1938, no povoado de Santa Rosa a 09 km da sede do município, no mesmo ano em que a vila foi elevada à categoria de cidade, através de decreto-lei datado de 30.03.1938. César Ribeiro, Marcelino Araújo e o Presbítero Zezinho Guimarães, vindos de Valente, foram os fundadores da obra. A princípio, vinham a pé, com grande dificuldade e dirigiam os cultos em baixo de árvores. Com frequência eram apedrejados.
A veterana Adalgisa Ferreira de Oliveira, de 82 anos, que aprendeu “a ler, lendo a Bíblia” convertida no mesmo ano da fundação da obra, confirma que constantemente apedrejavam a igreja e nos cultos ao ar livre jogavam pedras nos fiéis. Sua filha Aldomira, de 55 anos, nascida evangélica, endossa que tinha oito anos de idade e sofria a intolerância dos católicos, sendo apedrejada por moleques a mando dos seus pais. Segundo seu depoimento, esses moleques perseguiam-na e proferiam injúrias.
O presbítero da comunidade, Amadeu Lopes, 80 anos, comerciante e fazendeiro, convertido em 1936, presenciou na década de 60 uma bomba sendo jogada dentro do templo. Segundo ele as pessoas jogavam pedras dentro da “igreja”.
Em 1942 foi construído o templo da Assembleia de Deus em Santa Rosa, sob a direção do Presbítero Emílio Lopes. Desde então o povoado de Santa Rosa passou a ser chamado também de Assembleia, em alusão ao templo evangélico ali construído, que já se misturava à história do lugarejo. Só em 1960 a Assembleia chegou à sede do município de Conceição do Coité, através dos irmãos Emílio Lopes, Manoel Lopes e Rafael Lopes e suas respectivas famílias, todos originários das camadas populares: pedreiros, serventes, caracterizando a composição social que formou a AD.
Os cultos eram realizados na residência de Manoel Lopes, onde cerca de dez pessoas reuniam-se para orar, pregar e cantar hinos da Harpa Cristã (hinário oficial da Assembleia) ao som do violão de Manoel Lopes e do cavaquinho de Rafael, mostrando a sincronia destes fiéis com a música brasileira.
No ano de 1964 foi indicado como primeiro Pastor o fiel José Carlos Guimarães, que nessa ocasião pastoreava as cidades de Serrinha e Valente. Em 1974 construiu-se o primeiro templo da Assembleia de Deus em Conceição do Coité. Atualmente esta denominação conta com cerca de dois mil membros e congregados (os não batizados, pois se segue a máxima bíblica de batizar apenas adultos, reportando ao batismo de Jesus que fora por imersão. Os batizados comungam a Santa Ceia e podem exercer cargos administrativos).
Saiba tudo sobre o centenário das igrejas Assembleias de Deus no Brasil.
A Igreja Assembleia de Deus realizou no período de 05 ás 19 de junho uma programação especial para celebrar o Centenário das Assembleias de Deus do Brasil, com Escola Bíblica Especial, relembrando a história, culto da centésima ovelha, batismo de cem mil novos cristãos, concentrações evangelísticas, ceia do Senhor simultânea, cultos de gratidão em todo país e evangelização nacional estratégica.
As ações tiveram como metas glorificar o nome de Jesus em todo Brasil, marcar os cem anos das Assembleias de Deus em solo brasileiro, promover as Assembleias de Deus e realizar um trabalho de celebração unificado.
Durante o mês de maio, as igrejas realizam uma campanha de oração para que Deus abençoe as atividades que seriam realizadas e a cada semana as orações foram direcionadas para uma determinada região do país.
Existem atualmente 110 mil igrejas no Brasil, frequentadas por 12 milhões de fiéis, segundo a Assembleia, e inúmeras obras sociais.
Coité festejou com culto, batismo, santa ceia e almoço.
Uma multidão de fieis lotou na manhã de domingo (19), o templo sede da Igreja Assembleia de Deus, situado no Bairro da Rodoviária, para participarem do culto comemorativo ao centenário. Dirigido pelo pastor presidente do Campo de Conceição do Coité e Santa Rosa, Eliezer Rodrigues, o culto teve inicio às 10h com o batismo 51 novos convertidos, que desceram às águas no tanque batismal da Igreja, sendo aceitos assim, como membros ativos. A cada batismo, a igreja cantava louvores e bradava com glória a cada pessoa chamada de “irmão” que nascia de novo. “A alegria, é ver que o propósito da nossa igreja de salvar almas, tem sido alcançado. Nosso crescimento tem acontecido porque cumprimos nosso Ide evangelizar. Estamos no tempo de frutificar e colher, eis os frutos”, expressava sua alegria o pastor Eliezer Rodrigues, que garantia a realização de outro ato de batismo ainda este ano.
