Meu melhor Carnaval foi o primeiro que saí em 1970. Foi tão bom que não acostumei com os outros carnavais e hoje sou mais um folião de ver pela TV do que ir atrás do Trio elétrico. Se bem que quase ninguém vai mais atrás do trio, a não ser entre as cordas, com seguranças e cordeiros. Nos anos 70 do século passado todo mundo ia de cara enfrentar a lateral dos trios. Era na lateral onde tudo acontecia: beijos roubados, roubar mulher dos outros, perder as mulher da gente, trocar sopapos, dar rasteira, bater ombro a ombro e depois de tudo, na quarta-feira, dizer aos amigos, comemorando, que foi um Carnaval dos diabos. Bom por demais. E ficava a saudade.
Na minha fátua lembrança ainda vejo que depois de anos de timidez – pode acreditar que um dia fui tímido e por causa disse deixei de comer um bocado de amigas, colegas, primas e vizinhas – tomei coragem. Fui ao comércio do bairro da Calcada, faltando uns dias para o Carnaval, e depois de catar as moedas, comprei uma chita para fazer uma fantasia de pierrô. Era um pano horrível, mas que um amigo me disse que no Carnaval “quanto pior, melhor”.
Não tinha grana para pagar a uma costureira de mão cheia e minha melhor amiga de todos os tempos Zafira Miranda – tia da excelente jornalista Doris Miranda, do Correio -, pessoa por quem até hoje sou extremamente saudoso, decidiu pegar uma máquina de costura Singer e enfrentá-la para fazer minha fantasia; ela que nunca tinha costurado mais que uma camisa…, e olha que foi um horror.
Fui para o trajeto dos trios. Subi o Elevador Lacerda cheio de alegria. Era meu primeiro dia na vida indo ao Carnaval. Ficamos, eu e meus amigos, tendo como base de encontro o Palácio do Rio Branco., na Praça Municipal. E de lá tudo passava: o trio da Saborosa, Dodô & Osmar com meu querido e saudoso amigo o professor Valter Miranda tocando seu indefectível bumbo, na maior cara feia; os blocos “Vai Levando! e “Os Loucos”. Fui atrás do trio e voltei sem a fantasia. Vou explicar a seguir.
Acontece que, como era a primeira vez que minha amiga tinha feito uma fantasia, nem tudo deu certo. O gancho, que é a parte da fantasia do pierrô (ou careta) que fica embaixo dos eggs, ficou curto. Cada vez que eu levantava o braço parecia que ia cortar a virilha no meio. Mas, no meio da alegria eu esquecia e levantava o braço. E lá vinha a dor.
Mas não esmoreci. Segui os trios, andei nos blocos, ganhei uma menina, tomei minha primeira bebedeira e jurei que nunca mais tocava em álcool. E voltei para a casa quase sem minha fantasia de chita, pois ela não aguentara o rojão. Cheguei em em êxtase. Com o diabo no corpo. E nuca mais que o diabo saiu. Nem com banho de folha.