Seis jovens de classe média foram presos, ontem de madrugada, na Pituba, Costa Azul, Stiep e Imbuí acusados de tráfico de drogas. Dois deles são filhos de policiais. O grupo é acusado de vender maconha, cocaína e drogas sintéticas em boates e festas de música eletrônica em bairros como Rio Vermelho e Barra.
As prisões de Rafael Motta Cabral, 31 anos, João Carlos Montenegro de Oliveira, 28, Rafael Matos Ramos da Silva, 30, Igor da Silva Neto, 32, Roberto Wallace Carvalho Pinto, 24, e Estiven Anderson Silva Gonçalves, 36, foram resultado de uma operação conjunta dos departamentos de Narcóticos (Denarc) e de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, com apoio da Polícia Militar.
O grupo foi apresentado ontem à tarde na sede do DHPP, na Pituba. Roberto Wallace é formado em Direito e filho de um tenente-coronel da Polícia Militar. Estiven, filho de investigador da Polícia Civil, é estudante de Direito. A polícia não identificou a atividade dos demais presos.
Iniciada com trabalho de campo há cerca de quatro meses e deflagrada na madrugada de ontem, a operação, batizada de Austin, cumpriu 15 mandados de busca e apreensão nos bairros da Pituba, Costa Azul, Stiep e Imbuí.
Com o grupo foram apreendidos 15 quilos de maconha prensada, uma cartela de ácido, comprimidos de ecstasy, frascos lança-perfume, cartelas de Pramil (remédio que estimula a ereção), uma porção de cocaína e várias caixas de anabolizantes, além de uma balança de precisão e R$ 9,3 mil em espécie.
A polícia apresentou ainda três armas: uma pistola Glock, calibre 380, com carregador e munição, que estavam em poder de Rafael Mota, apontado como um dos líderes da quadrilha e que é investigado por outros crimes; e duas espingardas, calibres 12 e 32, com munição.
Experiência – Apesar de as prisões terem sido efetuadas em locais diferentes — os rapazes estavam em casa quando foram presos em flagrante — a polícia ressalta que todos integravam uma mesma quadrilha, com extensa atuação.
“Esses instrumentos apreendidos demonstram que essas pessoas estavam diretamente envolvidas com essa atividade ilícita do tráfico. Pelas circunstâncias, eles já atuavam há um bom tempo no ramo. Já estavam acostumados com a rotina do tráfico”, disse o diretor do DHPP, Jorge Figueiredo.
Armas de policial – As duas espingardas apreendidas com o grupo pertencem ao policial civil pai de Estiven Anderson Silva Gonçalves. De acordo com o delegado do Denarc, André Viana, as armas foram enviadas para o Departamento de Polícia Técnica (DPT), para passar por perícia que poderá apontar se foram utilizadas em outros crimes. Caso as espingardas não tenham registro, o policial civil poderá responder a processo administrativo.
Apesar disso, os dois delegados afirmaram durante a apresentação que os pais dos rapazes não têm relação com a atividade dos filhos. “Está descartado qualquer envolvimento dos policiais, muito pelo contrário. Nós ficamos até constrangidos, mas, independente de quem seja, fizemos o nosso trabalho. Os dois têm reputação ilibada”, disse o delegado André Viana, que não revelou os nomes dos policiais.
Rafael Cabral, Rafael Matos, João Carlos, Roberto Wallace, Igor da Silva e Estiven Gonçalves foram autuados em flagrante por tráfico de drogas e ficarão custodiados na carceragem do Complexo Policial dos Barris, à disposição da Justiça.
Um sétimo detido, Luís Arthur Carvalho de Farias, foi ouvido e liberado, após assinar Termo Circunstanciado por Uso de Drogas.
Acusados riem e perguntam se ‘sessão de fotos’ acabaria
Filho de um tenente-coronel da Polícia Militar da Bahia, o acusado Roberto Wallace Carvalho Pinto, formado em Direito, afirmou que a Justiça iria provar sua inocência. Durante a apresentação, os seis acusados se recusaram a mostrar o rosto, mas riram e questionaram se a “sessão de fotos” não iria acabar. “O processo na Justiça vai esclarecer tudo”, disse Roberto Wallace. Quando questionado se a droga apreendida pertencia a ele, se esquivou: “Não quero falar agora, não”.
Com uma tatuagem no braço direito em que se lê “Deus ilumine os meus caminhos”, Estiven Anderson, filho de um investigador da Polícia Civil, também não quis falar. Na Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE), onde os acusados foram ouvidos, o semblante dos familiares era de constrangimento. A mãe de um dos acusados pediu para que o filho não fosse fotografado e nem mesmo a advogada quis se pronunciar.
Fonte: Correio