Acusada de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa pela força-tarefa da Lava-Jato no Rio, a ex-primeira-dama do Rio de Janeiro Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador Sérgio Cabral, se apresentou na tarde desta terça-feira na 7ª Vara Federal do Rio, onde corre o processo contra ela e o marido. A advogada teve o mandado de prisão preventiva expedido pelo juiz Marcelo Bretas. Também nesta terça-feira, Cabral, Adriana e mais 11 pessoas viraram réus na Lava-Jato. ESPECIAL: Contratos suspeitos e lavagem por meio de joias levaram Adriana à prisão
Adriana Ancelmo chegou ao prédio da Justiça Federal no centro do Rio, por volta das 17h, com quatro advogados em seu própio carro, uma Land Rover Discovery preta. O cumprimento do mandado de prisão de Adriana acontece 19 dias após a do marido Sérgio Cabral, apontado como líder do grupo que desviou ao menos R$ 224 milhões em obras com diversas empreiteiras como a reforma do Maracanã e o Arco Metropoliltano, em troca de aditivos em contratos públicos e incentivos fiscais.
Depois de procurar por Adriana no escritório dela no centro do Rio, a Polícia Federal foi à casa dela no Leblon. Muitos curiosos se aglomeraram nas proximidades do edifício, com celulares em mãos para documentar a prisão. Quando os policiais deslocaram o carro, e o porteiro fechou a porta da garagem, os curiosos começaram a vaiar, porque querem documentar a prisão. Muitos gritam “ladra” e”chegou a sua hora”.
Entre os principais motivos para que a Justiça Federal aceitasse um novo pedido de prisão contra a advogada pelo Ministério Público — dois anteriores já haviam sido negados — estão contratos do escritório Ancelmo Advogados com empresas que receberam durante a gestão Cabral benefícios fiscais do governo fluminense e a suspeita de que ela estaria dando prosseguimento às práticas de corrupção e lavagem de dinheiro uma vez que não teria entregue todas as joias compradas pelo casal aos investigadores.
“A requerida, advogada de grande prestígio no meio forense, não está sendo investigada pela prática de atos que ela teria cometido no exercício de função pública, e sim por participar de uma grande Organização Criminosa que, como apontam as investigações, teria se instalado na sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, a partir do então Governador do Estado Sérgio Cabral, seu marido”, diz trecho da decisão do magistrado (leia a íntegra).
O escritório de Adriana Ancelmo arrecadou, em contratos com 40 clientes nos últimos oito anos (2008-2015), conforme dados obtidos pelo GLOBO, R$ 78 milhões. Os investigadores suspeitam de uma conexão entre os bilionários benefícios fiscais concedidos pelo governo Cabral — cerca de R$ 140 bilhões em renúncia entre 2008 e 2013 — e estes contratos. Figuram na lista de clientes da ex-primeira-dama a Telemar, a CSN, a Light, a Reginaves, o Metrô, a Brasken e a Unimed, entre outras favorecidas pelos benefícios.
Um dia após a prisão de Cabral, o GLOBO revelou que dos dez maiores contratos do escritório Ancelmo Advogados, da mulher do ex-governador Sérgio Cabral, nos últimos oito anos (2008-2015), sete foram celebrados com empresas que receberam no mesmo período benefícios fiscais do governo fluminense. Dados obtidos pelo GLOBO, que teve acesso a todos os contratos assinados pelo escritório neste tempo, demonstram que R$ 27,33 milhões derivam dos sete contratos com empresas contempladas, que, juntas, receberam quase R$ 4 bi em isenções.
O esquema com empreiteiras bancou uma vida de luxo para Cabral, Adriana e outros envolvidos. O dinheiro de propina pagou viagens internacionais, idas a restaurantes sofisticados, uso de lanchas e helicópteros e compras de joias.
O Globo