Ganhar um corpo sarado em um tempo recorde e reduzir a fadiga do treino. Essa é a meta de quem faz uso de anabolizantes. O que essas pessoas não sabem é que essas substâncias à base de esteroides causam um enorme dano à saúde em geral, especialmente ao fígado, coração e cérebro.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, e divulgada em 2010 pela Medicine & Science in Sports & Exercise, do American College of Sports Medicine, mostrou que usuários frequentes dessas substâncias apresentam um risco cinco vezes maior de ter acidente vascular cerebral, parada cardíaca ou morte súbita do que a população em geral.
Os testes realizados em pessoas que se declararam usuários regulares revelaram redução do colesterol bom (HDL) e o aumento do ruim (LDL) e dos níveis de pressão arterial, fator que aumenta o risco de entupimento dos vasos sanguíneos cerebrais e do coração.
O estudo mostrou ainda que quem faz uso constante dessas substâncias eleva a possibilidade de arritmias cardíacas (alterações do ritmo cardíaco), podendo levar até a morte súbita, além do desenvolvimento de câncer no fígado, peliose hepática (que são pústulas que sangram), comprometimento dos rins.
O especialista em morfologia com ênfase em anatomia da Universidade Estadual de São Paulo Carlos Alberto Anaruma lembra que quando o assunto é saúde, aliar a busca de resultados com a pressa nunca será uma boa alternativa. “Uma pessoa que se submete a um treino e uma alimentação equilibrada para buscar ganho de massa muscular, geralmente, alcança sua meta num espaço de tempo de dois anos, com o anabolizante, esse tempo cai para três meses, mas os efeitos danosos podem ficar no corpo para o resto da vida”, completa, ressaltando que o ganho progressivo de massa impacta de modo positivo à saúde.
Com uma postura parecida, o educador físico e especialista em Reabilitação Cardíaca e em Fisiologia do Exercício Tiago Ameno destaca que os novos conceitos para a preparação do corpo apostam numa atividade voltada para o bem-estar e a qualidade de vida, a chamada Wellness. “Esse novo conceito apaga o anterior, do Fitness, estreitamente vinculado ao desempenho e à estética”, esclarece.
Hormônios
Ameno ressalta que qualquer esteroide anabolizante causa em um organismo humano o que se chama e de “feedback negativo”, ou seja, o organismo deixa de fabricar o hormônio em sua forma natural porque percebe a entrada do mesmo hormônio, só que de forma sintética.
“Após um tempo, o hormônio sintético acaba (chamado de tempo de meia vida da droga ) e a produção natural é inexistente, causando uma queda significativa do metabolismo, libido, queda de força, diminuição da massa magra e elevando a possibilidade deste indivíduo fabricar mais células cancerígenas no futuro”, esclarece.
O educador explica que quando o uso é suspenso, há uma volta da fabricação hormonal natural masculina pelo corpo, mas sempre existe a possibilidade dos danos estarem instalados. “Além disso, pessoas que fazem uso de anabolizantes injetáveis aumentam o risco de se contaminarem com HIV e hepatite”, alerta.
Fígado
O hepatologista e pesquisador da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná lembra que o fígado é um órgão esponjoso, responsável por filtrar o sangue do organismo e que nesse processo, quando alguém faz uso desses hormônios, o fígado inevitavelmente sente os impactos.
“A peliose, por exemplo, é uma doença hepática vascular induzida por drogas diversas”, explica, pontuando que os anabolizantes sobrecarregam as funções do órgão, bloqueando a saída do sangue do fígado.
Os vasos sobrecarregados se rompem, provocando uma hemorragia. “A doença pode ainda se associar a uma cirrose, a ruptura espontânea do fígado e a presença de tumores”, diz o médico.
Na maioria das situações de peliose hepática, não há sintomas claros, em outros casos, porém, a doença evolui com icterícia(síndrome caracterizada pela coloração amarelada de pele e mucosas), aumento do fígado e insuficiência hepática, além de tumores.
Os esteroides androgênicos (anabolizantes), em especial os esteroides 17-alfa-alquilados, principalmente se utilizados acima de 40 ou 80 meses, são as drogas que mais frequentemente causam a peliose, mas além delas é comum observar o efeito das azatioprina, 6-tioguanina, cloridro de vinil e derivados do arsênico. Cerca de 75% dos casos ocorrem em homens de todas as idades, principalmente em adolescentes.
“Com o diagnóstico e a suspensão do uso dos anabolizantes, as lesões tendem a desaparecer”, finaliza o médico Raymundo Paraná.
Fonte: Correio