Que me perdoem os doutos acadêmicos, mas faz tempo, eu comentava lá na Rádio Metrópole, que se havia alguém que podia fazer da Academia de Letras da Bahia um ninho para difusão da nossa cultura, entrar na modernidade e voltar a ter um apelo perante os soteropolitanos, o cara seria Joaci Góes. Escritor dos maiores que a Bahia já teve e tem (sou apaixonado pelo seu livro “A Inveja Nossa de Cada dia”), de inteligência, criativo e cheio de vigor na capacidade de fazer acontecer.
Joaci Góes é um empreendedor nato e quando soube da sua guindada à presidente da ALB fiquei feliz e voltei a observar que agora vai. Vai em busca do velho brilho, da empatia que tinha com a Bahia, da irmandade com os intelectuais e artistas, com a vida da própria cidade de Salvador.
A Academia de Letras da Bahia existe desde o início do século passado sendo um remake da Academia Francesa de Letras. Uma espécie de alter ego da Academia Brasílica dos Esquecidos, primeira academia de letras do Brasil, feita no século XVII. Sua perspectiva inicial era proteger e divulgar nossa língua, cuidar da nossa memória e ajudar e estimular nossas manifestações culturais. Na verdade, era uma instituição bem mais ampla, com anima cultural e científica.
Mas o tempo, sempre o tempo corrosivo, cuidou de esconder a academia dos baianos e ela passou a cuidar das suas próprias entranhas, como se uma academia pudesse ser um clube social e durante muitos anos sequer ouviu falar dos seus folclóricos chás ou a charques dos seus membros (no bom sentido). A ALB passou a ser vista a partir de uns anos como um monumento a si mesmo. Com algumas palestras, lançamentos de livros, solilóquios, um concurso ou outro que não elevava ninguém ao gosto dos consumidores de cultura e mais. Portanto, a partir do momento em que vejo nos jornais, sites e blogs a menção da Academia de letras da Bahia realizando um encontro, iniciando num mutirão nacional pela educação fiquei pasmo. Grande início. Vem coisa boa por aí (como se expressaria o novo presidente que está aí).
Acho que a partir daí voltaremos a ter uma academia com os mesmos sonhos que seus fundadores e homens como Severino Vieira almejaram, desenharam e cotejaram. Voltada para os anseios culturais da sociedade baiana, aberta, não somente voltada para seu umbigo, louros e fardas, fardões, camisolas de dormir (lembrei de Jorge Amado). Joaci Góes como eu disse para meus amigos, tem todas as armas de Oxóssi para reconstruir a Academia de Letras da Bahia no imaginário do baiano escritor, leitor, processador de cultura, estudantes e pensadores. A ALB é uma elite, isso é, mas encastelada. Presa em si mesma. E lá se vão alguns anos de solidão. A academia é dos baianos. Parabéns, força e sorte para o escritor, jornalista, empresário e constituinte Joaci Góes. Vamos aos eixos.
Jolivaldo Freitas – Escritor e Jornalista