Alexandre Magno Abrão, o Chorão, nasceu em São Paulo, em 09 de abril de 1970. Foi cantor, compositor, cineasta, poeta, roteirista e empresário. Foi vocalista e principal letrista da Banda Charlie Brown Jr., foi o único integrante da banda a participar de todas formações. Junto com o Charlie Brown lançou dez discos e já venderam mais de cinco milhões de discos.
O apelido de Chorão veio quando ele estava vendo os amigos andando de skate, e um deles passou por ele e, para zombar dele, dizia “não chora!”, já que Chorão ainda não sabia andar. E nisso o apelido pegou. Teve uma infância e adolescência difíceis, a sua mãe era doméstica, fazia pastel, cozinhava pra fora pra ele ir entregar. Chorão vivia na rua, ia mal na escola, parou de estudar na sétima série, e frequentemente tinha problemas com a polícia. Foi encontrado morto em seu apartamento, em 06 de março de 2013, em São Paulo/SP, de causas ainda não reveladas.
“Corri vários anos nos campeonatos de skate e fui vice-campeão paulista. Vendia cartões de natal, fui auxiliar de câmera, caboman, iluminador. Minha mãe foi doméstica, fazia pastel, cozinhava pra fora e eu ia entregar. Quero que as pessoas me vejam como uma prova de que um sonho pode se tornar realidade, como a continuidade do sonho delas. Que digam: ‘se o cara conseguiu, sem estudo, sem muitas condições, eu posso conseguir também’, basta ter boas idéias e uma cabeça boa.”
Quando Chorão tinha onze anos, seus pais se separaram. Aos catorze anos, sua mãe teve um derrame e quase morreu. Foi nessa época que ele começou a andar de skate, uma das suas paixões. Em 2001, Chorão perdeu o pai. “Passei por várias dificuldades neste ano, desde financeiras…, eu perdi meu pai…, e você tem que tentar lidar com isso numa boa, até você aceitar rola uma mudança, uma metamorfose”. Chorão perdeu a motivação, recolheu-se em casa sem fazer nada, deixou a barba crescer e engordou 20 kg.
Na mesma manhã da morte de Chorão, o Delegado que atendeu a ocorrência, antes de qualquer perícia ou informações sobre a morte, declarou que “por enquanto, o principal suspeito é a droga.” Aqui. Logo em seguida, a ex-exposa de Chorão também respondeu à imprensa de que a causa morte teria sido a droga, esta “praga mundial”, em suas palavras. Acrescentou ainda que estavam separados por esta razão e que havia perdido a batalha para as drogas. Aqui.
Segundo os amigos, Chorão estava passando por um período de crise profunda, deprimido e lamentando a solidão. Há seis meses, Chorão havia se separado da esposa e, segundo uma parente, “faz um tempo que ele estava num processo de depressão muito profunda mesmo. Com o fim do casamento, que teria durado 15 anos, as coisas pioraram muito para ele.” Aqui. Corajoso, em um programa de televisão, Chorão lamentou o fim do casamento e confessou que ainda gostava muito da ex-mulher. Aqui.
Pois bem, segundo os amigos mais próximos, a crise de Chorão se aprofundou nos últimos dias e ele teria perambulado por hotéis da cidade, bebido e chorado cocaína. No fim, sozinho em um apartamento, Chorão bebeu, cheirou cocaína, bateu-se contra as paredes, machucou-se e, desistindo de tudo, morreu.
Pergunto, por fim, quem matou Chorão?
Não, Chorão não “morreu de drogas”, Chorão “morreu de vida”, morreu de sua história de vida, morreu da depressão, do abandono, da solidão, de lembranças, do amor mal resolvido…a vida, a vida matou Chorão.
Por fim, ao Delegado que disse ter sido a droga a causa da morte e a ex-esposa que teria “perdido a batalha para a droga”, faço minhas as palavras da mãe de Chorão em seu velório: “Respeitem meu sofrimento”! Aqui.
* Juiz de Direito (Ba), membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD) e do movimento Agentes da Lei contra a Proibição (Leap-Brasil).
Gerivaldo Neiva, membro da AJD e Leap-Brasil
www.gerivaldoneiva.com/
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