As chuvas que caíram em Conceição do Coité na noite de segunda-feira (21), não só levou ao chão casas,como alagou ruas e avenidas e derrubou árvores. As tempestades também deixam rastro de destruição nas estradas vicinais e derrubou postes de eletrificação na zona rural do Distrito de Salgadália, distante 17 km da sede do município.
Segundo Antonio Gilberto Almeida, coordenador de transporte e estradas da Prefeitura de Coité, até ás 10h da manhã desta terça-feira (22), havia sido identificado 20 pontos críticos causados pela chuva e que exigiu interferência imediata do poder público.
Os problemas começaram em “casa”, segundo Di, como é conhecido Antonio Gilberto. As chuvas, acompanhadas por ventos fortes, derrubou o muro lateral do almoxarifado da Prefeitura, no perímetro urbano, situado ás margens da BA 120. “Foram derrubados aproximadamente 40 metros de muro”, estimou o coordenador.
Há 1,5 km do almoxarifado, também as margens da BA 120, no cruzamento de acesso ao Bairro Olhos D’Água e a estrada vicinal de Boa Vista, as águas abriram uma grande cratera provocando o desabamento parcial da borracharia e Posto de Lavagem Shalon. A proprietária do imóvel, Edna Nascimento da Silva, 70 anos, disse que ficou sabendo do incidente no inicio da manhã, mas, numa demonstração de muita fé, “agradeceu a Deus”, pelas chuvas e pela vida de um dos filhos que dormia na casa, porém o quarto onde estava ficou intacto.
Paralelo à casa que desabou, na pista da estrada vicinal ligando a sede do município aos Povoados de Nova Palmares, Laginha e Boa Vista, abriu três crateras e numa ação emergencial, caçambas locadas pela Prefeitura trabalhavam no local e aterravam, utilizando os entulhos deixados na queda do muro do almoxarifado.
Os moradores da Rua Anselmo José da Silva, bairro dos Barreiros, passaram a noite em “claro”, por causa dos problemas, já conhecidos por eles, causando pelas chuvas. O cenário deixado no calçamento, totalmente danificado, mostrava a força da água e, segundo Maria Nildes Ferreira Mota, a cada ano que passa os problemas aumentam e todos os gestores que administraram o município nos últimos quarenta anos foram procurados e prometeram solucionar o problema e o resultado é acumulo de prejuízo para os moradores.
Dona Maria Nildes externou esperança na nova gestão, pois venceu a eleição prometendo mudança.
A situação mais grave ocorre e ocorre com frequência a várias décadas na residência de Derlinda Carvalho Mota, que há 47 anos reside no cruzamento das duas ruas. Ela contou ao CN, que a intensidade das águas foi tamanha que invadiu sua residência e para não perder os móveis foi obrigada abrir três buracos na parede para escoar. “Está situação não pode continuar”, falou Derlinda, enquanto mostrava um dos buracos que foi aberto na sala principal da casa.
O pedreiro Deraldo Mota, contou alguns desentendimentos que houve com o ex-secretário de infraestrutura José Venandro, sobre a construção de uma contenção feita para proteger a casa da família. Em sua opinião, a solução é a construção de um canal, pois no passado,ele acredita que aquela rua tinha um riacho que escoava no antigo tanque da Pampulha.
A contenção com mais de um metro de altura não vem sendo suficiente para impedir que a água invada as residências que ficam próximas a esquina onde a correnteza desce com maior intensidade.
O problema chegou ao secretário interino de infraestrutura, Kleuber Cedraz. Ao CN, Kleuber disse que acionou o engenheiro da Prefeitura, contratado nesta gestão, para ir ao local e encontrar a solução definitiva. A esperança externada pelo secretário animou os moradores que ao longo do tempo viu solução provisória, ou seja o conserto do calçamento que jamais suportou a força das águas.
O carroceiro Cosme Oliveira, 50 anos, dois filhos, residente na Rua Jovilino Ramos, no bairro da Pampulha, chorou ao vê sua égua morta por afogamento no canal que desagua no antigo tanque do governo. Ele disse ao CN, que amarrou o animal no local que estava acostumado e quando a chuva aumentou correu para salvar e ao chegar encontrou apenas um pedaço da corda.Desesperadamente nadou na correnteza na escuridão, aproveitando o clarão dos relâmpagos, na esperança de encontrar, mas sem êxito. “Passei a noite sem dormir e hoje cedo, quando retomei as buscas, encontrei enganchada no túnel que passa por baixo do asfalto”, contou Cosme, ainda com o cabresto do animal na mão.
Demonstrando muito sentimento, Cosme Oliveira disse que teria morrido junto com o animal, caso tivesse encontrado, pois “era um inocente” e seu principal meio de sobrevivência, pois trabalha como carroceiro. “Nesta seca, gastei mais de R$ 400 de ração, pois a tinha como de minha família. Era ela que me ajudava colocar a feira em casa”, concluiu.
No Distrito de Salgadália, a chuva interditou a principal estrada de acesso ao Povoado de Campestre, derrubando um muro da chácara pertencente a Hugo Ribeiro, presidente da Rádio Comunitária Vitória FM e provocou várias crateras. As chuvas na região de Salgadália começaram ás 19h35 e intensivamente durou três horas.
Ainda nesta estrada, derrubou um poste de iluminação pública, causando queda de energia e a enxurrada levou 80% uma residência, onde morava a família de Odília Paulina de Matos.
No momento da chuva, não havia ninguém dentro de casa, pois segundo ela estava morando na sede do distrito por conta da seca e a mesma pretendia voltar para residência, juntamente com o esposo que estava trabalhando na cidade de Coité, no próximo domingo.
Ao vê o estrago, Odília Paulina, disse que o impacto maior foi no quarto do casal e que utensílios domésticos foram levados pela correnteza por mais de 500 metros. “Nunca vi um chuva com tamanha força aqui na região”, falou a dona de casa.
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Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas