A alta demanda por parte de empresas de pesquisa médica e de indústrias que fabricam aparatos cirúrgicos, além dos programas universitários de medicina, fez surgir um mercado curioso nos Estados Unidos: o de cadáveres.
Esses setores precisam de corpos para o trabalho com órgãos e tecidos humanos e continuarem desenvolvendo suas pesquisas. Antigamente, a fonte desse recurso eram doações em vida de pessoas que manifestavam o desejo de terem seus corpos contribuindo com a ciência após a morte.
Mas isso não dá conta da demanda. Com a oportunidade de negócio, surgiram empresas dedicadas à comercialização de tecidos humanos ou corpos. Uma equipe da BBC investigou o tema de perto.
Os jornalistas Galen Koch, Peter Lang-Stangton e Nick Farago descobriram que o setor tem mais de 20 dessas empresas nos Estados Unidos. E que apesar de se tratar de um negócio raro, essas companhias são legais. Eles explicaram como funciona o mercado em um documentário transmitido pelo Serviço Mundial de rádio da BBC chamado The resurrection men (“Os homens da ressurreição”).
Os três visitaram uma das empresas, chamada Research for Life, localizada em uma zona industrial de Phoenix, no Arizona. O gerente da empresa, Garland Shreves, explicou que se trata de um negócio familiar: ali trabalham 40 pessoas, entre elas sua esposa e seus filhos.
Segundo os jornalistas, a sede da Research for Life é um grande edifício, com escritórios “normais”. Shreves é descrito como um homem bem-humorado, sorridente e simpático, de 50 e tantos anos, que dirige uma van vermelha. O empresário conta que trabalhou na indústria funerária durante 36 anos antes de começar o novo empreendimento. “Alguns não gostam que nos chamem de ‘banco de tecidos’. A realidade é que se você vai a um banco normal, o que espera encontrar? Dinheiro? Pois se você vai a um banco de tecidos, encontrarás tecidos”, disse. Os órgãos e tecidos que a Research for Life” vende não são para transplantes.
Os tecidos retirados dos cadáveres são usados por profissionais médicos e cientistas, não só em universidades, mas também em outros centros de investigação científica. Shreves assegura que todos os corpos que eles recebem na empresa foram entregues de maneira voluntária. “As pessoas tomam a decisão de doar os cadáveres, não as forçamos. Ninguém rouba um corpo da sua tumba”, garante o empresário. Segundo ele, sua empresa tem guardado no momento cerca de 80 cadáveres.
Como trabalham
Após recolherem o corpo doado, eles o colocam em um frigorífico. E aí ele passa por uma série de exames de sangue (HIV, hepatite, tuberculose) e uma avaliação física para ver suas condições e que parte dele é possível vender.
Há muitas opções: pode-se vender o corpo inteiro ou algum membro específico. Às vezes, o pedido é de um corpo que tenha certa idade e que não tenha passado por operações cirúrgicas, por exemplo, conforme explica Shreves. A partir do pedido, um plano é feito para determinar o que será extraído. Os preços das partes do corpo variam muito.
Uma cabeça congelada custa US$ 500, um pé, US$ 200, um torso, entre US$ 1,5 mil e US$ 1,8 mil, um joelho, US$ 300, e uma mão, US$ 125. Shreves diz que um corpo completo pode ser vendido por entre US$ 2 mil a US$ 3 mil.
Nos Estados Unidos, é ilegal vender partes do corpo, mas essas empresas encontraram a maneira de fazer o negócio de forma legal: ela não cobram pelo corpo, e sim pelo serviço de fornecê-lo. As partes do cadáver que sobram são cremadas e as cinzas, entregues à família do defunto. Segundo o documentário, muitas famílias optam por doar o corpo para evitar os custos de cremação, que podem alcançar os US$ 2 mil.
G1.com