Pior coisa do mundo é não ser autoridade tipo presidente ou ex-presidente, senador, deputado e o melhor de tudo, cantor sertanejo.
Não que eles sejam tão ricos assim, mas é que podem, mesmo com dor no dedo mindinho ou hemorroida, passando por infarto e espinhela caída, serem atendidos com pompa e circunstância, pelo presidente, diretor médico geral do Instituto do Coração ou Sírio Libanês.
Qualquer um destes, contando ainda com a periguetes que atuam em novelas ou BBB são atendidas nos hospitais brasileiros de ponta por uma equipe multidisciplinar formada do cozinheiro ao feliz proprietário, e se der até o ministro da Saúde aparece para tirar a pressão do paciente VIP.
Agora, vá um João-ninguém ser atendido no Hospital Salvador, com seu planozinho da Golden Cross. Se neste nosocômio do bairro da Federação, na capital Salvador, ele é visto como um incômodo merecedor de uns bons piparotes, uns telefones no pé do ouvido e uns chutes nas partes baixas, em São Paulo é colocado a correr com rebenque e embaixo de gargalhada dos funcionários:
– Hahahahah! Golden! Hahahaha! Senhor, assim o senhor me mata – diz a recepcionista quase tendo uma apoplexia.
Pois não é que estava uma dor danada embaixo da costela, nas entranhas da gordura e me mando para o Hospital Salvador já com o pedido de um ultrassom e atendimento clínico, pois acabara de passar numa clínica ortopédica achando que era distensão muscular e não era nada disso?
Na chegada à emergência do hospital já encontrei um bolo de gente se queixando que havia horas estava lá esperando atendimento. Interessante que uns já com aquelas roupas que são fechadas atrás e abertas na frente por onde entra um ventinho estranho.
Era um alarido só e no balcão de atendimento o rapaz nem deu boa tarde e já foi dizendo:
– Só temos médico clínico!
Por sorte – achei que era meu dia de sorte – era o que precisava e não contei conversa. Mandou que eu esperasse e fiquei ouvindo a conversa. Cheguei logo depois do meio dia e o povo estava lá fazia tempo.
Um desistiu e correu atrás de um médico particular para ver que dor de cabeça imensa era aquela que estava sentindo. Um rapaz e uma moça que estavam com a mãe disseram para a idosa que ficasse calma, pois, se tivesse de morrer, com o tempo de espera já estaria morta.
Ví enfermeira da Secretaria de Saúde da Bahia – Sesab, implorar para que os seus pacientes fossem atendidos, pois ela mesma já estava começando a sentir alguma coisa de tanta espera e foi quando alguém chegou depois de mim e perguntou que zona era aquela e quem era aquela malta esperando e alguém disse “é um povo da Sesab” e se quiser que esperasse.
Não entendi e nem perguntei. Esperei feito o cão. A médica, pelo menos, era uma gatinha e pediu os exames. Sentei e esperei, até o meio da tarde quando descobri que para fazer ultrassom no Hospital da Golden Cross é preciso disputar com todos aqueles que estão internados.
Fiquei tomando conta da vida dos outros, pois já havia um senhor antes de mim bem magro que esperava há tanto tempo que quase pergunto se havia chegado ali ainda em vida e se foi no século passado.
Então lembrei que a Golden Cross no século passado teve um péssimo passado (desculpe o trocadilho). Enrolou-se tanto no atendimento e na administração que sua imagem foi para o espaço e levou anos para conseguir voltar ao planetaà Terra. Voltou até com tesão. Mas, do jeito que vai pode afundar de novo.
Olhando a vida dos outros doentes não notei que minha dor passara sem atendimento nem nada. Agradeci à gentil enfermeira que me trazia uma injeção do tamanho do mundo e ao moço que viera colher sangue, assinei um termo de responsabilidade e me mandei.
Fui tomar um uísque para comemorar que a dor passara e de ter escapado do Hospital da Golden. Fui na clínica de um amigo que me atendeu pelo SUS. Vou esperar meu contrato terminar antes que eu me acabe.
É ouro? É cruz!