Em uma longa e incomum carta enviada aos bispos norte-americanos, o Papa Francisco admite a perda de credibilidade da Igreja por causa dos recentes escândalos de abuso sexual e pede ao clero americano que mostre unidade para enfrentar a crise.
A carta foi enviada aos bispos dos EUA que estão reunidos para um seminário em Chicago, e divulgada na quinta-feira (3).
Nela, Francisco afirma que a resposta ao escândalo mostra a necessidade urgente de uma nova abordagem de gestão e mentalidade dentro da Igreja.
“O povo fiel de Deus e a missão da Igreja continuam sofrendo muito como resultado de abusos de poder, consciência e abuso sexual e da maneira como foram administrados”, escreveu o Papa, acrescentando que os bispos “se concentraram mais em apontar dedos do que na busca por caminhos de reconciliação”.
“A perda de credibilidade requer uma abordagem específica, já que não pode ser recuperada através da emissão de decretos duros ou simplesmente criando novos comitês ou melhorando os fluxogramas, como se estivéssemos encarregados de um departamento de recursos humanos”, escreveu Francisco.
As tentativas de restaurar a credibilidade da instituição devem se basear na reconstrução da confiança, escreveu, em vez de “se preocupar com marketing ou criar estratégias para recuperar o prestígio perdido”.
O pontífice também alertou contra a redução da missão da Igreja à administração de um “negócio de evangelização”.
Abusos nos EUA
Uma série de escândalos de abuso sexual infantil abalou a Igreja Católica, que tem 1,3 bilhão de seguidores em todo o mundo. Francisco tem lutado para resolver o problema, conforme o escândalo corrói a autoridade da Igreja em meio a divisões agudas em Roma sobre como lidar com as consequências.
Em dezembro, o Papa aceitou a renúncia do bispo auxiliar de Los Angeles, Alexander Salazar, devido a sua “má conduta” com um menor.
Outros casos
No auge de uma série de escândalos em várias arquidioceses dos Estados Unidos, o gabinete do Procurador do estado da Pensilvânia emitiu em meados de agosto um relatório aterrador, detalhando os crimes sexuais perpetrados ao longo de várias décadas por mais de 300 padres contra mais de 1.000 crianças.
O relatório retratou uma hierarquia que trabalhou ativamente para abafar os casos de agressão sexual e para proteger os responsáveis desses ataques.
Desde então, várias dioceses criaram comissões de inquérito para apurar as denúncias de agressões sexuais, e algumas publicaram listas de religiosos declarados inaptos para o cargo.
Em dezembro, a Procuradoria de Illinois revelou que 685 padres foram denunciados por pedofilia no estado, um número muito maior do que o fornecido pela Igreja Católica, em mais um escândalo envolvendo o clero.
G1