Dentre os batizados, integravam membros das congregações de Lagoa Grande, Pampulha, Cantinho, Açude, Aroeira, Mansão, Onça, Badiaçú, Açudinho e da sede de Conceição do Coité. Foram batizados pessoas de todos os segmentos da sociedade, desde os agricultores familiares, donas de casas, funcionários públicos, estudantes e políticos, a exemplo do vereador Samuel Araújo (PP) e do secretário de Esporte, Gildemar Carneiro. “O batismo é a coisa mais importante na vida do crente, pois, passa a fazer parte da vida da Igreja”, concluiu o pastor Rodrigues.
A última atividade na manhã festiva foi à realização da Santa Ceia do Senhor, uma ordenança bíblica segundo o evangelho de Lucas 22.7-20 e as cartas de I Coríntios 11.23, que simboliza o Corpo de Cristo e representa a comunhão da Igreja em Jesus, a esperança de um dia todos os fiéis se reencontrarem com o Mestre Amado. É um evento restrito àqueles que declararam publicamente a sua fé cristã e fazem parte do Corpo Espiritual de Cristo aqui na terra.
Câmara aprova moção de aplauso – O vereador Samuel Araújo (PP), recém-batizado e membro da Congregação da Assembleia de Deus do Bairro do Açudinho, entregou ao pastor Eliezer Rodrigues uma placa comemorativa ao centenário com a moção de aplauso aprovado por unanimidade pela Câmara de Vereadores de Conceição do Coité. Na sua fala, o parlamentar destacou a importância da Igreja e dos trabalhos sociais que ele realiza no município e disse da alegria em fazer parte da família assembleiana e está aos pés de Jesus e as vitórias conseguidas depois da decisão de obedecer e ser fiel a Senhor Deus.
Atualmente, o 1º templo da AD do Coité na Rua Laurindo Cordeiro tornou-se pequeno para comportar os 3.000 mil membros e transformou-se numa congregação-satélite, o que forçou uma mudança precoce para o templo ainda em construção, utilizado desde 1999, com capacidade para comportar mil e quinhentas pessoas. O campo abrangia 26 congregações-satélite até a independência eclesiástica da Igreja de Santa Rosa.
A comunidade assembléiana é formada por professores do ensino fundamental, pequenos e médios empresários, funcionários públicos municipais, universitários, aposentados, lavradores, comerciários, fazendeiros, camelôs, profissionais liberais, representando todos os segmentos sociais e econômicos, permitindo confirmar que principalmente o pentecostalismo tem maior penetração nas faixas médias e pobres da população brasileira.
“Aqui não tem pobre, nem rico, nem preto, nem branco, nem amarelo, nem analfabeto nem doutor. Todos são iguais diante de Deus. Diploma não salva, posição social não salva”, afirma a historiadora Clari Couto.
As duas ordenanças observadas pela AD são a Santa Ceia e o batismo por imersão para adultos. Em tese tem a Bíblia como única regra de fé e prática e se auto reconhece herdeira do movimento reformado de Lutero, como fica patente num livreto confeccionado pela CPAD, editora oficial do grupo: “A Assembléia de Deus é uma comunidade protestante, segundo os princípios da Reforma Protestante pregada por Martinho Lutero, no século XVI, contra a Igreja Católica. Cremos que qualquer pessoa pode se dirigir diretamente a Deus confiante na morte de Jesus na cruz. Este é um relacionamento pessoal e significativo com Jesus”.
A circulação/publicação das doutrinas na AD é efetivada através da CPAD, fundada em 1940, com sede no Rio de Janeiro. Fornece Bíblias, hinário (o grupo dispõe de hinário próprio, a Harpa Cristã), lições bíblicas para a Escola Dominical (principal veículo da teologia da denominação); jornais, revistas e “mais de 300 títulos de livros, que estão à disposição do mercado latino por meio da Editorial Patmos, braço da CPAD para toda a América Latina, instalada em Miami (EUA), a Casa diversificou sua produção investindo também no mercado fonográfico através do selo Patmos Music.”.
