![Morte de Sem Terra em Teofilândia - foto- Raimundo Mascarenhas](https://i0.wp.com/www.calilanoticias.com/wp-content/uploads/2012/04/lider-mostra-o-local.jpg?resize=550%2C339&ssl=1)
A polícia de Teofilândia ainda não tem pista de Valmir Bispo Campos, 30 anos, morador no Povoado de Baixão, zona rural do município, filho do fazendeiro Emar Pinto Campos, que é acusado de ter assassinado o sem terra Edvaldo Bispo de Santana de 54 anos, que residia no Povoado Olhos D’água. O crime aconteceu quinta-feira (12/04/12), ás 11h30 no cruzamento da estrada vicinal de acesso ao Povoado do Setor á Biritinga com o corredor que foi recentemente ampliado pela Prefeitura na região da Fazenda Boa Esperança, onde ficavam os barracos dos sem terras que ocuparam a fazenda em 2009.
![Morte de Sem Terra em Teofilândia - foto- Raimundo Mascarenhas](https://i0.wp.com/www.calilanoticias.com/wp-content/uploads/2012/04/azulão.jpg?resize=139%2C178&ssl=1)
Segundo depoimento a polícia, Paulo Santos disse que houve uma discussão entre Emar e Vardinho, que não gostou da ação do fazendeiro em cercar o principal acesso das 20 famílias que haviam ocupado a terra e questionava, que ele não era dono da área e se tratava de um terreno improdutivo e insistia em dizer: “você está fechando nosso caminho e isto não está certo, pois você não é dono de nada aqui, foi quando Vardinho foi atingido por um golpe de estaca desferido por Valmir Bispo”, contou Paulo.
Depois de praticar o crime, os três, percebendo que Vardinho estava morto deixaram o local e o corpo do sem terra próximo da bicicleta e caído por cima do facão na bainha, aparentando não ter ocorrido resistência por parte de Azulão.
O agricultor conhecido por Zé Martinho havia passado momentos antes e viu os três trabalhando na construção da cerca e ao retornar, encontrou o corpo de Vardinho ao lado da bicicleta e os três homens não mais estavam no local, deixando apenas a corda que estava sendo usada para esticar a cerca e duas bolas de arame farpado, tendo levado na fuga apenas os instrumentos de trabalho.
Trabalhadores voltam à área ocupada
![Morte de Sem Terra em Teofilândia - foto- Raimundo Mascarenhas](https://i0.wp.com/www.calilanoticias.com/wp-content/uploads/2012/04/toinho.jpg?resize=306%2C210&ssl=1)
Após o assassinato de Vardinho, os trabalhadores voltaram à área de conflito na manhã de segunda-feira (16), acompanhado da equipe do CN e do segundo secretário de Política e Agrícola e Agrária do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares (SINTRAF), Lírio Rosa de Jesus “Lirão”. Um dos momentos de tensão foi quando o agricultor Antônio Cerqueira Fagundes, “Toinho”, cunhado da vítima, se deparou com a grande quantidade de sangue que ainda existia no local e se afastou dos companheiros e começou a chorar e dizer que este crime não ia ficar impune e confiava na justiça do “céu” e da “terra”.
A terra em questão é a Fazenda Boa Esperança, com duas mil tarefas, situada há 27 km de Teofilândia e 9 km do Povoado Setor. A princípio as terras foram adquiridas pela Empresa Agrícola Santo Amaro em 1981 que pretendia plantar eucalipto, cuja experiência não deu certo e foi contratado José Ovídio dos Santos, morador da região, para ficar tomando conta e alugando para criação de gado, segundo um dos ocupantes, Manoel Santos, 57 anos. Com o passar do tempo, a empresa deixou de repassar o pagamento do contratado, inclusive com carteira de trabalho assinada em 05 de janeiro de 1983, criando especulação em torno da ocupação da área e Ovídio dos Santos, diante dos comentários, cercou uma pequena área de 100 tarefas, onde trabalha e sobrevive com a família.
Este é terceiro grupo que ocupa a área. O agricultor Sílvio Santana, 42 anos, contou que inicialmente um grupo de sem-terras veio de Feira de Santana em 1998 e ficou por um pequeno período na ocupação e no ano seguinte (1999) o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Biritinga organizou outro grupo de trabalhadores, criou uma associação e ensaiou a divisão dos lotes, mas a experiência também não foi à frente.
Em 2003, de forma mais organizada, um novo grupo com 20 famílias procurou a Coordenação de Desenvolvimento Agrário – CDA, órgão vinculado a secretaria de agricultura do estado da Bahia, comunicou a existência da terra e o desejo de ocupar. Foi orientado a criar uma associação e tudo transcorria normal, até o surgimento de um documento, que eles dizem que foi falsificado por Emar Pinto Campos teria comprado 1.420 tarefas de um homem identificado como Amado Ferreira Medeiros.
![Morte de Sem Terra em Teofilândia - foto- Raimundo Mascarenhas](https://i0.wp.com/www.calilanoticias.com/wp-content/uploads/2012/04/casas-queimadas.jpg?resize=313%2C210&ssl=1)
Emar disse ter uma liminar concedida pelo então juiz Edvaldo Jatobá (falecido) e se sentindo dono, recentemente vendeu 304 tarefas por R$ 60 mil, tendo recebido apenas R$ 30. “A questão agrária aqui na região tem provocado morte. Este é segundo caso, pois na virada do ano 2001/2002, foi assassinado na área de ocupação da Fazenda Varginha, o líder Sindical Edvaldo Lima. Daí a nossa pressa em resolver de forma pacífica e conforme a justiça”, concluiu o agricultor.
A tensão na área é muito grande, pois no domingo de páscoa, quatro dias antes do assassinato de Vardinho, atearam fogo em todos os barracos onde ficam os trabalhadores e seus familiares. O primeiro a chegar para trabalhar na segunda-feira (09), foi José Ferreira, 58 anos, e se deparou com o quadro pavoroso de todos os barracos destruídos pelo fogo e o plantio das árvores frutifica arrancadas. “Aproveitaram que a gente estava comemorando a páscoa na comunidade do Setor, para fazerem esta tragédia, pois se a gente tivesse aqui, isto não acontecia. Durante a semana permanecemos trabalhando e conosco mais de 20 cachorros, já para impedir que estranhos se aproximasse dos barracos”, contou Zé Ferreira.
Decididos a permanecerem na terra, os trabalhadores disseram que vão reconstruir os barracos, continuar a organizar suas roças e criaram uma comissão para ir a Salvador pedir agilidade neste processo a CDA, temendo que possa acontecer outro crime.
Os agricultores disseram também que Emar, pai de 12 filhos, a maioria residente em São Paulo, responde outros processo por causa de questões agrária.
Família pede Justiça
A equipe do CN foi até a residência de Edvaldo Bispo de Santana, na região dos Olhos D’água e encontrou com José, Carlos, Selma, Ailton e Edmilson, cinco, dos seis filhos que a vitima deixou. A viúva Maria Cerqueira e a filha Telma, tinham viajado para a cidade, onde foram resolver assuntos relacionados à bolsa família
Selma Fagundes Santana, casada, residente no Povoado do Setor, onde o corpo do pai foi velado, contou que em outras ocasiões que seu pai se encontrava com Emar acabava em “bate-boca”, por causa das terras. “Esse monstro (referindo-se ao acusado de ter assassinado o pai), mora no Povoado do Baixão e passava sempre pela estrada do Setor ao Quererá (Araci) e quando se encontravam acontecia, casualmente este bate-boca”, falou Selma, enquanto aclamava um dos irmãos que mora em Minas Gerais, veio para o sepultamento do pai e retornou na noite de segunda-feira.
Selma não sabe qual será o destino da mãe, se fica morando na “roça”, uma casa cercada de pés de cajueiros, em um pequeno espaço de terra, de onde a família tira o sustento, com dificuldade, já que Vardinho “se virava” com a venda das raízes de pau do mato ou se vai para o Setor. “Nós não vamos fazer justiça com as nossas mãos, entregaremos a Deus e a Justiça dos homens. Esperamos que ele pague pelo crime, pois meu pai era uma pessoa muito boa”, desabafou.
![Morte de Sem Terra em Teofilândia - foto- Raimundo Mascarenhas](https://i0.wp.com/www.calilanoticias.com/wp-content/uploads/2012/04/lirao.jpg?resize=238%2C300&ssl=1)
O líder Sindical Liro Rosa, “Lirão”, lamentou que apenas o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Conceição do Coité esteja junto com os trabalhadores neste momento de dor. “Só eu de sindicalista estive no velório e no sepultamento e não é assim. Numa luta, todos devem participar e vamos continuar ajudando e orientei as famílias que não desista de lutar pela terra”, falou Lirão.
Segundo o sindicalista, a solução do problema esta bem avançada junto a CDA, inclusive com a inclusão dentro do plano de habitação rural e a do assentamento será em um local dos mais bonitos da região e esta sendo implantado um projeto de energia eólica, que provém do vento e das torres, como experiência, estar sendo assentada. “Este assentamento será uma referência, pois as terras são boas, estão improdutivas, será beneficiada com energia eólica e a CDA tem que adiantar o processo, pois as pessoas querem viver e trabalhar de forma digna”, afirmou Lírio Rosa.
Ao passar pela delegacia de Teofilândia no final da manhã de segunda-feira, Lirão ficou revoltado ao saber que ninguém havia sido preso até o momento, ao contrário das conversas na área da ocupação. O pai do autor suspeito, Emar Pinto Campos e o seu emprego Paulo Santos, foram ouvidos e liberados pelo delegado titular daquela cidade Getúlio Queiroz. “Sabemos apenas que o motivo da agressão foi por causa de uma cerca construída na localidade próxima ao acampamento Santa Virgínia, onde o fato aconteceu”, resumiu um agente que estava de plantão.
Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas