Começou na sexta-feira (27) e terminou no inicio da tarde de domingo (29), no Colégio Estadual Paulo Freire, em Santaluz, o Seminário de Educação do Campo e a Feira da Agricultura Familiar do Território do Sisal. Os eventos organizados pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Santaluz, pela Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semiárido da Bahia (FATRES) e pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), atraiu durante os três dias aproximadamente 3 mil pessoas.
Mesmo antes da abertura oficial, na sexta-feira pela manhã, os participantes da Feira tiveram acesso à emissão de CPFs, Carteiras de Trabalho, cadastramento no INSS, cadastramento em programas sociais, além de acessos a créditos. Estas atividades foram realizadas através de um mutirão entre as Secretarias do Estado, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e órgãos governamentais.
Para o líder sindical, José Hamilton (foto), os eventos alcançaram seus objetivos, que foi fortalecer a agricultura familiar e com programação bastante diversificada com lançamento de materiais e discussão de questões sobre organização social, políticas públicas e cooperativismo, o lema proposto, “Construindo Desenvolvimento Sustentável”, foi bastante discutido. “Em resumo, a feira e o seminário foram cobertos de êxito e nós agradecemos aos parceiros, os apoiadores e todas as pessoas que trabalharam e participaram. No próximo ano, vamos nos esforçar para fazer bem melhor e maior”, garantiu Zé Hamilton.
O presidente do Sindicato, Amadeus Alves Santana falou ao CN sobre a importância da educação do campo na construção do desenvolvimento sustentável do território e nos três dias foram debatidos o histórico da educação do campo e o fortalecimento da agricultura familiar. “Com referencia a feira, em especial, no que se refere aos animais, eu sempre defendi que fosse expostos animais baratos, de forma que os agricultores familiares pudessem adquirir e não aqueles caros que estamos acostumados a vê nas grandes exposições”, externou Dedeu, como é conhecido o presidente do STRAF.
As instituições bancárias, Bando do Nordeste, Banco do Brasil e ASCOOB/Itapicuru, montaram stand e atenderam aos agricultores durante a feira. Para Cosme Arisvaldo, da ASCOOB/Itapicuru, a organização, o melhoramento genético constado durante o evento é fruto do trabalho contínuo das entidades.
O presidente da FATRES, João Nilton, conhecido por Pité, elogiou todas as entidades parceiras e destacou a importância do serviço de assistência técnica. Ele lembrou que a feira e o tema educação do campo, a anos passados, não eram pautadas e hoje é realidade e com o pensamento da permanência do homem no campo
A coordenadora do Programa de Educação do Campo do MOC, Vera Carneiro, ministrou durante o evento uma oficina sobre as relações entre a educação do campo, a agricultura familiar e o movimento sindical. “O principal objetivo foi justamente envolver a comunidade para a construção de políticas públicas de educação do campo, de forma a valorizar a agricultura familiar e oferecer oportunidades às pessoas que vivem e trabalham no campo, ou seja, agricultores, jovens e lideranças sindicais”, falou Vera.
José Jivaldo de Jesus, diretor da 12ª Diretoria Regional de Educação de Serrinha (DIREC 12), esteve presente na abertura do Seminário na sexta-feira à noite. Segundo ele, o Seminário foi um marco na história do Território, uma vez que, há 12 anos, a discussão sobre a qualidade da Educação do Campo é constante nesta sociedade e o momento foi de reflexão, resultando em encaminhamentos práticos sobre como educar dentro das escolas do campo.
Durante o seminários os participantes se dividiram em oficinas que trataram da formação inicial e continuada para gestores de Educação do Campo, da Educação e juventude no campo e pedagogia da alternância, educação do Campo e Agricultura Familiar, tecendo reflexões sobre o projeto político-pedagógico.
Também tratou da educação e infraestrutura escolar no campo, Desenvolvimento sustentável e solidário territorial, Educação do Campo e diversidade, meio ambiente e política de convivência com o semiárido e Educação de Jovens e Adultos e campo e seus: desafios contemporâneos. Participaram deste debate cerca de 400 professores, educadores populares, gestores, agricultores e estudantes do ensino fundamental, médio e superior dos 20 municípios que integram o Território do Sisal. O grande objetivo das oficinas, de acordo com Gileilda da Costa, secretária geral do STRAF, foi construir propostas de diretrizes operacionais para a Educação do Campo.
“Dentre tantos pontos importantes, destaco a pedagogia da alternância que, atualmente, merece uma atenção especial. Com esta pedagogia, trabalhamos a consciência do jovem do campo para que ele entenda que não é necessário evadir, ir para a cidade, para ser feliz e ter sucesso. Trabalhamos a realidade dele, que pode ser uma boa realidade”, diz Gileilda.
O diretor regional da CAR, Domingos Magalhães, elogiou a iniciativa de realizar a feira junto com o Seminário de Educação do Campo, dizendo que “este casamento deu certo”. Segundo ele, só com a educação do campo é possível mudar a realidade do Brasil. “O país tem uma dívida grande com o semiárido e é preciso ensinar o homem a viver com dignidade aqui no sertão e só com educação vamos fazer isso. É preciso aprender a conviver com o semiárido e com a seca. É preciso que sociedade civil, governo e agentes financeiros deem as mãos para que possamos aprender a produzir dignidade e cidadania no sertão”, falou o engenheiro agrônomo conhecido por Domingão.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (FETAG), Cláudio Bastos finalizou os pronunciamentos na abertura do Seminário destacando a importância da assistência técnica para a transformação de vida do homem e da mulher do campo. “A ATER é fundamental e este trabalho não pode continuar sofrendo com a descontinuidade. Esse modelo precisa melhorar e tenho dito isso ao ministro da MDA, Afonso Florence e a Presidenta Dilma”, falou Bastos.