A música, transmitida por cantores e cantoras evangélicas, também representa um mecanismo importante de transmissão e reprodução dos fundamentos doutrinários do grupo. Atualmente está havendo uma preocupação maior com a leitura e com o preparo intelectual; inclusive, pastores e evangelistas estão sendo incentivados a fazerem curso teológico, fornecido pela própria denominação; não só pastores estão participando como também os membros, pois as comunidades locais estão proporcionando tais cursos por intermédio da Escola Teológica das Assembléias de Deus na Bahia (ESTEADEB).
Na década de 90 foi que surgiu a preocupação em exigir certo nível de escolaridade para os aspirantes a pastor e a AD passou a cobrar o segundo grau para alcançar este cargo, o que provocou uma corrida desesperada dos aspirantes em busca de um diploma.
A adesão da classe média, o crescimento do nível educacional dos membros, a institucionalização da denominação fez com que os dons espirituais não fossem suficientes para pertencer ao clero que precisava estar preparado para lidar com os fiéis. A CPAD, que já tem mais de 25 anos de existência, foi revisitada para melhor preparar professores de Escola Dominical.
Em Barrocas, a festa foi na Praça da Bíblia.
O evento que contou com a colaboração da Prefeitura, que instalou a infraestrutura com palco, sistema de som e toldos, onde foram exibidas peças informativas sobre a história da Assembleia de deus, foi realizado na Praça da Bíblia, inaugurada a pouco mais de um ano.
Para o pastor Ires Conceição, que dirige a congregação há cinquenta dias, a semana que antecedeu as comemorações, foi de muitas vitórias e avivamento. A igreja que tem 60 membros e quase a totalidade presente estava vestida com camisas padronizadas da logomarca do centenário.
No culto, que durou mais de duas horas, os fieis acompanharam a Banda Renúncia, que entoaram hinos tradicionais e os mais recentes, que vem se destacando no mundo gospel. Um dos momentos mais emocionantes foi apresentação das bandeiras do Brasil, da Bahia e do município, enquanto a multidão cantava um hino em homenagem ao centenário. “Porta que se abri, nunca mais fechou. Deus multiplicou seu rebanho”, diz a letra.
O vereador José Eclécio Queiroz da Silva, (D) acompanhou todo evento e disse ao CN que ficou muito satisfeito com a força da Assembleia na transformação de vidas em Barrocas. Autor da indicação para construção da Praça da Bíblia, que leva o nome de seu pai, João Teles da Silva, Quequeu, como é conhecido, justificou a ausência do prefeito José Almir Queiroz, que teve que fazer uma viagem de última hora e pediu que lhe representasse.
Ao falar para o CN, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Ananias Cordeiro da Mota,(azul) falou que ao saber da criação da semana dos evangélicos em Conceição do Coité, procurou o ex-vereador Valdemi de Assis para conseguir uma cópia do projeto de lei e que o mesmo foi adequado a realidade de Barrocas e, demonstrando muita alegria, confirmou que os evangélicos do município também já festejam o seu dia, dia 23 de setembro, após oito dias de muitas atividades de louvor a Deus. O tempo da Igreja Assembleia de Deus está instalado na Rua Maria das Dores.
A assembleia de Deus na Bahia
Na Bahia, terra dos orixás, do catolicismo popular, do axé, a AD conta com mais de trezentos mil membros, segundo dados do grupo. Não existe um número exato do contingente de fiéis em toda a Bahia.
O pentecostalismo chegou com a AD no ano de 1926, através de Joaquina de Souza, na antiga cidade de Canavieiras no sul do estado. Atente-se ao fato de Deus estar conspirando em favor das mulheres para construir a história de uma denominação que se quer androcêntrica.
Na capital do estado a denominação nasceu oficialmente em 1930 e teve uma mulher como a primeira a receber o batismo no Espírito Santo, irmã Honorina. Otto Nelson, um missionário americano, foi o responsável pela implantação da obra em Salvador e consequentemente passou a se preocupar com o desenvolvimento do trabalho no interior do estado.
