É bastante alvissareira a conquista do CONSISAL de uma extensão da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) na nossa Região. O futuro breve revelará o acerto desta luta. Como luzense adotivo, sou obrigado a abrir uns parênteses para lamentar o equívoco de Santa Luz não integrar aquele Consórcio Intermunicipal, ficando agora de fora desta importante conquista. Encerro esta nota com votos de que a próxima Administração Municipal, retornando aos trilhos do bom senso, corrija tal situação, retomando os investimentos no ensino superior. Seguramente, não há melhor medida de avaliação da responsabilidade de um Gestor Público do que o seu comprometimento com a educação, não só apenas no plano retórico, mas na capacidade de criar políticas renovadoras, dotadas de força para superar adversidades, transformando o quotidiano da população e a paisagem sócio-econômica das Cidades, Regiões,Estados e do País.
Qualquer estudo que se faça sobre o impacto de Faculdades e/ou Universidades nos Municípios de médio porte pelo Brasil,revelará o potencial transformador que têm aquelas instituições. Não precisamos ir muito longe para confirmar essa assertiva. As Cidades Sisaleiras que apresentam o maior PIB, segundo dados do IBGE de 2008, são sede de Campus da UNEB. Indaga-se se não há uma relação direta entre uma coisa e outra?
Não é segredo para ninguém o processo de decadência econômica vivido pelas Cidades do Recôncavo Baiano a partir de meados da década de 50, quando o Governo Brasileiro passou a investir massiçamente no transporte rodoviário, abandonando as ferrovias e a navegação. Com isto, Municípios como Cachoeira, por exemplo, perderam sua condição de entreposto comercial, que ligava o Sertão ao Litoral. Esse fato desencadeou um longo processo de esvaziamento de toda aquela Região, de tão longa e bela história cultural e política.Essa realidade começou a se modificar, a partir da decisão de ali ser implantada a Universidade Federal do Recôncavo Baiano, tendo como marco inicial o Campus da então Faculdade de Agronomia da Universidade Federal da Bahia. Tornar efetiva aquela decisão acarretou a canalização de investimentos para Cruz das almas (sede principal da futura Universidade), bem como para outros Municípios que receberiam unidades daquela Instituição de Ensino Superior.
Veio assim a contratação de mão de obra na construção civil para reforma ou construção de prédios, valorização imobiliária, criação de ampla rede de serviços para atender o novo contingente populacional que migrou para aquela cercania, composto de professores, servidores e alunos, afora profissionais que por ali passaram e ainda passam em caráter transitório. Dispensável é falar na agitação cultural que também veio com a UFRB. E tudo isso faz gerar riqueza, melhora o poder aquisitivo das pessoas, gera perspectivas para as famílias, cujos filhos não mais precisam buscar a sorte fora de casa, eleva a arrecadação de impostos, eleva a qualidade de vida, etc. Só para se ter uma idéia da repercussão econômica dessa Universidade, no ano de 2010, Cruz das Almas foi a 2ª colocada entre as Cidades Baianas na geração de empregos.
E nossa Região? Por que não uma Universidade? Já contamos com diversos cursos oferecidos pela Universidade do Estado da Bahia, além de outros tantos na modalidade do ensino a distância. Porém, podemos ter muito mais. A Região do Sisal tem muitos potenciais, que se bem aproveitados, liberariam seus mais de oitocentos mil habitantes do sofrimento que as condições climáticas lhes impõem periodicamente, como agora mesmo estamos vivendo. E uma Universidade local pode jogar papel relevante neste sentido. Como dito acima, de algum modo, a UNEB contribuiu para dinamizar a economia de Serrinha e Conceição do Coité, sobretudo no setor de serviços. Porém, os cursos que oferta concentram-se na área das ciências humanas. Ocorre que não precisamos apenas de professores e
pedagogos. Mas, as Instâncias que decidem sobre os cursos a serem disponibilizados não estão em nossa Região e, obviamente, precisam atender a demandas de todo o vasto território baiano, compatibilizando recursos que nunca estão no patamar desejado. Por isto mesmo, não podemos acusar a UNEB por esta limitação de matérias abrangidas.
As Universidades agregam as atividades do ensino, da pesquisa e da extensão. Sendo dotadas de autonomia administrativa e pedagógica, logo de partida, podem escolher os cursos a serem ofertados. Com isto, a Universidade do Sisal criaria cursos em áreas que a UNEB não oferta em nossa Região, os quais estariam voltados para as potencialidades econômicas locais. Nos campos da pesquisa e da extensão, muito se poderá fazer pela própria cultura do sisal, elevando o grau de aproveitamento desta fibra, agregando valor a mesma. O mesmo se diga quanto a caprino-ovino cultura e a mineração.
A ausência de um leque mais variado de cursos tem como conseqüência imediata a pouca oferta de mão-deobra qualificada da própria Região para os empreendimentos que aqui se instalam. Assim, os melhores postos de emprego são ocupados por gente de fora. Mas isto pode mudar.
Portanto, desfraldar a bandeira da Universidade do Sisal é um lance estratégico para renovar a matriz econômica desta Região, melhorando as condições de vida de sua gente. A meta é ambiciosa. O caminho é longo. Porém não devemos nos intimidar. Como disse Fernando Pessoa: É preciso ser realista para entender a realidade, mas é preciso ser romântico para modificá-la.
MARIO LIMA – ADVOGADO E PROCURADOR DO ESTADO