A situação dos médicos, no Brasil, hoje, tem reflexo imediato sobre o nível de atendimento e insatisfação dos pacientes (preferi não usar o termo cliente). Eles são, praticamente, reféns dos planos de saúde e até, pasme, pelos laboratórios, que agem de forma unilateral na relação comercial entre as partes. Todo médico que conheço e trabalha com plano, sonha um dia, se livrar deles. Mas é difícil no contexto atual e na relação de dependência.
O Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes. Pelo menos 50 milhões de pessoas fazem parte do serviço médico supletivo e 150 milhões estão na rua da amargura. No nosso pais, parece que temos dois tipos de medicinas: uma para quem só tem direito a ter febre, infecção respiratória, infecção intestinal, infecção urinária, hipertensão arterial e diabetes; e a outra dos quais tem o direito de ter de tudo.
Abrem-se escolas médicas sem hospitais escolas, o que é uma absurdo e uma grande falta de responsabilidade. Pergunta-se, a quem interessa destruir todo este sistema? De zero a quarenta anos, a sinistralidade gira em torno de 2% e a partir deste ponto ela cresce exponencialmente, daí a rejeição pelos planos de saúde quanto a estas faixas etárias.
Noventa por cento dos contratos pacientes x planos de saúde são pessoas júridicas aonde os orgâos reguladores não interferem nas periodicidades de reajustes. Por outro lado, há mais de 10 anos os reajustes aos serviços médicos estão aquém dos índices inflacionários. Nos dias atuais com estes reajustes insuficientes, os custos de um consultório médico gira em torno de 75% da remuneração de quem trabalha com os convênios.
Nos últimos anos com a chegada da informática, muito sabidamente, todos os custos de atendimento foram repassados aos serviços médicos. Percebendo a fragilidade e a desinformação destes profissionais como gestores, os empresários do setor, se interpuseram entre o paciente e o médico, chegando ao cúmulo de colocar preços nos serviços prestados por estes profissionais, pagando quanto querem e quando querem. Achando pouco, eles ainda criaram as famigeradas glosas, postergando ainda mais as remunerações aviltadas pelos serviços prestados.
Creio que estão matando a “galinha” dos ovos de ouro, pois um negócio só é bom, quando as duas partes se beneficiam. Esta situação já está atingindo a “principal parte do corpo humano”, o bolso. Já não é dado mais ao médico o direito de parar de trabalhar mesmo como “autônomo” e de se aposentar. Uma contrarreação, fatalmente virá e espero que seja e creio com o diálogo como pessoas instruídas, civilizadas e inteligentes que somos.
Que os conselhos médicos de todos os estados da federação saiam da inércia, constituindo equipes técnicas com profissionais qualificados obtidos no mercado, respaldando as reinvindicações em números e que paralelamente profissionais da comunicação também contratados, tentem sensibilizar os médicos de todos os rincões possíveis a respeito do momento atual. Pois, se não se derem ao respeito, quem irá os médicos? Se depender dos órgãos de regulamentação, os planos serão semnpre beneficiados, como vêm sendo, inclusive com propostas de emendas constitucionais, colocadas à sorrelfa na Câmara dos Deputados, que visam beneficiar as operadoras em detrimento do doente e dos médicos.
Os médicos não podem esquecer que seus serviços, só eles podem realizar, e que mesmo dentro de uma mesma especialidade, existem as subespecialidades, as quais nem eles têm a capacidade imediata de executa-las. É preciso fazer valer a CBHPM com os reajustes periódicos e torná-la universal em todos os seguimentos da medicina. Consultórios, clínicas e hospitais estão fechando sucessivamente as suas portas em todo o território nacional. Se a classe não se unir estará passando atestado de incompetentes, burros e obtusos. O fato de não desencadearem, já, uma contra reação efetiva e inteligente, os transformará, em breve, em meros funcionários dos grandes grupos econômicos (e ai vocês verão o que realmente é ser explorados), os quais já dominam uma boa parte do mercado de saúde em nosso pais. Depois não se queixem que não foram avisados.
Mas, leitor, pasme que até os laboratórios farmacêuticos estão fazendo os médicos de reféns, e isso termina por resvalar em seus interesses. O laboratório “tem” em suas mãos profissionais especializados com no mínimo 10 a 12 anos de estudos (6 anos de curso básico, mais 2 de medicina interna e 2 a 4 anos na especialidade), que “trabalha” para eles, sem direito a salário, décimo terceiro, férias; e se este for acometido de um sinistro, é por sua conta e risco.
Claro que o laboratório compra os seus insumos básicos em toneladas e vende em miligramas e tem o médico como o seu principal vetor (médico x paciente), “trabalhando” em progressão geométrica (se determinado produto é prescrito no mês com uma média de 30 caixas, no próximo seriam 60 e no seguinte 90 e assim sucessivamente).
A nossa população está envelhecendo e tornando-se “fármacos-dependentes”, sendo este um extraordinário filão de mercado a ser explorado pelos laboratórios. Sendo assim, no mínimo os laboratórios deveriam respeitar mais e investir na reciclagem do conhecimento destes profissionais, levando estes a frequentarem bons cursos, seminários e congressos nas suas diversas especialidades, uma vez que não se trata de custo e sim de investimento, permitido por lei e dedutível no imposto de renda destas empresas.
Imagine em se comprando um pacote de viagem com meses de antecedência a um congresso no exterior, tudo sairia aproximadamente pela metade do preço. Coisa barato. Isto é o que ganharia um profissional especializado em “trabalhar” para estas empresas aonde muitas delas são multinacionais, as quais faturam bilhões de dólares ano. Vender remédio é muito fácil, é so estabelecer a regra básica do triângulo: Preço, qualidade e parceria. E olhe lá que os dirigentes destas empresas conhecem muito bem a máxima do Pareto. Médicos, acordem! Uni-vos.