Antes de responder a esta questão, é necessário desmistificar alguns conceitos equivocados sobre a política. Para tanto, recorramos à gramática. A palavra política é um substantivo primitivo que originou outras novas palavras – derivados – que podem ser utilizados como sinônimos, de maneira pejorativa, embora não façam jus ao seu verdadeiro significado. O Dicionário Eletrônico Houaiss, entre outras definições, cita que a política é a “arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido, influência da opinião pública, aliciação de eleitores etc.”. Cumpre dizer que a politicagem, o político, a politicalha, a politicaria são substantivos derivados que estão ligados ao imaginário popular, por meio do descontentamento com a classe, para desprestigiar a essência, para sequer discuti-la, para criar motivos de desagrado perpétuo, insuflados dia após dia.
O sistema de representação, a democracia e a estabilidade das instituições públicas, mesmo com todas as defasagens, nos permite discutir sim sobre a política. E talvez o grande erro do povo brasileiro seja não discutir a política com seriedade, com maturidade, abandonando o apego às ideologias e interesses pessoais que durante muito tempo se impuseram sobre a nação e o bem comum. Há quem compare a política com o futebol ou a religião pela paixão que desperta nas discussões. E talvez os dois últimos assuntos sejam mais discutidos pela população do que a política. Quando os ânimos se exaltam, as verdades do outro parecem afrontar cada vez mais a um embate nada positivo, a discussão é suspensa, quando não chega às últimas consequências.
Ninguém é tão superior ao outro que não possa ouvi-lo. A chave desta discussão é compreender que sem diálogo não há política. O afastamento da administração pública provoca um vácuo na relação que tem com as populações sob sua tutela. Isso provoca uma descrença na comunicação, enfraquecendo os laços de união que devem existir entre quem governa e quem é governado. Ora, como essas pessoas acreditarão na política ou que alguma discussão relacionada ao tema será de inigualável importância para sua vida?
Não é possível tirar das pessoas a opinião que elas têm da política, do sistema, da positividade desta discussão. Mas é preciso convir que o amadurecimento da cidadania não depende das palavras dos senadores e deputados nos púlpitos do |Congresso Nacional, nem mesmo de suas ações e medidas. A aptidão para construir o Brasil mais justo e livre das amarras da corrupção está no discurso bem elaborado, no senso crítico desenvolvido, numa idealização de sociedade coletiva e dialógica. Não somos mais do que resultados das escolhas que fazemos, sejam elas boas ou ruins. O fato é que quando não se discute, não há debate, não há possibilidade de comparar. É saudável discutir a política à medida que cresce o desejo da população em ser governada por políticos de verdade e não por cópias malfeitas.
Mailson Ramos é estudante de Relações Públicas e autor do livro Vossa Eminência.