O Brasil é conhecido mundialmente como o “país do futebol”. Os melhores jogadores do mundo são brasileiros. O campeonato nacional mais acirrado do planeta é o nosso. Temos a única seleção de futebol que participou de todas as Copas, levantando cinco vezes a taça. Faz parte da identidade cultural brasileira.
É o esporte favorito no país, onde será realizada pela segunda vez a Copa do Mundo de Futebol. Mas, será que temos condições de sediar o mundial? O investimento de bilhões em infra-estrutura terá um custo beneficio significativo? Os estádios serão concluídos a tempo? O país não teria outras prioridades? São estas questões, entre outras, que norteiam tal discussão levantada pela opinião pública.
Uma pesquisa realizada pela consultoria Sport+Markt atesta que a maioria dos brasileiros se posiciona contra o uso de recursos públicos na construção e reforma dos estádios: 63,7% reprovam. Outra pesquisa ratifica tal opinião e aponta os motivos principais mais citados: a falta de estrutura dos aeroportos e o atraso nas obras dos estádios.
Há pouco menos de 500 dias para a Copa, nove dos dez estádios que ainda estão em obras estão atrasados. De acordo com o Ministério do Esporte, o custo total das obras para o Mundial passou de R$ 5 bilhões em 2010 para R$ 7 bilhões em dezembro de 2012. Todos os 12 estádios irão custar mais caro que o previsto inicialmente.
O país, nos últimos 10 anos alcançou um crescimento socioeconômico relevante e consistente. Porém, setores como Educação, Saúde e Segurança demandam melhorias. Os cidadãos brasileiros (a maioria) não têm condições de bancar um plano de saúde e custear escolas privadas, o Estado é que tem de oferecer os serviços, pois paga-se imposto em demasia. É um direito constitucional. O povo não tem atendimento digno nos hospitais. Não pelos profissionais da saúde, mas pela falta estrutura para atender toda demanda. Os bilhões gastos (acima da estimativa) na construção dos estádios propiciariam melhoras relevantes nos hospitais públicos, investimento na educação e cultura. Enquanto se constrói estádios com capacidade de milhares de pessoas, faltam leitos nos hospitais para abrigar pacientes.
A grande mídia defende a realização do Mundial, pois vai arrecadar milhões com publicidade. Ainda, aqueles que são a favor do evento vão se sustentar na idéia de que a Copa vai trazer melhorias nos aeroportos, nas vias de transportes das cidades sedes, gerando milhões de empregos, e a estrutura será aproveitada futuramente. Mas a construção de hospitais e mais escolas também não trariam esses benefícios?
Certamente os estádios e os aeroportos ficarão prontos quando o prazo determinado pela FIFA estiver encerrando. O Estado vai gastar muito mais do que o valor estimado, pois aqui é onde se busca soluções em cima da hora. Esse é o “país do improviso”, onde ainda a carência de infra-estrutura básica ainda é evidente, mesmo com avanços significativos.
Como amante do futebol é uma alegria saber que o Brasil vai sediar uma Copa. Mas na condição de cidadão brasileiro, apoiado no senso crítico-social, concordo com o pensamento de que o país tem outras prioridades emergenciais que requer investimento de médio e longo prazo, e não poderia, por enquanto, realizar um evento deste porte e gastar tanto para um evento esportivo que dura um mês, no qual poucos brasileiros poderão pagar por um ingresso.