De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a automedicação pode ser compreendida como o ato de consumir medicamentos sem prescrição médica, no intuito de tratar doenças autodiagnosticadas ou aliviar sintomas. Fatores econômicos, culturais e políticos têm contribuído para o crescimento e a difusão do uso inadequado de medicamentos no mundo, tornando-o um problema de saúde pública.
Devido a essa problemática, estudantes de Biomedicina da Faculdade Nobre fizeram um estudo para avaliar a prevalência da automedicação entre populares de 20 a 40 anos residentes na cidade de Conceição do Coité, questionando sobre as causas que levam a realização da automedicação e os principais medicamentos utilizados.
O município de Conceição do Coité localiza-se no estado da Bahia, e está situado há 210 km de distância da capital Salvador. Segundo o censo do IBGE de 2010, o município tem a população total de aproximadamente 62.040 habitantes. A coleta dos dados foi realizada no dia 16 de novembro de 2012 no centro da cidade com a aplicação de questionários aos populares.
Foram aplicados 201 questionários, nos quais 57% eram mulheres e 43% eram homens. A faixa etária mais entrevistada foi dos 20 aos 40 anos. 83 % da população tem nível médio completo, e não são profissionais da área de saúde. Percebemos que a maior parte da população (79%) depende do sistema único de saúde (SUS) para atendimento, e a dificuldade para conseguir este atendimento, justifica a automedicação como primeira alternativa contra o tratamento os sintomas apresentados.
Observa-se que 45,5 % da população compra medicação com orientação própria e repetem o uso caso o tratamento dê certo, 92 % dos medicamentos comprados sem prescrição são de venda livre principalmente pra sintomas como dor de cabeça e dores musculares, e os produtos de venda (8 %) proibidas são geralmente para doenças que necessitam de acompanhamento médico, como hipertensão,doenças respiratórias, diabetes, câncer , entre outras. O medicamento mais utilizado são analgésico ( 45%) seguido de antibiótico (29%) e antiinflamátorio (26%).
Notou-se que 63% dos adultos entrevistados fazem a leitura da bula constantemente e 92 % acham que automedicação pode trazer sérios riscos a saúde, mas justificam esse ato principalmente a dificuldade de atendimento do serviço de saúde publico na cidade. Porém fatores culturais como costumes, influência dos amigos e familiares, e o fato de não gostarem de ir ao médico influenciam nesta decisão.
Acredita-se que nem sempre, o consumidor não tem experiência e conhecimentos necessários para distinguir e avaliar a gravidade das doenças e escolher o mais adequado entre os recursos terapêuticos disponíveis, o que leva a que a prática da automedicação seja bastante danosa para a saúde de quem a pratica.
A automedicação é uma prática preocupante por ser realizada de maneira inadequada, e muitas vezes com medicamentos que são necessários uma prescrição médica. O seu uso incorreto pode acarretar o agravamento de uma doença, uma vez que a utilização inadequada pode mascarar diagnósticos na fase inicial da doença. Portanto é necessário procurar um médico ao achar que tem algum problema de saúde, pois, o mesmo foi capacitado para orientá-lo prescrevendo o medicamento ideal ao cliente.
“Os resultados da pesquisa apontaram que o principal motivo para o uso irracional de medicamento em Conceição do Coité é a dificuldade de obter atendimento médico ou assistência farmacêutica, fato este que contradiz o que está estabelecido na Constituição Federal, que afirma em um dos seus artigos, que a saúde é um direito de todos e dever do Estado.
Considero que para além dos problemas de gestão municipal da atenção à saúde, deve haver um intenso controle social através da participação dos cidadãos nos conselhos de saúde do município para pressionar as autoridades para as necessidades de saúde da população. Não basta apenas os governantes atuarem, a população também deve fazer a sua parte organizando-se para cobrar das autoridades e se este processo for continuado, mesmo que em longo prazo, as conquistas serão obtidas”, ressaltou a orientadora da pesquisa Joilda Nery (foto dest.).
Ela disse também que, o uso indiscriminado de medicamentos é um problema de saúde pública em nosso país, sendo um comportamento muito influenciado pelas propagandas que podem motivar o uso irracional e prejudicial de medicamentos. Neste sentido, as ações da Política de Medicamentos do Ministério da Saúde, procura conscientizar os brasileiros sobre a utilização racional destes produtos.
“Armazenar as sobras dos medicamentos em casa favorece também o hábito, para tantas outras medidas estabelecida pelo Ministério da Saúde desde 2005, é a venda fracionada, onde o paciente leva para casa apenas a quantidade necessária para seu tratamento”.Finalizou a orientadora.
Joilda Nery. Professora de Saúde Pública e Educação em Saúde no curso de Biomedicina da Faculdade Nobre. Biomédica. Mestre e Doutoranda em Saúde Coletiva (UFBA).
Da Redação CN * com informações estudantes da FAN