Salvador – A uma semana da abertura oficial do carnaval da Bahia, e ainda sem perspectiva de fim da greve de policiais militares, empresários, músicos, representantes de blocos e da prefeitura se reuniram hoje (8) e decidiram fazer a festa independentemente da continuidade do movimento grevista.
Os representantes que fazem parte do Conselho Municipal do Carnaval tomaram a decisão política de fazer o evento, apesar de admitirem que o impacto da greve já é grande para o carnaval e para para a cidade de Salvador. “É claro que já tem um impacto enorme. Há nove dias os donos de bares e restaurantes não vendem nada. As casas estão vazias. O comércio está praticamente fechado. Todos os anos, nesta época, a cidade já está cheia, os hotéis sempre apresentam overbooking e a gente sabe que não é isso que está acontecendo”, disse Fernando Boulhosa, presidente do conselho.
Para Boulhosa, o governo tem que fazer todo esforço para que a festa ocorra sem problemas, porque, segundo ele, é dele a responsabilidade de garantir segurança pública.”Agora, não podemos ficar sem fazer o carnaval. Isso seria caminhar para o caos, e quem é que vai pagar a conta disso? Os empresários que sempre investiram na cidade?”, indagou.
O carnaval de Salvador gera cerca de R$ 1 bilhão em negócios. Antes mesmo da festa começar, os ensaios movimentam a cidade e atraem turistas. Este ano, contratos foram fechados com 550 patrocinadores. As maiores empresas do país e multinacionais estão presentes no evento que leva às ruas cerca de 2 milhões de pessoas. A expectativa de arrecadação da prefeitura é R$ 20 milhões em cotas de patrocínio. Nos três circuitos de rua estão distribuídos 50 camarotes. Além dos trios elétricos com as estrelas do carnaval, há 250 entidades carnavalescas prontas para o desfile.
Boulhosa disse que conversou ontem (7) com o governador Jaques Wagner, que garantiu a segurança para a festa. “O governador garantiu que haverá segurança no carnaval. A Polícia Militar é importante, mas a cidade não pode parar por causa disso. Diante da garantia do governador, nós adotamos o lema: Vamos Botar o Bloco na Rua”, declarou.
O presidente do afoxé Filhos de Gandhy, Aguinaldo Silva, disse que o bloco vai sair às ruas, mas espera que o governador tenha a sensibilidade de resolver a situação até o carnaval. Segundo ele, o bloco contratou 2 mil seguranças que atuarão dentro do cordão de isolamento e que, mesmo assim, cancelou os ensaios desta semana nas ruas do Pelourinho e do Campo Grande. O afoxé publicou, em em sua página na internet, comunicado sobre a falta de segurança. “Devido os transtornos causados pela greve da Polícia Militar, e prezando a sua segurança a Associação Recreativa Carnavalesca Filhos de Gandhy cancela o ensaio geral do bloco”.
Aguinaldo Silva disse que muitos fornecedores do bloco estão ligando preocupados com a situação. “Me ligam perguntando se devem mesmo entregar as mercadorias, as vestes e adereços. Está todo mundo preocupado”, disse. Quem também tem a mesma preocupação é Valdemar José de Souza, conhecido como Guru do Gandhy. “Não deixa de ser preocupante porque tanto o povo baiano quanto os turistas não estarão a vontade para brincar o carnaval”, declarou.
Shows de vários artistas foram cancelados no Pelourinho e em outras casas noturnas espalhadas pela cidade. Os espetáculos previstos para esta semana também não estão confirmados. “Só terá show na sexta-feira (10) se acabar a greve”, informou um funcionário o espaço do Sesc em Salvador, que fica na área mais nobre do Pelourinho.
O número de homicídios registrados na região metropolitana de Salvador chega a 135 desde o início das greve na terça-feira (31). A perspectiva é que o movimento ganhe força amanhã (9), caso os oficiais decidam em assembleia da categoria aderir à paralisação dos policiais militares.
Agência Brasil – Luciana Lima – Enviada Especial