No dia 24 de agosto, pouco mais de uma semana, Alexvaldo Santos Silva, 40 anos, retornava de um trabalho em um povoado de Quijingue para Euclides da Cunha com um amigo em uma motocicleta quando o destino colocou uma carreta na frente dos dois.
A colisão gravíssima aconteceu na rodovia BR-116, nas imediações do povoado Queimada do Raso, já próximo de casa. Segundo o motorista da carreta, um buraco na pista o fez perder o controle da direção e avançar para a contramão. Morte instantânea, duas vidas interrompidas e mais famílias despedaçadas, sem saber como explicar aos filhos pequenos que o pai deles não voltará mais para casa.
Embora trágico e lamentável, o episódio envolvendo os dois euclidenses é mais comum do que muitos possam imaginar. Grande parte da rodovia no trecho entre Euclides da Cunha e Serrinha é repleto de buracos, responsáveis por aumentar, frequentemente, as estatísticas de morte por acidentes em decorrência do estado das rodovias federais.
Em alguns locais, classificar as condições da estrada como péssimas chega a soar um eufemismo. Crateras com diâmetro e profundidade capazes de consumir motos e pessoas tornam a viagem extremamente perigosa. É como estar diante de uma roleta-russa e ser obrigado a passar pela frente da mira diversas vezes.
Marilton Silva, irmão de Alexvaldo, sente essa sensação constantemente ao trafegar pela rodovia. Mas ele não estava preparado para a sensação do dia 24 envolvendo seu irmão e amigo. Nenhum familiar nunca está. E o governo, ao que tudo e os buracos indicam, está pouco se lixando pelas vítimas e pela dor das famílias.
Na manhã da última sexta-feira (30/08), Marilton transformou a dor da perda em combustível, pegou uma pá, encheu alguns sacos com cascalho e foi aos pontos mais críticos da BR-116 tapar buracos. O paliativo que ele fez ao longo de alguns quilômetros deverá durar mais do que o trabalho de recuperação que a empresa responsável pela manutenção faz no local quase que semanalmente.
Com o intuito de chamar a atenção das autoridades (competentes?), Marilton fez o que sua angústia pediu para fazer e o que pôde naquele momento, fotografou o resultado e postou nas redes sociais. “Sou engenheiro civil, tenho 47 anos, já executei pequenas obras de pavimentação asfáltica e nunca vi um asfalto de tão má qualidade como esse. Tem dois anos que ninguém vem inaugurar e semanalmente é tapa-buraco sobre buraco e ninguém mais consegue identificar o que é o quê”, relata.
Essa é uma triste e recorrente realidade. E para quem paga os impostos e espera a assistência do Estado, restam apenas os prejuízos materiais, a dor das perdas e o sentimento de impotência. Muitos Mariltons ainda sofrerão e diversos Alexvaldos terão suas vidas e histórias interrompidas. É um buraco profundo, sem sim e transbordando de sofrimento.
CN | Reportagem site Retratos e Fatos