Do relatório de uma viagem que realizou a cidade de Valente, município de Coité, lemos o seguinte: ‘A palavra de Deus não tinha sido anunciada antes, a não ser por um crente presbiteriano que lá morou durante pouco tempo, há 20 anos. Eu estive em Coité com um membro da igreja em Salvador, cujos pais residiam ali, e que já tinham crido no Evangelho pelo testemunho do filho. Passei lá duas semanas celebrando cultos, todas as noites. Os domingos em que lá estive foram aproveitados para a realização de cultos à tarde, pois nossa intenção era que o grande número de pessoas que tinham vindo para a feira pudesse ouvir a pregação do Evangelho’.
A cidade de Salvador, historicamente marcada pelo ecletismo religioso configurado pelo catolicismo místico, pelas religiões afro-brasileiras e pelo espiritismo, “uma sociedade caracterizada pela frouxidão dos costumes, em que a religião, normalmente não prescrevia normas comportamentais…”, a AD instalou-se e cresceu vertiginosamente mesmo impondo uma ética comportamental ascética e conservadora. Atualmente possui mais de setenta mil fiéis.
A festa em Belém onde tudo começou
Em Belém, as celebrações pelo centenário começaram quinta-feira (16), sendo reinaugurado o Museu Nacional da Assembleia de Deus e um centro de convenções com capacidade para 20 mil pessoas e o encerramento aconteceu na noite de sábado (18), no Estádio Olímpico do Pará, o “Mangueirão”(foto).
Uma multidão ocupou as arquibancadas, gerais, cadeiras e o gramado do estádio para assistir aos shows de cantores evangélicos e ouvir as palavras de diversos pastores, tendo à frente o presidente da Congregação, pastor Samuel Câmara.
Toda a história no Brasil começou 1911, na cidade de Belém, capital do Pará, fruto de uma dissidência batista sob o nome de Missão de Fé Apostólica e teve como pioneiros os imigrantes suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, que em 1906 haviam experimentado o batismo com o Espírito Santo na Azusa Street, rua conhecida como local onde ocorreu o segundo pentecostes, na Califórnia, Estados Unidos, e trouxeram a nova denominação baseada na doutrina do batismo com o Espírito Santo.
A divergência teológica entre os batistas e assembléianos eram referentes à doutrina do batismo com o Espírito Santo e a manifestação dos dons espirituais, como curas e profecias. Esse fato culminou na separação de Berg e Vingren da denominação batista.
A Igreja Evangélica Assembléia de Deus se constitui no maior grupo protestante do Brasil, comportando mais de 13 milhões de membros, com 140 mil congregações espalhadas por toda a nação.
A tônica da denominação é o dom divino de falar línguas desconhecidas, podendo ser línguas celestiais ou estrangeiras como francês ou chinês, levando o fiel a um estado de comoção, a perfeita manifestação do Espírito Santo, como explicita um livreto da CPAD que tem como objetivo popularizar os princípios fundamentais da denominação.
A doutrina que distingue as Assembléias de Deus de outras igrejas diz respeito ao batismo no Espírito Santo, como ponto mais alto da característica pentecostal, que prega os dons espirituais, curas divinas, milagres e a libertação espiritual de vidas. As Assembleias de Deus creem que o batismo no Espírito Santo concede aos crentes vários benefícios como estão registrados no Novo Testamento. Estes incluem poder para testemunhar e servir aos outros; uma dedicação à obra de Deus; um amor mais intenso por Cristo, sua Palavra, e pelos perdidos; e o recebimento de dons espirituais.
Inserida por Velasques Filho na tipologia do pentecostalismo clássico e por isso mesmo coincidente com a reverberação e expansão do pentecostalismo mundial, a Assembleia de Deus tem como referência bíblica o livro de Atos capítulo 2, que faz alusão ao dia de Pentecostes, onde houve a descida do Espírito Santo, manifestada através de fenômenos sobrenaturais, como a descida de fogo e o falar em línguas estranhas. Naquele episódio, Pedro repetiu a profecia de Joel: “E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos”. (Atos 2:17).
Fiados nessa promessa, a AD manifesta a sua crença por intermédio de curas, dons espirituais como a profecia, libertação, a interpretação de línguas estranhas e, sobretudo, o batismo no Espírito Santo, tido como o selo do crente. O fiel fala línguas estranhas, consideradas celestiais, estreitando os seus laços com Deus, sentindo sua forte presença; fala também línguas estrangeiras para servir de mensageiro profético para alguém.
Decorrente dessa crença foi que em 1901 nos EUA iniciou-se um movimento de renovação considerado como o segundo Pentecostes, quando várias pessoas foram contempladas com o fenômeno da glossolalia.
