Se os times da elite do futebol brasileiro, em suas estruturas carcomidas, arcaicamente hierarquizadas e mal administradas, pudessem evitar o rebaixamento para a divisão de acesso do seu principal campeonato, o fariam sem pestanejar, aliás, já o fizeram em outras inglórias épocas. No entanto perderiam a chance de ressurgir, de se renovar, de repensar e refletir os erros administrativos, as contratações malfeitas, rever inclusive o modo de como torcer. Nas últimas edições do Campeonato Brasileiro, grandes equipes sofreram com o descenso. A queda representa consequentemente a formulação de um elenco frágil, sem competitividade, muitas vezes entrecortado por vaidades e jogadores visivelmente descomprometidos. O Palmeiras sofreu o primeiro rebaixamento em 2002. As marcas de uma queda vertiginosa estamparam a insuficiência administrativa depois da Era Parmalat, aliada evidentemente às ingerências do presidente Mustafá Contursi e de um conselho deliberativo composto por senhores à beira da morte.
Esperou-se que, depois da queda, o clube alviverde alterasse alguns métodos de administração e passasse a contratar jogadores com o seu perfil e, sobretudo de acordo com um teto salarial previamente estabelecido; era importante também que o Palmeiras se renovasse politicamente e abrisse espaço para ex-jogadores atuarem como dirigentes. Oscilando entre campanhas que nunca empolgaram e formando times que não despertavam a emoção no torcedor – com exceção do time de 2009 que por pouco não conquistou o Campeonato Brasileiro –, o clube paulista chegou até meados de 2012 com a efusiva conquista da Copa do Brasil. Luiz Felipe Scolari, hoje treinador da seleção brasileira, conduziu o elenco à mais importante conquista dos últimos catorze anos.
Quatro meses depois, inegavelmente fatigados, entregues, os jogadores sucumbiram junto com o clube rumo à Série B.
E é aqui que entra o torcedor, este personagem primordial nas lutas campais travadas por homens a perseguir uma bola. A emoção trai o relato. A torcida que canta e vibra, dilacerada pela segunda vez, demora a entender que tudo aconteceu novamente e que, a força demonstrada dez anos antes, deveria romper as barreiras do coração e saltar do peito com o grito de devoção: Avanti Palestra! Em meio ao sofrimento e punição pela má competitividade, a torcida, imbuída da única atribuição que lhe permite estar perto do clube, idolatra. Bandeiras desfraldadas sobem pelas arquibancadas cobrindo cabeças extasiadas. E os momentos infaustos são esquecidos para referendar autoconscientemente uma volta ao posto de glória, de onde nunca deveria ter saído.
Pouco a pouco o sentimento de pertença invade cada torcedor no mais recôndito canto deste país. A torcida que acompanhou passo a passo, jogo a jogo, o intrépido desafio palmeirense na divisão de acesso à elite do futebol brasileiro, agora refaz os planos para 2014, remonta ao dia 26 de Agosto de 1914, quando descendentes de italianos fundaram o Palestra Itália. A trajetória da Sociedade Esportiva Palmeiras é cheia de altos e baixos, vitória e derrotas, conquistas e dissabores, assim como acontece na vida de qualquer ser humano. É bom lembrar que as instituições, por serem comandadas por pessoas, são passíveis de erros e acertos. Isto, no entanto, não altera em nada o amor da torcida ou o desejo que ela tem de sempre ver seu time em meio aos grandes. O Palmeiras, como gigante que é, retorna ao lugar de onde nunca mais deverá sair.
Mailson Ramos é bacharelando do curso de Comunicação Social | Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). É colunista do Observatório da Imprensa e do portal Calila Noticias. Criou e administra o blog Opinião & ComTexto. É autor do livro Anjo Devasso e Outros Contos, publicado pela Livraria Saraiva.