O procurador Regional Eleitoral Sidney Madruga pediu que as novas eleições em Muquém de São Francisco, que acontecem em 7 de abril, tenham reforço policial por conta do clima de agitação na cidade, que fica a 710 km de Salvador.
Segundo o Ministério Público Federal, também há relatos de ameaças de morte contra o promotor e o juiz de Ibotirama e de um incêndio no fórum da cidade. O pedido foi feito às polícias Federal e Militar, à Secretaria de Segurança Pública e ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
A cidade vive momentos de indefinição com a possibilidade da participação, nas eleições suplementares, do candidato vencedor em outubro – pleito que foi anulado. Marcio Mariano (PP) não apresentou no prazo a certidão negativa da Justiça Federal de 2º grau, documento que serve para atestar que o político não tem pendências previstas pela Lei da Ficha Limpa.
Até 19 de março, a Justiça Eleitoral da zona de Ibotirama, responsável pela região que abrange Muquém de São Francisco, não havia divulgado a decisão sobre a possibilidade de participação do candidato.
Irregularidades – Em 3 de março, um episódio por um cinegrafista amador na caminhada do candidato Evandro dos Santos Guimarães, o Vandim da Farmácia (PT), compõe o balaio de ilegalidades que caracterizam o processo eleitoral de Muquém. No município onde a riqueza dos barões do agronegócio contrasta com a dureza da vida de pequenos agricultores em seca, a reportagem ouviu e flagrou cenas e depoimentos que revelam compra de votos, abuso de poder econômico e uso da máquina pública para favorecer um grupo político.
Para entender a escalada que transformou a cidade em terra de ninguém, é preciso voltar ao fim de 2012, quando a Justiça cancelou as eleições para prefeito. Como em quase todos os pequenos municípios do Brasil, o bolo do poder em Muquém é dividido em duas fatias. De um lado, estava Marcio Mariano (PP), apoiado pelo então prefeito Zé Nicolau, reeleito pelo PMDB em 2008. Do outro, Vandim, que também disputou as eleições naquele ano pelo PV. Mas, por falta de uma certidão judicial, Mariano teve a candidatura indeferida pela Justiça Eleitoral.
Por efeito em cadeia, foram considerados nulos os votos dados a candidato do PP – 3.601, apenas 233 a mais que o rival do PT. Contudo, o percentual invalidado pela Justiça superou 50% da votação total. Índice que, pela lei, exige a realização de eleições suplementares, marcadas para 7 de abril, junto com 16 outras cidades brasileiras.
É nesse ponto que começa a montagem de um esquema de utilização da máquina pública com finalidade de vencer o duelo travado entre o 11 e o 13, como se denominam os grupos envolvidos na disputa, em referência ao número dos partidos nas urnas.
Penúltimo no ranking dos nove vereadores eleitos em outubro passado, com 295 votos, Osmar Gaspar (PT), aliado de Vandim, conseguiu apoio para se tornar presidente da Câmara Municipal. Com a cidade sem prefeito, Gaspar herdou o cargo por 90 dias, período necessário para finalizar a eleição suplementar, na qual os mesmos candidatos de de 2012 se lançaram às urnas, em um tipo de segundo tempo. Só que, dessa vez, é o time do 13 que manda no campo do jogo, com regras feitas ao arrepio da lei.
Fonte: Jornal Correio