Tenho andado por muitas áreas da Bahia e vejo situações absurdas, com o patrimônio sendo dilapidado, seja por causas naturais que não são combatidas ou atenuadas, ações criminosas ou simplesmente desleixo.
Na Chapada Diamantina continuam sendo colocadas em prática as queimadas, o que tem devastado mata e bichos, terra e montes. Embora ninguém acredite, ainda existe a figura do garimpeiro, que também ajuda a arrasar com o ambiente.
No sertão vejo que as macambiras, os paus de rato, as umburanas, os ipês, os micos, as ararinhas, as raposas e as onças começam a fazer parte apenas do imaginário. Um agricultor de Queimadas me disse que faz mais de dois anos que não vê raposa, mesmo sendo feliz criador de gordas galinhas. Ararinha tem mais de dois anos que viu um casal e nem se lembra da cor.
No Recôncavo estamos perdendo a galope as belezas naturais. As praias próximas a Santo Amaro da Purificação atingidas por golfadas de esgoto in natura, grandes projetos imobiliários invadindo a orla e mesmo a cultura popular, com apoio pífio das autoridades, perde algumas das suas manifestações sendo preciso andar e investigar bastante para saber onde tem mesmo uma verdadeira Burrinha.
Na capital a situação é a pior de todos os tempos e o fogo que lambeu o Instituto do Cacau levou também uma parte da nossa memória.
Ninguém aguenta mais ver casarões centenários sendo levados pelas labaredas ou pela chuva e muito menos por um vento mais forte, somente porque os órgãos que deveriam cuidar do patrimônio passam batido. Não dá para aguentar ver os casarões caindo no Carmo, no Taboão, na Gamboa ou seja lá onde for. A cidade levou séculos para ter um perfil e aos poucos vai se descaracterizando.
Perdemos referências desde a modernização da capital, quando em meados do século passado os projetistas destruíram os prédios dos Correios, a Biblioteca e o Arquivo Público e antes tinha sido a sede da velha Sé. E fomos seguindo um caminho que vai do abandono do riacho do Cobre ao rio das Tripas, de São Batolomeu ao Abaeté. Estamos erodidos e mal pagos.
E quem quiser que tente mudar a situação que vai sofrer grande decepção. Empresários, Ongs e grupos culturais vêm tentando durante anos darem um jeito no Forte de Santa Maria, um dos três fortes da Barra, em Salvador.
Nada podem fazer, pois até para dar um prego na porta que está caindo é necessário enfrentar a burocracia ou enfrentar a ira do pessoal que “cuida” oficialmente do patrimônio. Enquanto isso o fogo lambe, o vento atiça, o salitre corrói e a chuva leva.
Jolivaldo Freitas