A maior seca dos últimos 50 anos no Nordeste, está causando efeitos sem precedentes na produção agropecuária da região. A estiagem prolongada que atinge fortemente o semiárido baiano ocasiona a escassez de água pra consumo humano e animal, perdas na agricultura, redução na produção de leite, morte de gado, paralisação do trabalho da produção da fibra do sisal. Ou seja, um problema geoclimático, que provoca impactos sociais e econômicos, que inevitavelmente requer medidas politicas.
Mais de 150 municípios baianos estão em estado de calamidade devido à estiagem. Paralelo à situação caótica e lastimável, o preço dos alimentos estão subindo, embora o governo federal tenha desonerado o imposto sobre a cesta básica. Mediante este contexto, o êxodo rural se acentua, na medida em que a falta de trabalho no campo obriga trabalhadores a buscar emprego em outros estados nas lavouras e na construção civil.
A seca não é um fenômeno moderno. Há dados históricos que relatam períodos de seca desde o século XVI. Depois, houve várias estiagens prolongadas, dizimando humanos e animais, ao longo dos séculos seguintes. A previsão da ONU é que em 50 anos, o semiárido se torne deserto, com a degradação do solo, da vegetação, dos recursos hídricos. Uma tendência que se constata, uma vez que o volume de chuvas vem diminuindo nos últimos anos. Não se vê maiores colheitas de milho e feijão no semiárido, como no passado recente. Atualmente já não chove como outrora. Os reservatórios construídos boa parte no século XX, como forma de prevenção à falta d’água no sertão, já não dão conta da demanda, pela escassez de chuva, outros com grande volume, mas bastante poluídos.
Sendo assim, o desafio é implantar politicas públicas de convivência com a seca. Pois bem, seminários discutem o assunto, políticos vão às suas tribunas cobrar medidas emergenciais dos governos, projetos como, Bolsa Estiagem, Seguro Safra, créditos para trabalhadores rurais, construção de cisternas e adutoras, balcão de milho, doação de alimentos, transporte d’água para zona rural com carro-pipa, minimizam o problema, aparecem como viés de alívio da situação. São medidas paliativas de grande relevância neste contexto.
Porém faltam mais medidas. A letargia da burocracia demora os processos de repasse de créditos, enquanto animais morrem de sede e fome no árido solo do sertão, enquanto nossa gente passa enorme dificuldade, dividindo com os animais sobreviventes o resto d’água nas cacimbas. Ainda, há a indiferença de parte da sociedade e da grande mídia. Não há uma campanha e mobilização social para alertar e angariar fundos para famílias que estão precisando, enquanto milhões fazem questão de votar no paredão do reality show BBB. Raramente a mídia nacional passa uma reportagem abrangente da seca. Não há um investimento significativo dos governos para captação de água subterrânea, por exemplo. Mas bilhões são gastos nos estádios da Copa. A mobilização em forma de protesto se limita aos agricultores que sofrem na pele os efeitos da estiagem e demandam mais agilidade das politicas públicas. Diante deste cenário, o sertanejo insiste, persiste, pois “antes de tudo, é um forte”, já dizia Euclides da Cunha.