Milhares de trabalhadoras do campo, da floresta e da cidade, realizaram uma caminhada ás 07h30 desta quarta-feira (17), saindo do Parque da Cidade, onde estão concentradas desde terça-feira (16),e percorreram 03 km,até chegarem a frente do Congresso Nacional, onde realizaram um grande ato público, com a presença de parlamentares, artistas e lideranças sindicais das diversas representações da sociedade. A quarta edição Marcha das Margaridas, foi considerada a maior manifestação feminista da América Latina dos ultimos anos.
Logo cedo o DETRAN modificou todo trânsito no trecho entre Parque da Cidade e a Esplanada dos Ministérios onde foi instalado a Cidade das Margaridas,no Plano Piloto. Foram mobilizados helicóptero, equipes de bombeiros, ambulâncias e mais de 200 policiais militares, para garantir a segurança dos participantes. Todo efetivo estava desarmado.
A polícia reservou as três pistas do lado esquerdo, para as pessoas que participaram da marcha,cujo cortejo andou pela “contramão”, sentido rodoviária/esplanada dos Ministérios.
A secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e coordenadora da marcha, Carmen Helena Ferreira Foco, disse que a o efeito do movimento vai além da presença das cem mil mulheres, pois milhões de outras mulheres, que ficaram em seus municípios, estão representadas e com o mesmo sentimento daquelas que saíram das várias regiões do país e cruzaram as estradas, rios do Brasil com objetivo de transformar a vida de milhões de mulheres.
“Nós temos a absoluta certeza de que a pobreza no nosso país tem sexo, tem a cara feminina, tem cor, pois são negras as pessoas mais pobres e tem lugar, pois estão no campo e na periferia das cidades. Portanto, nossa pauta não tem só apelo, mas também legitimidade”, falou Carmem.
O presidente da Contag, Alberto Broch, disse que, apenas o movimento pelas diretas, superior a qualidade de pessoas presente na Marcha das Margaridas. Ele falou também que a marcha foi criada em homenagem ao legado de Margarida Maria Alves, dirigente sindical e símbolo da luta das mulheres por terra, trabalho, igualdade e justiça. “Margarida rompeu com padrões de gênero
em sua época ao ocupar, durante 12 anos, a presidência do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande (PB), município a 100 quilômetros ao oeste da capital”, lembrou Broch.
Margarida fundou também o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural e teve a sua trajetória marcada pela luta contra a exploração, pelos direitos dos trabalhadores rurais, contra o analfabetismo e pela reforma agrária. Morreu aos 50 anos, em 1983, assassinada por um pistoleiro, que disparou um tiro de escopeta em seu rosto a mando dos usineiros da Paraíba.
O crime teve repercussão nacional. Porém, como tantos outros cometidos contra trabalhadores rurais, ficou impune.
A Marcha das Margaridas foi criada como forma de dar visibilidade às lutas das mulheres do campo e da floresta e
para denunciar a impunidade contra as mortes de trabalhadores rurais.
Nas faixas que as mulheres portavam, demonstrava que a Marcha se consolidou na luta contra a fome, a pobreza e a violência de gênero a partir de grandes mobilizações nacionais realizadas em 2000, 2003 e 2007. Nesta edição de 2011, as mulheres marcharam com o tema “Desenvolvimento Sustentável com Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade”.
De acordo com a coordenação do evento, as pautas de reivindicações levadas ao governo partem da constatação de que a pobreza, desigualdade, a opressão e a violência predominam entre as trabalhadoras do campo e da floresta e contam de sete eixos, divididos em mais de 150 pontos, que abordaram questões como democratização dos recursos naturais, atualização dos índices de produtividade, fim da violência no campo, maior participação política das mulheres e melhores condições de trabalho, com autonomia e igualdade.
Antes de chagarem a Brasil, aconteceram vários atos políticos nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, coordenados pelas federações de trabalhadores e trabalhadoras rurais de todo o país.
No caso das federações de trabalhadores e trabalhadoras na agricultura da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Alagoas, Piauí e Sergipe, aconteceram na tarde desta segunda (15), na cidade de Barreiras, um encontro que reuniu 10 mil mulheres às 16h, na Praça Landulfo Alves. As representações de estados nordestinos denunciaram a agressão e a invasão do agronegócio nas cidades da região. Em Barreiras, segundo as ativistas, há avanço da ocupação de terras para o plantio de soja.
Um dos pontos marcante do ato em frente ao Congresso foi o pronunciamento da atriz Márcia Satyro.
Mulheres dos territórios do sisal e do Jacuipe – 23 ônibus de 45 regiões da Bahia foram mobilizados pela FETAG/Ba. Do território do sisal, foram 03 ônibus, que saíram ás 19h da cidade de Santaluz, passando pelas cidades da região. Ana Mari, residente na comunidade de Itareru, ficou satisfeita com o movimento e disse que as mulheres vivem um momento especial, principalmente porque o país é governado por uma mulher.
De Santaluz, vieram 15 mulheres, sob a coordenação de Valmira Lopes de Souza. Ela segurava uma faixa exibindo os produtos que são confeccionados pelo PPR um grupo de mulheres na comunidade do Miranda. Também marcaram presenças representantes da UNICAFS/Bahia e ARCO/Sertão. Outros três ônibus partiram dos municípios do Vale do Jacuípe.
Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas