Centenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Retirolândia, localizado no território do sisal, se reuniram na manhã de segunda-feira (09), na sede do Sindicato da categoria, para uma ampla discussão sobre estiagem que está castigando o município, onde falta água para o consumo humano e animal, além de comida para o rebanho e em consequência do sol escaldante, os campos de sisal secaram e 95% dos motores de desfibram o produto estão parados, causando, segundo o presidente da entidade, João Nilton Ferreira de Santana, desemprego e provocando um êxodo rural que há muito tempo não se via na região.
Pité, como é conhecido o presidente do STR, nos momentos que antecederam e após a reunião foram coletadas assinaturas em uma abaixo-assinad0 com o objetivo de entregar pessoalmente ao governador Jaques Wagner, solicitando recursos para a contratação de mais carros-pipa, frente de serviços e cestas básicas para as famílias que sobrevivem dos motores de sisal e que estão sem atividades. “A principio convocamos apenas os presidentes das associações, mas a notícia correu e o povo veio. A presença deste público confirma a agonia que estamos vivendo, tanto na sede, onde custa a cair água nas ruas e na zona rural, só tem água e a previsão, caso não chova, acabe em menos de trinta dias, na barragem de Maurício, na Fazenda Contador”, externou o líder sindical.
A referida barragem fica a 15 km da sede e há 30 km das comunidades localizadas nas áreas do Povoado de Lagoa Grande e Itareru, onde não existe mais água. “Os três caminhões pipa adquirimos pela Prefeitura através do Ministério da Integração Nacional chegaram em boa hora, são importantes e estão ajudando as pessoas, porém, insuficientes para a demanda e nós vamos lutar por mais”, concluiu o presidente.
A mobilização para a reunião começou na manhã de sábado (07) e logo a noticia se espalhou por todo município. O Ato que começou ás 09h, contou com a presença dos vereadores Agnaldo Lima (PMDB), Marinaldo Alves Maciel (PT), Roque dos Santos Alves (PRP) e do vice-prefeito Milton Cardoso (PRP), como autoridades constituídas. Para o vereador Agnaldo Lima, a realidade de Retirolãndia é a mesma dos 186 municípios que decretaram emergência e, além de provocar uma audiência pública na terça-feira (03), com representantes da EMBASA, os vereadores em comissão já foram à superintendência em Feira de Santana buscar solução para o problema e voltaram insatisfeitos ao saber que na região de Biritinga tem 13 poços tubulares perfurados e apenas dois funcionam. “A irresponsabilidade da EMBASA chega a uma dimensão, onde protocolei um oficio contando a realidade e pedindo soluções no mês de dezembro e até o momento não obteve resposta”, afirmou Lima.
Aproveitando a oportunidade, o parlamentar denunciou que os alimentos que foram enviados ao município foram distribuídos de forma indevida por dois vereadores, beneficiando as pessoas que não necessitavam. “Isto tem que ser distribuída pelas lideranças comunitárias e cabe uma ação judicial pelo desvio de finalidade de quem distribuiu”, concluiu.
Para Macarrão, com o é conhecido o vereador Marinaldo Maciel, deve ser criado uma comissão com representantes do poder público e da sociedade civil, garantindo que os benefícios cheguem às pessoas que necessitam. “Tenho aqui (apresentando um CD), depoimentos de pessoas que testemunharam famílias com bom poder aquisitivo receber os alimentos e vizinho que tinham realmente necessidade, passar a semana santa sem ter o que comer”, desabafou.
De acordo com o vereador Roque dos Santos, “Roque de Lé”, o problema da estiagem que aflige a todos e mais uma vez vê os agricultores familiares sendo assolados, aumentando diariamente o número de famílias atingidas e os homens tendo que buscar alternativas de sobrevivências em outras cidades, deixando mulheres e filhos. “Tem casa que não amanhece se quer um balde d’água para fazer café, lavar o rosto e escovar os dentes. Pode acreditar que isto é verdade e estar acontecendo em Retirolândia”, concluiu.
A representante do movimento de mulheres, Terezinha Santos Silva, ouviu atentamente o vereador Roque e confirmou que as mulheres são quem mais sofre neste período.
“Passei esta semana na casa de uma amiga e pedi um copo d’água e ela disse que ia pegar na casa da vizinha, pois não tinha se quer para beber”, narrou à líder feminista.
O vice-prefeito Milton Cardoso disse que esta realidade é antiga e que na eleição de 2008 convocou o povo para um projeto de mudança imaginando que nunca mais o município passaria por esta realidade, mas se decepcionou e mudou de grupo, porém com os mesmos ideais, colocar em execução um projeto de mudança e vê em Noé Silvestre Carneiro, líder sindical respeitado, o nome para condução deste projeto, pois foi quem coordenou os programas cabra escola, cisternas, PETI, banheiros populares, movimentos de combate a seca.
“Todos estes projetos, pensados também por Noé, deram certos, nasceram em Retirolândia e se espalharam na região”, falou Cardoso.
Milton isentou o prefeito Bequinho quando a denúncia do vereador Agnaldo Lima e garantiu que o mesmo não sabia da distribuição dos alimentos pelos vereadores da base da situação. “Não sei quais foram os vereadores, mas garanto que não tiveram autorização de Bequinho”, concluiu.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Bahia, Teodomiro Paulo, secretário do meio-ambiente da entidade, que representou o presidente Cláudio Bastos, disse que o problema é sério e Milton Cardoso mostrou coerência ao falar de projeto de mudança.
“Não deu certo com uma pessoa, escolhe outra e ele escolheu Noé para continuar seu projeto de mudança, principalmente preparando o município para estes períodos de estiagens, afim que as pessoas não sofram tanto e convivam com a seca, se preparem para este momento, pois, esta é a realidade da nossa região”, falou o representante da FETAG.
Noé Silvestre disse que o STR sai na frente lutando pelo beneficio do povo. Sobre a criação de uma comissão, Noé entende que tem que ser de imediato, pois as reivindicações que serão apresentadas ao governador, se aceitas, serão realizadas pela Prefeitura e é necessária a criação de uma comissão de acompanhamento. “Até o momento o Estado tem feito sua parte, o governo federal também, falta apenas a Prefeitura. Chega de tapeação, as ações tem que chegar até o povo, que realmente esta sofrendo”, falou o diretor financeiro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Noé orientou o povo a procurar a Secretaria de Assistência Social do município, pois todas as ações de combate a estiagem e apoio as famílias atingidas deve ser por meio daquele órgão. “Saímos desta reunião certo que vamos até o governador Wagner e ele vai ficar sabendo da real situação que vive Retirolândia e do sofrimento que vem abatendo nossa gente”, concluiu Silvestre.
Com a palavra Bequinho – O prefeito José Albérico, “Bequinho”, foi procurado pelo CN e confirmou o que havia dito pelo vice-prefeito Milton Cardoso. “Não autorizei a distribuição de alimentos desta forma e todas as ações a ser desenvolvida em combate a estiagem serão por meio da Secretaria de Ação Social. Quantos as caminhões-pipa, eles estão trabalhando diuturnamente e não esta conseguindo atender a demanda, pois falta água. “Nós também já conversamos com a EMBASA, fizemos vê a agonia que estamos vivendo e se não chover, teremos que buscar água em outro município, aliás, algumas vezes estamos buscando água na caixa d’água de Bandiaçú, em Coité, 30 km. “Imaginem o custo de um trabalho deste”, desabafou o chefe do executivo.
Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas