Apesar de ser proibida pela legislação eleitoral, a prática de fazer propaganda de candidatos próximo aos locais de votação, chamada boca de urna, ainda é registrada nas eleições. Mas, na avaliação do cientista político Leonardo Barreto, especialista em comportamento eleitoral, a boca de urna perdeu importância nos últimos anos, porque poucas pessoas deixam para escolher o seu candidato na última hora.
“Hoje temos pesquisas que mostram que o percentual de pessoas que deixam para escolher seus candidatos em cima da hora é algo em torno de 10% dos eleitores. A maior parte das pessoas já vão sabendo, muitas vezes vão indecisas, mas não é que elas não tenham ideia, às vezes estão com dois candidatos na cabeça”, disse.
Além disso, a boca de urna pode não ser tão efetiva para a decisão dos eleitores, segundo Barreto. “O eleitor que vai sem saber o que fazer pode até votar em quem está fazendo boca de urna, mas pode também pegar um santinho no chão, pode encontrar uma pessoa na fila. É muito aleatório, não tem um nível de controle”, disse. Para ele, o principal objetivo da proibição da propaganda no dia da eleição é organizar o pleito e evitar a violência e o confronto entre os candidatos e eleitores.
Para Barreto, o rigor na fiscalização reduziu bastante a prática de boca de urna, até mesmo com o apoio dos próprios eleitores, que agem como fiscais. “Hoje ficou muito mais complicado fazer boca de urna, e reduziu bastante por causa dessa capacidade de fiscalização que todo mundo tem atualmente”, avalia.
Por outro lado, a cientista política da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) Maria do Socorro Sousa Braga avalia que a prática da boca de urna pode influenciar no voto dos eleitores que acabam decidindo seu candidato no caminho entre sua casa e a seção eleitoral. “É uma fatia menor, mas sempre é uma intervenção, por isso que a lei coíbe essa prática. E ainda tem muito [boca de urna], principalmente em regiões com menor controle. Isso acaba afetando o resultado eleitoral em algumas cidades”, avalia.
De acordo com a Lei das Eleições, arregimentar eleitores ou fazer propaganda de boca de urna no dia da eleição é crime, com punição de detenção de seis meses a um ano. A legislação permite, no dia do pleito, a manifestação individual e silenciosa da preferência do eleitor, com uso de bandeiras, broches e adesivos.
Nas eleições municipais que estão sendo realizadas neste domingo (2) em todo o país, 21 candidatos e 142 eleitores já foram presos em flagrante por cometer alguma irregularidade, como divulgação de propaganda proibida e boca de urna.
Agência Brasil