Colégio Paulo Freira agora é Centro Territorial de Educação Profissional do Campo.
A notícia tão esperada pelos movimentos organizados da sociedade civil que lutaram pela implantação do Centro Estadual de Educação Profissional do Campo no Território do Sisal foi dada pelo Coordenador da DIREC 12, José Jilvaldo de Jesus na sexta-feira (19), durante o ato de abertura do Seminário de Educação do Campo, em Santaluz.
Jilvaldo comunicou que o ato que extinguia o Colégio Estadual Paulo Freire e criava o Centro Estadual de Educação Profissional do Campo no Território do Sisal Paulo Freire, havia sido publicado no Diário Oficial e que a Professora Maria Helena, a única diretora do quadro da DIREC 12, integrante história do movimento social, iria dirigir a unidade escolar profissional.
O comunicado foi festeja pela plateia e a história para concretizar este sonho foi lembrada pela Professora Maria Helena. Ele contou que no inicio se pensou num curso agrícola e, o sonho ampliado com o Centro de Educação Profissional. “Com apoio do movimento social, está acontecendo uma educação diferente pro território. Acredito que quando todos nós assumimos essa parceria, município e território assumem um novo caminho na educação”, falou a professora.
Ela destacou também a importância desse momento vivido pela escola, não apenas por Santaluz, mas para o Território, pois serão beneficiados os 20 municípios. “Essa conquista não é apenas de um grupo de pessoas, mas sim dos movimentos sociais, que é sem dúvida uma de suas bandeiras de lutas da trajetória de vida e militância em favor da defesa da melhoria de qualidade de vida das pessoas e para as populações lutadoras e aguerridas”, lembrou.
Para o fortalecimento da educação no território, foi lembrada a mobilização que está sendo feita pelo Consórcio Público de Desenvolvimento Sustentável do Território do Sisal – CONSISAL, pela implantação da Universidade com foco nas ciências agrárias e tecnológicas com cursos de gestão de cooperativas, agroindústrias, agronomia entre outros. O vice-reitor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Silvio Soglia, manifestou-se entusiasmado com a idéia, salientando que a luta deve ser imediata.
Segundo ele, com a expansão das universidades na Bahia, será implantado de um campus da DUFRB em Feira de Santana, e quem sabe, não chega ai território do sisal.
Silvio Soglia participou da abertura do seminário de educação do Campo e destacou um aspecto importante, ver a juventude evento, sendo despertado o interesse pelo conhecimento e pela educação. “A gente tem pouco a oferecer nesse aspecto. É por isso a região clama com toda justiça e é preciso que o nosso estado seja tratado de forma igual, pois não é possível que só os grandes centros tenham direito a receber universidades com estrutura tecnológica”, falou Soglia.
O líder cooperativista José Paulo, lembrou que este sonho também estar perto de acontecer e foi formada uma caravana de prefeitos e representantes da sociedade civil, que iram a Brasília nos dias 14 e 15 de setembro, pra exigir que a universidade do semiárido seja implantada e que os deputados federais da Bahia coloquem emendas parlamentares neste sentido.
Saiba mais sobre o território do sisal – O Território do Sisal é composto por vinte municípios e está situado na Região Sisaleira, no semiárido da Bahia com uma população de 579.165 habitantes. A denominação Território do Sisal se deve à tradicional cultura do sisal, também conhecido como agave, planta rústica originária do México, que se desenvolve em regiões semiáridas.
Além das atividades de exploração do sisal, que enfrentou um período de decadência após os anos 70, e das pedreiras, a base econômica é a pecuária extensiva e a agricultura familiar de subsistência, sujeita a longos períodos de seca que ciclicamente atingem a região, agravando os problemas sociais. Estes problemas aumentam ainda mais devido a falta de acesso da população aos serviços básicos como saúde, educação e a inexistência de políticas adequadas à realidade do semiárido.
Deputada destacou a importância dos jovens nestes movimentos
A deputada estadual Fátima Nunes (PT), a única parlamentar a participar do Seminário na noite de sexta-feira, destacou a importância dos jovens neste movimento, que foram maioria no plenário de abertura e nos dois dias de oficina. “Eu fiquei olhando pra plenária e observei a quantidade de jovens. Às vezes com sono por causa do cansaço. Mas fiquei olhando pra a energia de vocês que não permitiu cochilar e também observei a mesa e vi que havia apesar de diferença na idade biológica e que todos tinham uma boa energia. Que bom que vocês chegaram, porque eu fico pensando o que seria de nós se fosse a força, a coragem, a boa vontade dos jovens que a cada dia aparecem pra ajudar nessa luta”, falou a parlamentar que estar a 35 anos no movimento popular..
Texto Valdemi de Assis, com informações de Arlene Freire, das assessorias de comunicação do MOC, CODES e FATRES.