A AD, filha do século XX, é decorrência da Reforma do século XVI, iniciada pelo monge alemão Martinho Lutero e uma das múltiplas formas de apropriação de elementos do Protestantismo, o qual vem se desdobrando ao longo de seus seis séculos por meio de variantes circunscritas em suas particularidades temporais, espaciais e culturais, ajustando-se à estrutura das diversas teologias protestantes, a exemplo dos tipos ideais de protestantismo ascético elucidado por Max Weber: Calvinismo, Metodismo e Pietismo, que utilizaram diferentes equipamentos mentais na recriação de suas crenças. Nesse sentido de apropriação, Weber, referindo-se ao Calvinismo, defende, “em última análise, novamente o caráter peculiar, fundamentalmente ascético, do próprio calvinismo que o fez selecionar e assimilar aqueles elementos da religião do Velho Testamento que melhor se adaptassem.” Na perspectiva deste trabalho, a AD apropria-se do arcabouço doutrinário do Cristianismo, cria a própria representação de fé e manipula este conjunto de elementos.
Raízes do pentecostalismo
Os Estados Unidos foram o berço do pentecostalismo e o ano de 1906 é considerado a sua data oficial de surgimento, com o advento de sete pessoas falando línguas estranhas, sob a liderança de Seymour, um negro nascido escravo que ampliou substancialmente o movimento; a despeito de sua germinização ter ocorrido em 1901, quando Agnez Ozman, uma aluna do Colégio Bíblico Betel, experimentou a glossolalia. Este colégio foi formado com o intuito de debater questões acerca da evidência glossolálica e teve como fundador Charles Parham, um nome importante na luta pela busca dos sinais do batismo no Espírito Santo e que só permitia que os negros ouvissem suas prédicas do lado de fora. Note-se que a pioneira na manifestação da característica essencial do pentecostalismo foi uma mulher, porém as reservas quanto ao sexo feminino nos espaços pentecostais ainda é grande. O negro que outrora fora discriminado tem seu espaço bem mais ampliado na AD brasileira. Têm-se vários pastores e componentes da hierarquia eclesiástica negros, atitude favorecida pela crença na igualdade espiritual.
Em Los Angeles, a rua que ficou conhecida como o lugar onde ocorreu o segundo pentecostes, Azusa Street, acolheu num armazém alugado por Seymour, a Missão da Fé Apostólica, que conviveu com o traço multirracial até 1914, quando deu origem à Assembleia de Deus, uma denominação de brancos. A AD, resultado da reunião dos diversos grupos pentecostais que se organizaram pela primeira vez numa convenção no estado do Arkansas, surgiu de uma ruptura de fundo racial.
As reuniões organizadas por Seymour, em Los Angeles, eram frequentadas por evangélicos, em sua maioria, negras. O culto em que as manifestações anteriormente citadas ocorreram tinha como características os cânticos alegres e informais e as orações em voz alta e simultâneas. A imprensa norte-americana taxou a experiência de africanização da cultura americana.
Parham, um líder branco do pentecostalismo, concordava com o improviso dos cultos inseridos pelos negros, posto que, segundo ele, o Espírito Santo era o orientador das ações dos fiéis. Por isso os cultos deviam ser alegres e dinâmicos, sem uma liturgia pré-estabelecida. Estas configurações marcaram substancialmente o desenvolvimento da AD no Brasil e facilitaram sua acomodação na cultura popular brasileira.
A postura comprometidamente proselitista do pentecostalismo levou-o a enviar missionários para várias partes do mundo, entre elas o Brasil. Um dos primeiros representantes desse movimento foi Miguel Vieira Ferreira, engenheiro, matemático e político. Convertido em uma igreja presbiteriana e em 1879, fundou a Igreja Evangélica Brasileira com 27 membros. O imigrante italiano Luigi Francescon, dissidente da Igreja presbiteriana de Chicago, fundou a Congregação Cristã no Brasil em 1910 e os imigrantes suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren fundaram a AD no Brasil em 1911. Essas duas denominações representaram a tônica do pentecostalismo no Brasil. Tanto Francescon, como Berg, foram fortemente influenciados pelo pastor batista W. H. Durham, forte defensor da glossolalia (falar línguas estranhas).
Texto e pesquisas Valdemí de Assis * fotos: Raimundo Mascarenhas e Google * colaborou Cléber Couto e Clari Couto