Fazia calor e a temperatura estava abafada. A tempestade chegou no meio da tarde, com ventos forte, trovões e raios. O céu escureceu e desabou uma chuva torrencial. Quando tudo serenou foi possível ver os estragos causados. Chamou a atenção uma figueira imensa que desabara: galhos retorcidos, troncos partido e as raízes expostas. Mas ao seu lado, um bambu, aparentemente frágil, continuava de pé. Algumas razões justificavam o fato, sobretudo a sobrevivência do bambu.
O bambu curvou-se na hora da tempestade. Teve a humildade de perceber as forças contrárias. Tinha também raízes profundas, que o sustentaram na hora difícil. Outra razão: a vara de bambu não estava sozinha, mas cercada de outras varas; a união criou forças. A ausência de galhos também ajudou. A força do vento – porque não encontrou resistência – não teve como pressionar. Uma última razão: como o bambu é oco, ele trata de criar, a cada 30 ou 40 centímetros alguns nós, que se tornam segurança.
A tempestade mostrou o contraste: o que parecia forte mostrou-se frágil, enquanto a aparente fragilidade do bambu enfrentou e sobreviveu a forças poderosas. A experiência do dia-a-dia revela como isso se repete com pessoas e instituições. A auto-suficiência da figueira selvagem desabou, enquanto o bambu, aparentemente muito frágil, resistiu.
Essas razões precisam ser levadas em conta na educação e na elaboração de um projeto pessoal de vida. O orgulho não leva a nada, mas a verdade nos torna livre. Sabendo de suas limitações, o bambu tratou de se adaptar à realidade. Num processo – penoso e longo – foi criando raízes profundas (convicções) que pudessem resistir na hora da crise. A sabedoria popular garante que povo unido, jamais será vencido.
A natureza nos ensina a força das coisas fracas. Uma persistente gota de água acaba destruindo sólidas construções. Uma frágil raiz descobre uma brecha num muro. Um enxame de mosquitos leva ao desespero um enorme elefante. Uma pequena semente vence a noite, o frio, a terra, se abre para a vida.
O mestre Jesus sempre esteve ao lado dos pequenos, pobres e pecadores. No entanto, teve palavras duras para os auto-suficientes fariseus e doutores da lei. Esses acabaram confundidos, enquanto os outros – excluídos – foram exaltados. Ele explicou que os “últimos ocupariam os primeiros lugares, mas os primeiros seriam últimos” (Mt 20,16).
+ Itamar Vian – Arcebispo Emérito