Claro que a internet tem nos ajudado neste enfrentamento solitário da peste que devasta e devassa o mundo. Tudo mudou e vai mudar mesmo. “Nada será como antes, amanhã” diz a canção entoada por Milton Nascimento. E não será mesmo. Quem se acostumou e pode, trabalhar em casa, vendo que muitas das vezes o resultado foi melhor, sem estresse, sem trânsito e sem pressa, vai brigar para manter este privilégio – coisas para poucos neste intricado mercado de trabalho. Mas, serão milhões que transformarão em escritório o seu apartamento e casa.
Nada será como antes, pois também por outro lado, muitos patrões acabam de perceber que podem atuar com uma equipe mais enxuta e isso representará perda de emprego para milhares de pessoas, o que é ruim para a economia e para as famílias envolvidas e que passam a fazer parte dois índices do IBGE, longe das planilhas do Banco Central.
Nada será como antes a partir do momento em que as vendas online se exacerbam e o consumidor passa a confiar que vai comprar e receber e que não será fraudado. Eu mesmo nunca pensei que um dia seria essencial adquirir um mix, embora só tenha usado para cortar cebola, mas tenho certeza que arrumarei outras funções “essenciais” para ele. Pela internet comprei uma bicicleta ergométrica (que ainda não recebi) e que no futuro será um excelente cabide para dependurar roupas, cintos e provavelmente um chapéu Panamá que pretendo comprar via internet, para ir aos sambas “ao vivo”, quando a crise passar.
Nada será como antes, pois os médicos ganharam expressividade – embora muitos deles se transformem posteriormente em “monstros” – e junto com os outros profissionais que atuam na área da Saúde passam a ter o reconhecimento que merecem, somente pelo fato de terem ido para a linha de tiro neste momento em que a humanidade se mostra frágil e com até certo teor de humildade. Se bem que humildade, na maioria das vezes, vem e passa.
Nada será como antes depois de tantos meses sendo convidado para lives: algumas muito legais como a promovida pela Global Citizen em que até os Rolling Stones deram a velha cara. Mas, são muitas as lives que me fizeram perder o senso, pois costumo aceitar os convites para não ser mal-educado. Já participei assistindo até a live sobre como eliminar calo do calcanhar. E uma em que o compositor somente se descobriu autor agora e me fez levar duas horas e meia ouvindo suas rimas e suas dores num piano engasgado, acompanhando uma voz de galinha d´Angola apaixonada. Deus me livre das lives, como disse meu colega e amigo. Certo mesmo é que nada será como antes, amanhã e muito depois do amanhã. Quem viver verá.
————————–
Escritor e jornalista: autor de “Vulgar – Brincando de Sexo e & Outras Bobagens” .Email; [email protected]