A imprensa brasileira regrediu a um patamar negativo de padronização. As redações parecem estar interligadas para fundamentar um modelo estético, linguístico, e, portanto, formador de sentido, com as mesmas características que as tornam análogas inclusive na maneira de sintetizar a informação e divulga-la. O telespectador, leitor ou ouvinte vê-se deparado a uma imprensa que parece ter várias identidades, mas que na verdade tem se transformado numa máquina incontrolável de emissão de noticias parecidas, cujo conteúdo opinativo/discutível é deixado de lado para a manutenção das notícias que virão a seguir. A imprensa que aparenta criar novos mecanismos de organização das informações é antes de tudo desprovida de identidade própria.
Os exemplos mais visíveis desta ausência de autenticidade e rejeição por parte dos públicos é o jornal, seja em sua versão televisiva, impressa ou online. A antiga metodologia do telejornal sobrevive graças à insistência de algumas emissoras em manter apáticos e imóveis os âncoras, desprovidos de qualquer possibilidade de expressar uma opinião ao vivo ou ao menos expô-la em suas falas, salvo algumas raras exceções. Os jornais impressos e suas vesões online contribuem para esta linearidade de discurso. Excluindo desta discussão o agendamento, que evidentemente dita quais notícias deverão circular pelos meios de comunicação, é possível perceber que a mesma notícia compõe diferentes manchetes e com os mesmos adjetivos e juízos de valores, quando expressados.
O exemplo de Ricardo Boechat, da TV Bandeirantes, é raridade na imprensa brasileira. O jornalista, por suas interferências pontuais no ritmo estagnado do telejornal, cria um impasse entre o padrão estabelecido e um novo caráter da notícia seguida de um adeno opinativo. Se os jornalistas são treinados durante sua passagem acadêmica para compreender os fatos e a partir destes produzir e formar opinião, por que os editores têm castrado, estirpado dos profissionais gabaritados o poder de expressão? Afinal o que se vê na imprensa brasileira hoje é um desfile de notícias que se tornam desinteressantes porque ninguém as discute.
O desinteresse do público
Não mais o tempo de duração faz com que um telejornal seja assistido ou imitado por outras emissoras. É necessário compreender que agindo desta maneira os diretores de jornalismo e chefes de redação, transformarão o seu produto em algo que somente interessa ao expectador ou leitor em partes. Não é raro perceber como as pessoas interpretam negativamente o telejornal; antes era evidente a certeza de que as noticias bastavam, mas hoje, o valor da opinião, sua credibilidade são aneios de quem necessita ver uma notícia por diversos ângulos e fundamentar seu juízo de valor a partir do que viu e ouviu.
As opiniões dissecadas anteriormente pela edição e impostas num telepromter, ainda assim, evidenciam uma mudança no sentido de condução dos jornais televisivos, mas ainda é muito pouco. Contra o esvaziamento das identidades na imprensa devem estar os jornalistas que prezam a liberdade de expressão, a formação de opinião, a discussão conjunta entre quem assite e quem transmite; não basta somente estruturar mesas de discussão nos canais de noticias da TV a cabo ou, aos jornais impressos, investir em convenções para discutir o jornalismo; a melhor maneira de atingir o público é pensar em divergir, mudar o roteiro, conceber novas formas de dar noticia. Ou até quando se suportará o desinteresse do público diante da opacidade identitária dos meios de comunicação no país?
Mailson Ramnos é bacharelando do curso de Comunicação Social | Relações Públicas pela UNEB, colunista do Observatório da Imprensa e administrador do blog Opinião & ComTexto.